Uso de plástico nos resosrts do Brasil na era covid-19: garrafas PET recolhidas no mar

Plástico é a nova obsessão dos resorts no Brasil na era covid-19

O turismo nacional está recomeçando lentamente e já dá para perceber que plástico descartável por toda a parte é a nova obsessão dos resorts no Brasil na era covid-19. Nas últimas semanas assisti a vídeos mostrando toalhas, tapetes de banheiro e papel higiênico envelopados um a um e até amenidades e garrafas de plástico embrulhadas em… plástico. É como se o material tivesse um poder sobrenatural de garantir que um objeto não está contaminado pelo novo coronavírus.

O apego desmedido ao plástico não faz sentido do ponto de vista da ciência. Nem do bom senso. Como garantir que o filme de PVC que embala a garrafa não está contaminado? Plástico tem um grande impacto na poluição marinha e o setor de hospitalidade precisa reduzir o uso e cuidar do descarte adequado. É fundamental que hóspedes e agentes de viagem cobrem novos protocolos não apenas de biossegurança mas também de sustentabilidade. Afinal, turismo sustentável começa pelas escolhas que cada um faz.

Algumas pessoas que já voltaram a viajar me disseram que se sentem mais seguras em um mundo embalado a plástico. Entendo a sensação, afinal é um material fácil de limpar. Porém, de um modo geral, contágio por superfície é evitado mantendo mãos limpas, seja com água e sabão ou com álcool 70%. O hóspede assintomático na piscina ou no restaurante pode ser vetor de transmissão do novo coronavírus. Já embalagens de amenidades ou de bebidas em alumínio, plástico e vidro são facilmente laváveis com água e sabão caso o cliente desconfie da higiene do quarto.

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Leia mais: É seguro usar de piscina de hotel durante uma pandemia?

Plástico é a nova obsessão dos resosrts do Brasil em tempos de covid-19: piscina de hotel brasileiro pré-pandemia
Piscina de hotel brasileiro pré-pandemia | Foto de Carla Lencastre

As insustentáveis luvinhas Do bufê self-service

Há excesso de plástico também no bufê de refeições de self-service dos resorts, atividade classificada como de alto risco na pandemia e que muitos hotéis insistem em manter. Além de ser cada vez menos justificável a exaltação ao desperdício de comida, os bufês agora fazem uma elegia ao plástico de uso único. Os talheres são embalados, às vezes um a um, e os hóspedes recebem luvas descartáveis cada vez que vão se servir.

Quando o bufê é assistido, com funcionários servindo, o uso de plástico diminui. Vale ressaltar que talheres envelopados em plástico chegaram a hotéis que oferecem apenas serviço à la carte. É um problema ambiental gigantesco criado pela hotelaria, e ainda não encontrei um empreendimento brasileiro que deixe claro como pretende descartar a novidade.

Leia mais: Como ficam os bufês de hotel em tempos de covid-19

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O que diz a Resorts Brasil

Passei algumas semanas observando nas redes sociais fotos e vídeos de hóspedes de resorts que fazem parte da Associação Brasileira de Resorts. Dos 52 hotéis associados, 51 estão funcionando (o 52º é o Ocean Palace, em Natal, com reabertura marcada para o próximo dia 30). A Resorts Brasil tem em seu site um Guia para o Viajante Responsável, feito em parceria com 27 (!) entidades, e detalhados protocolos para os hoteleiros.

Leia mais: Os desafios da retomada do turismo no Estado do Rio

Na cartilha com procedimentos de higiene e segurança, validados pela Anvisa e por sete associações, não há nenhuma orientação sobre plástico descartável. No caso dos bufês, a recomendação é que o serviço seja assistido, com estações de alimento protegidas por acrílico e funcionários servindo os hóspedes. Para os frigobares, a orientação é abastecer sob demanda ou higienizar cada item individualmente entre um hóspede e outro. Um dos itens do manual destaca o uso de canais de comunicação digitais para informar sobre protocolos de segurança, o que a maioria dos hotéis brasileiros ainda não faz mesmo depois de seis meses de pandemia.

