CRISE NO ABASTECIMENTO: A DEMANDA É MAIOR QUE A OFERTA

POR GERVASIO TANABE, Presidente executivo da Associação Brasileira de Agência de Viagens Corporativas (ABRACORP)

A economia está prestes a fechar seus primeiros seis meses contínuos pós-pandemia e o copo continua meio cheio e meio vazio. O setor de viagens corporativas pode ser um bom termômetro do que foi superado e ainda o que está por vir.
O recente estudo elaborado pela Associação Brasileira de Agência de Viagens Corporativas (ABRACORP) demonstrou que o faturamento de maio deste ano chega R$ R$ 1,093 bilhão, abaixo apenas 2,4% do mesmo período de 2019. A manter esse ritmo, o setor deve fechar com um faturamento 20% maior do que o ano de 2019, período ainda pré-pandemia.
Por dentro, esses números ainda demonstram algumas fragilidades, das quais duas são destaques: o primeiro é que o faturamento é impactado, principalmente pela alta de insumos críticos como os combustíveis e pela inflação do setor, visto que o número de viajantes é ainda inferior ao de 2019. É visível, entretanto que as viagens estão retomando, basta ver os eventos corporativos que pipocam pelo Brasil inteiro e a melhora da ocupação hoteleira nas grandes capitais corporativas. O outro é que o resultado das agências corporativas ainda não acompanha os ganhos gerais, devido à elevação dos custos operacionais.
Agora começamos a olhar o copo meio vazio. O mercado de viagens corporativas – e outros tantos – começou a reagir de forma rápida e um dos problemas ocasionados foi o desequilíbrio entre demanda e oferta. Especialistas já previam, mais ao final de 2021, que a retomada econômica traria junto uma forte crise de abastecimento, incluindo mão de obra. E é exatamente o que o setor de viagens corporativas está enfrentando. Nem tudo é na internet, como alguns previam, na plena pandemia, para quem tudo iria ser diferente.
O turismo já apontava retomada ainda em 2021 e, mês a mês, isso veio se consolidando até o início de 2022, já com muitos setores faturando mais do que 2019. Ocorre que existe um sério problema na cadeia produtiva desses bens e serviços e exemplos não faltam. Basta ver a indústria aérea, onde o impacto da falta de mão de obra para atender as companhias tem causado verdadeiro caos nos aeroportos mundo afora.
Seguindo uma analogia das fábricas paradas, agências tiveram que dispensar funcionários no auge da crise pandêmica, pois as viagens pararam totalmente, demorando sua retomada. E hoje não se consegue recuperar essa mão de obra na mesma velocidade do atendimento exigido pelo cliente, diga-se, não se preocupa muito com isso, não abrindo mão de SLA´s do pré pandemia. Embora esse mesmo cliente não esteja, muitas vezes, entregando seus produtos ao consumidor com os mesmos prazos da pré-pandemia.
Um consultor de viagens ou um consultor de eventos, por exemplo, não é mão de obra que se prepara em alguns dias. E o estoque de mão de obra está baixíssimo. Isso tudo acaba impactando na vida corporativa e até em nossa vida pessoal cotidiana.
A cadeia de suprimentos e de serviços está travada, não existindo estoques, a produção segue para atender uma demanda altamente reprimida e a conclusão é essa: uma simples bateria de um notebook levando 3 meses para ser entregue. Nos moldes da produção por demanda, a produção deveria adequar-se a essa demanda, mas o pequeno detalhe é que demanda veio como uma avalanche, causando o caos que enfrentamos hoje.
Não resta outra alternativa senão paciência até que essa cadeia retome os padrões de produção. Não é o caso de desesperar-se e substituir o fornecedor, por esse motivo. A crise de abastecimento é global, não é setorial e local.

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