Já no guia do viajante o texto até chama a atenção para o uso excessivo de plástico, lembrando da importância de se evitar consumir produtos em embalagens plásticas, e orienta sobre o descarte de máscaras, que não podem ser misturadas com lixo reciclável. Sustentabilidade aparece como uma prioridade em um dos três eixos de atuação da associação e há um grupo de trabalho dedicado ao tema. Mas nenhuma informação sobre como lidar com a overdose de plástico de uso único gerada pela pandemia.

Mesmo resorts que têm em seus sites páginas dedicadas a promover medidas sustentáveis de verdade, como o uso de energia 100% limpa e ações de impacto voltadas para as comunidades locais, não fazem menção às medidas de redução do plástico ou ao descarte.

Leia mais: O que realmente mudou nos hotéis em sete meses de pandemia

‘Plástico é medida cosmética’

Conversei sobre o uso indiscriminado do plástico na hotelaria nacional com a jornalista Ana Lucia Azevedo, há mais de três décadas especializada em ciência e saúde. Com vários prêmios na área, ela está cobrindo a pandemia para o jornal O Globo. Ao longo de seis meses entrevistou muitos especialistas sobre o novo coronavírus. “Embalar produtos em plástico é medida de efeito cosmético no que diz respeito à covid-19 e potencialmente poluente. Ao abrir o plástico, o cliente se exporá da mesma forma ao novo coronavírus. O importante é garantir a higienização. O aumento do consumo de plástico impacta os oceanos, que já sofrem com uma poluição sem precedente, comprometendo a qualidade da água e mata animais”.

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Plástico pode, e deve, ser substituído

Semana passada, saí pela primeira vez para ir almoçar fora na pandemia. Escolhi o Arp, agora com mesas ao ar livre no calçadão do Arpoador. É um dos meus restaurantes de hotel preferidos no Rio de Janeiro, onde moro. O cliente recebe em embalagens de papel álcool em gel 70% e um envelope para guardar a máscara. Talheres e guardanapos chegam em embalagens de papel. É possível trilhar bons caminhos em meio a pandemia.

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Recreação infantil na hotelaria durante a pandemia

Temos mostrado aqui, toda semana, o quanto a hotelaria mudou nestes últimos seis meses. Em tempos de Covid-19 e da necessidade de distanciamento social, o mundo mudou e os turistas também estão mudando, é claro. Mudanças culturais importantes estão acontecendo nos hotéis e também mudou a forma como muitos viajantes encaram a recreação infantil na hotelaria durante a pandemia. 

Sabemos que parte do grande atrativo de hotéis-fazenda e resorts focados em famílias sempre foi a recreação infantil. Brincadeiras realizadas em grupo, com monitores eram sinônimo de sossego absoluto para os pais. Mas hoje alguns pais se assumem cheios de questionamentos sobre a segurança da retomada destas atividades. E uma parte significativa ainda não tem coragem de deixar os filhos participarem das mesmas.

Na prática, as propriedades hoteleiras no Brasil que já retomaram suas atividades estão trabalhando o entretenimento dos hóspedes seguindo seus protocolos de saúde e segurança, mas de maneira muitas vezes diferente entre si, gerando certa confusão em turistas que já frequentaram mais de um hotel ou resort na pandemia.

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Foto: Mavsa/Divulgação

Como a recreação infantil está funcionando em geral

Além do óbvio distanciamento social obrigatório em áreas de lazer (como piscinas), existem hoje diferentes normas no funcionamento da recreação infantil na hotelaria brasileira durante a pandemia. 

Há pousadas, hotéis e resorts que ainda mantém parte do seu espaço comum destinado a esse fim e do seu serviço de recreação infantil suspensos por enquanto, até que os mesmos estejam realmente adequados de forma segura para esses novos tempos. Outros estabelecimentos modificaram o serviço de monitoria infantil oferecido, investindo em atividades recreativas pontuais, com menos participantes, e com atenção redobrada à higiene pessoal dos pequenos. 

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A maioria das atividades agora acontece em locais ao ar livre (na ausência de chuvas, é claro), dividindo as crianças em grupos menores. Monitores estão sempre com máscaras e geralmente “armados” com frascos de álcool gel como parte do uniforme, aplicando o produto frequentemente não apenas nos pequenos como em si mesmos ao longo das atividades.

Apesar da existência de um cronograma de atividades diárias nestes hotéis e resorts durante a pandemia, os pais passam a ser coadjuvantes importantíssimos em boa parte das atividades recreativas. As crianças agora, por exemplo, passam a ser geralmente entregues de volta aos pais tanto para brincar na piscina (ou demais atividades aquáticas) quanto na hora das refeições, numa tentativa de garantir maior segurança e controle de higiene e distanciamento social entre elas nestas horas.

“Os hotéis estão todos seguindo seus protocolos. É bom lembrar que a segurança depende muito também da postura do hóspede. É preciso que quem decidir viajar agora esteja sempre muito atento e disposto a seguir todas as regras estabelecidas”, diz a jornalista Tarcila Ferro, editora-chefe da revista Viajar pelo Mundo, que tem viajado com os filhos pequenos nos últimos meses.

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Dúvidas sobre segurança ainda são comuns

Com tantas novas regras, diferentes protocolos e a necessidade de seguir mantendo o distanciamento social para frear os avanços do novo coronavírus na retomada do turismo, nem todos os pais já se sentem seguros o suficiente para deixar os pequenos participarem das atividades recreativas em grupo dos hotéis.

A jornalista Tarcila Ferro esteve recentemente com a família em quatro resorts diferentes no país – Tauá Atibaia, Mavsa Resort, Santa Clara Eco Resort e Malai Manso – e faz parte desse grupo mais ressabiado. “Crianças menores querem contato, não entendem o distanciamento social. Por mais que monitores marquem o chão ou usem bambolês para tentar manter a distância entre elas nas atividades, elas baixam as máscaras assim que começam a correr, tocam umas nas outras, é muito complicado”, diz.

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Tarcila conta que as escapadas foram proveitosas mesmo assim, sem a socialização das crianças. “Queríamos viajar, mas manter nosso distanciamento social. Meus filhos também não fizeram questão da recreação, estavam mais interessados em curtir a piscina”, explica.

Espaços fechados dedicados a crianças e adolescentes em hotéis, pousadas e resorts brasileiros andam com funcionamento bastante variável. As brinquedotecas do Malai Manso, do Mavsa Resort e do Tauá Atibaia, citados aqui, seguem fechadas e sem previsão de reabertura. No Santa Clara Eco Resort, por outro lado, a brinquedoteca já está funcionando, com número limitado de crianças permitidas por vez. 

Há propriedades, como o Pratagy Beach Resort, em Maceió, que criaram também grupos de Whatsapp para os pais ou responsáveis pelas crianças participantes das atividades propostas pelo Kids Club Pratagy durante a hospedagem. A ideia é, mantendo-os informados o tempo todo sobre o que as crianças estão fazendo e como cada atividade seguinte vai ser executada, tentar tranquiliza-los e fazer com que todos aproveitem melhor a estadia no hotel.

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A onda do homeschooling

Na pandemia, com tanta gente em trabalho remoto, a indústria hoteleira internacional já vinha desde julho falando em “resort office“. Muitos hotéis criaram também o conceito de room office. Afinal, não apenas as atividades específicas de recreação infantil na hotelaria durante a pandemia estão atraindo a atenção de quem viaja em família. 

A tendência de adaptar hotéis para home office e homeschooling começou no exterior, com o verão no hemisfério norte. Até mesmo hotéis não necessariamente focados em famílias perceberam rapidamente que existia ali um filão importante para tentar aumentar seus índices de ocupação durante a semana. 

É o caso, por exemplo, do hotel boutique Esencia, na Riviera Maya, México, que foi ainda mais longe: incluiu nas diárias não apenas a estrutura para homeschooling e home office no hotel, como contratou staff exclusivamente dedicado para assessorar as crianças e adolescentes no EAD por até cinco horas diárias – enquanto os pais descansam ou fazem home office nas dependências do hotel.

Muitos hotéis e resorts brasileiros finalmente começaram a abrir os olhos para essa tendência também neste segundo semestre, como o Royal Palm Plaza, em Campinas, SP, que criou programas focados nisso.

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Crédito: Accor/Divulgação

Estruturas adaptadas para pais e filhos

Algumas propriedades estão transformando sua estrutura para negócios e convenções, totalmente ociosa desde o começo da pandemia, em espaços comunitários de trabalho e estudo com o devido distanciamento social. 

Assim, pais podem aproveitar a estrutura caprichada do local – ar condicionado, mobiliário adequado para trabalho e internet de alta qualidade, por exemplo – para conciliar as necessárias horas de home office e escola durante a semana com o conforto das demais instalações do hotel, o prazer de um mergulho na piscina no final do dia ou qualquer outra atividade de lazer segura oferecida. 

Tarcila testou também o sistema oferecido agora pelo resort Tauá Atibaia, que criou espaços de co-work com três mesas distantes uma das outras em cada sala de eventos. “É bem melhor que trabalhar no quarto, sem dúvidas. Iluminação muito melhor, internet de ótima qualidade, sem a televisão ligada das crianças”, conta Tarcila. 

O serviço de homeschooling oferecido pelo hotel também funciona com três mesas para três crianças por sala, adaptadas para crianças e adolescentes de diferentes idades. “Acho que funciona melhor para crianças maiores e para adolescentes, que têm mais disciplina e se dispersam menos durante o estudo ali”, observa Tarcila. O resort oferece nestes espaços sucos, água e lanchinhos (como pão de queijo e sanduíche natural) sem custos para os hóspedes.  

Mais hotéis e resorts brasileiros devem passar a oferecer opções para home office e homeschooling no próximo mês. Vale ficar de olho.

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Bufê de café da manhã de hotel na pandemia | Foto de divulgação

O que mudou no bufê de café da manhã de hotel na pandemia

Comida exposta por horas. Talheres de servir compartilhados. Comensais andando e parando em frente a todos os pratos, ou quase todos, e conversando. Fila. Aquele que muda de ideia e volta algumas travessas, passando por quem está se servindo. Réchauds abertos e fechados quantas vezes a dúvida impulsionar. O bufê de café da manhã de hotel morreu na pandemia. Vida longa ao bufê de café da manhã de hotel na pandemia.

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Nem a covid-19 foi capaz de deter este impávido clássico na hotelaria nacional. Uma tabela elaborada por epidemiologistas, infectologistas e especialistas em saúde pública da Associação Médica do Texas (TMA, na sigla em inglês) listou os riscos de contágio de diversas atividades em níveis vão de 1 (baixo risco) a 9. Comer em bufê está no nível 8, de alto risco. É uma atividade apenas menos arriscada do que ir a um show, evento esportivo ou culto religioso com mais de 500 pessoas. A classificação levou em conta que todos estariam usando máscaras, lavando as mãos com frequência e mantendo distanciamento social.

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Higiene X sustentabilidade

Como no caso da piscina de hotel, em que nada indica que a água clorada seja transmissora do novo coronavírus, nos bufês self-service o problema não é a comida. São as pessoas e o entorno.

Com a flexibilização das medidas restritivas em todo o país surgiram vídeos de hotéis com piscinas e bufês self-service repletos de destemidos aglomerados. Em imagens de outros resorts nota-se o uso surreal de plástico descartável em nome de higienizar o bufê, com talheres embalados, luvas para os hóspedes e até frutas com cascas embrulhadas em filme PVC. Com um agravante: os hotéis não deixam claro como descartam o material. O plástico de uso único é um dos maiores vilões da poluição dos oceanos e o setor de hospitalidade tem responsabilidade nisso.

Leia também: Plástico é obsessão dos resorts brasileiros na era covid-19

Pequenas porções à mesa na pousada Solar da Ponte, em Tiradentes | Foto de Carla Lencastre
Minibufê à mesa na pousada Solar da Ponte, em Tiradentes | Foto de Carla Lencastre

alternativas ao serviço de bufê

A área de alimentos e bebidas é responsável por parte significativa do custo operacional de um hotel. Hoje protocolos devem ser ainda mais rigorosos, incluindo os seguidos pelos fornecedores. Afinal, de nada adianta ter todas as precauções na manipulação de alimentos se o fornecedor não fizer o mesmo. O custo final de uma refeição à la carte é mais caro do que em um bufê, e isto também tem que ser levado em conta nesta complicada fase da hotelaria.

Há caminhos do meio que estão sendo seguidos por alguns resorts, como o dos bufês híbridos. No Club Med, com suas três unidades no Brasil reabertas, o bufê é assistido. Ou seja, funcionários com equipamento de proteção individual montam os pratos dos hóspedes, que não encostam nos utensílios nem nas máquinas de café, por exemplo. Com a equipe a postos também é mais simples garantir que nenhum hóspede será servido se não estiver usando máscara e que o distanciamento social será respeitado. Em outros hotéis, como já acontecia antes, o bufê tem itens em porções individuais, enquanto outros são pedidos à la carte. Há ainda uma espécie de minibufê servido à mesa, com pequenas porções de diferentes pratos.

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Minibufê no ecolodge Mirante do Gavião | Foto de Carla Lencastre
Minibufê no ecolodge Mirante do Gavião, na Amazônia | Foto de Carla Lencastre
O Papel de cada um

Faço a ressalva de que nunca fui fã de bufês, por razões de gosto pessoal e, principalmente, por conta do imenso desperdício de alimentos. Mas reconheço que um bom bufê de hotel tem o seu apelo e pode ser uma experiência em si. Como em tudo nesta delicada fase pela qual a hotelaria está passando, fica mais fácil se cada um fizer a sua parte.

Ao hoteleiro que optar por manter o bufê à moda pré-pandemia cabe detalhar as medidas de biossegurança e de sustentabilidade. Não apenas em relação ao descarte de plástico, mas também ao desperdício de comida. Ao hóspede e ao agente de viagens que oferece o hotel ao cliente cabem cobrar informações claras sobre higienização, controle de ocupação de espaço, distanciamento social e cuidados com o meio ambiente. E sempre seguir as regras. A revista Panrotas fez uma reportagem com 15 perguntas que se deve fazer antes do check-in no hotel. Conferir as adaptações no setor de alimentação é uma delas.

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Bufê de café da manhã de hotel brasileiro à moda pré-pandemia | Foto de Carla Lencastre
Bufê de café da manhã de hotel brasileiro pré-pandemia | Foto de Carla Lencastre

Enquanto isso em las vegas…

Bufê de café da manhã de hotel é tradição brasileira, mas não é exclusividade. Há bufês de diferentes estilos em todos os continentes, e a origem histórica deste tipo de serviço está na Europa. Mas foi em Las Vegas, na década de 1940 que nasceu o conceito de bufê americano moderno, o all-you-can-eat. Ou coma o quanto aguentar. No café, no almoço e no jantar.

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O Buffet at Wynn foi um dos primeiros da Strip (o Las Vegas Boulevard, onde estão os principais cassinos da cidade) a retomar as atividades, em meados de junho. O cliente fazia o pedido a um garçom, e o prato era trazido à mesa. O bufê-que-não-era-bufê fechou de novo menos de três meses depois, sem previsão de reabertura. Já o Caesars Palace pretendia reabrir o Bacchanal Buffet, com 600 lugares, em agosto. Pequenos pratos previamente montados seriam entregues por funcionários e vários itens seriam servidos diretamente nas mesas. A reabertura foi adiada para o fim do ano.

Atualização: Em meados de setembro de 2020 o Wynn Las Vegas anunciou que 548 funcionários testaram positivo para covid-19. Todos eram assintomáticos. Desde junho o Wynn já recebeu mais de 500 mil hóspedes.

E no Brasil, onde você aposta as suas fichas? Encontraremos alternativas mais seguras? Ou o bufê self-service de hotel e de restaurantes de comida a quilo seguirão como na era pré-Covid-19?

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Revolução cultural da hotelaria em tempos de coronavírus

Na última década, a hotelaria em geral passou a investir cada vez mais nos seus espaços sociais. Grandes redes como Marriott e Hilton adotaram o termo “social hub” para descrever seus lobbies e espaços públicos anexos. Mas, hoje, há uma verdadeira revolução cultural ocorrendo nestes espaços da hotelaria em tempos de coronavírus e da necessidade de distanciamento social.

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Já tem um tempo que a gente considera um lobby de hotel ideal quando tem um certo jeito vibrante, gente indo e vindo, preferencialmente com um bar anexo cheio de locais, peças de design ou obras de arte de impacto aqui e ali.

Lobbies opulentos em hotéis clássicos sempre funcionaram como locais de reunião profissionais e pessoais de moradores também – veja exemplos clássicos como as Galeries do Four Seasons George V em Paris, o lobby do St Regis DC em Washington, do incrível Mandarin Oriental Bangkok ou mesmo do hoje já quase decadente Alvear Palace Hotel, em Buenos Aires.

Mas na última década houve um verdadeiro boom – iniciado em grande parte por hotéis boutique e/ou independentes – em reativar o lobby e outros espaços comuns dos hotéis como uma verdadeira sala de estar para hóspedes e locais. 

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Crédito: Divulgação

Uma nova fase para os chamados “social hubs”

Hotéis de todos os tipos e tamanhos passaram a oferecer cada vez mais opções de socialização em seus espaços públicos, misturando geralmente alimentos e bebidas, conectividade, ócio e lazer tudo num mesmo espaço. Virou cena corriqueira ver grupos de amigos festejando em mesas altas de bar e gente trabalhando sozinha em seu computador em uma poltrona praticamente lado a lado.

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E a iniciativa vinha dando muito certo, fosse nos espaços descolados de grandes marcas como W Hotels ou mesmo espaços diminutos em pequenas pousadas.  Criar espaços nos quais hóspedes pudessem se reunir com amigos e família e permanecer no hotel fora dos seus quartos se tornou uma norma, e vinha realmente fazendo sucesso.

Mas a pandemia do novo coronavírus e todas as necessidades de limpeza e distanciamento social que vieram com ela começaram rapidamente a promover uma espécie de revolução cultural da hotelaria em seus espaços públicos. Projetados para interação social, hoje a maioria dos lobbies em hotéis de diferentes tamanhos refletem enormemente a necessidade dos dois metros de distanciamento entre hóspedes: menos móveis, menos objetos, minimalismo exacerbado, necessidade de “emanar” limpeza o tempo todo. 

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Foto: Mari Campos

Cada vez menos contato

Da maioria das pousadas brasileiras aos hotéis de grandes redes, a nova disposição de móveis (com muito menos deles no recinto) virou norma – além de menos arranjos de flores e objetos de decoração também. Via de regra, tudo que não pode ser facilmente desinfectado foi confinado aos porões, longe da vista dos hóspedes. A própria limpeza dos espaços públicos, aliás, que geralmente era feita à noite, longe dos olhos dos hóspedes, agora é geralmente feita à luz do dia, já que as indicações visuais de higiene se tornaram hoje mais importantes do que nunca. 

Veja dez hotéis no Brasil para praticar turismo de isolamento

Soluções tecnológicas necessárias, como check-in e check out online, contato com o staff via app e outras iniciativas “contactless” que ganharam força nos últimos meses, também vêm evitando que hóspedes sequer tenham que passar por esses espaços. 

E espaços antes vibrantes ou aconchegantes estão se tornando rapidamente cada vez menos convidativos. Salões que conservam ainda poltronas, puffs e sofás estão geralmente adotando elementos visuais (como almofadas, cartazes ou até objetos bem humorados) para sinalizar onde o hóspede pode ou não ficar. Hoje, mais do que nunca, se não houver grandes espaços externos, o hóspede está passando a maior parte do seu tempo no hotel dentro do próprio quarto (muitas vezes, desde o café da manhã). 

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Revolução ainda maior no setor de pousadas e bed&breakfasts

Em muitas pousadas brasileiras está acontecendo o mesmo fenômeno porque passam os bed&breakfast europeus, em uma revolução cultural da hotelaria em tempos de coronavírus ainda mais complicada, já que afeta a própria natureza do negócio. Afinal, este tipo de propriedade sempre prezou justamente pelo aconchego, pela fácil interação entre os hóspedes e, principalmente, pela interação constante entre eles, staff e proprietários no cotidiano da hospedagem.

Mesas antes próximas para o café da manhã agora estão muito afastadas e a maioria dos hóspedes está tomando o café no seu próprio quarto. Salas de leitura cheias de livros e revistas para folhear despretensiosamente enquanto a gente tomava um chá ou café à tardinha também já são muito mais raras – e definitivamente menos frequentadas. 

Veja também: como o setor de alimentos e bebidas pode ajudar na recuperação da hotelaria

Para muitos negócios, a revolução cultural trazida pelos tempos do novo coronavírus vem significando mudanças importantes em ambientes que fazem parte da própria identidade da propriedade. Os pratos com bolos e potes com biscoito para livre serviço durante a tarde nos salões sumiram ou deram lugar a pedaços embalados individualmente para que o hóspede pegue o seu e vá comer no quarto ou no jardim. 

O bate-papo gostoso com os donos da pousada durante o serviço do café está sumindo devagarinho, seja pela ausência de hóspedes para o serviço no salão ou pela necessidade dos donos prestarem atenção em tantos protocolos durante o serviço que fica complicado relaxar e conversar. Mas, felizmente em muitos casos, esse bate-papo que é também a alma das nossas pousadas está sendo transferido para os jardins e demais áreas externas das propriedades, nos quais o distanciamento social pode ser mantido sem problemas. 

LEIA também: Como as pousadas brasileiras se prepararam para a retomada do turismo durante a pandemia

Ressignificando aconchego e socialização

A exigência de oferecer menos quartos disponíveis também ajuda nesse sentido, já que favorece naturalmente o distanciamento entre hóspedes. Pousadas e pequenos hotéis também costumam já ter um staff muito mais reduzido, e que hoje em dia se desdobra mais do que nunca em diferentes funções e cuidados. 

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Mas a calidez entre hóspedes e donos e staff neste tipo de estabelecimento é sua marca registrada e é preciso “manter essa chama acesa”. O desafio de manter a personalidade de uma propriedade sem sacrificar de nenhuma maneira a segurança dos hóspedes e funcionários nestes tempos é imenso. Em muitos casos, está rolando uma ressignificação da idéia de “aconchegante” e “sentir-se em casa” nestes tempos tão assépticos. 

Há grandes exemplos no Brasil, da pequena pousada Provence Cottage, em Monte Verde, MG, à charmosa Casa Turquesa, em Paraty, RJ. Ambas propriedades já estão reabertas e vêm sendo elogiadas pelos hóspedes pela conduta que está sabendo equilibrar muito bem a segurança que o momento exige com a calidez que fez a fama do negócio. Mas há mudanças que talvez tenham realmente vindo para ficar neste sentido. E, é claro, é necessário que todos entendam e se ajustem aos novos protocolos, respeitando as regras estabelecidas por cada propriedade, pelo bem individual e comum. 

LEIA TAMBÉM: como ser um bom hóspede em tempos de pandemia

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Chalés do Parador Lumiar, no Estado do Rio

Hotéis para respirar ar puro na serra do Rio de Janeiro

Ar puro é uma das commodities cada vez mais importantes para a hotelaria em tempos de pandemia. Afinal, é mais difícil o vírus se propagar ao ar livre do que em ambientes fechados. Há vários hotéis para respirar ar puro na serra do Rio de Janeiro e praticar turismo de isolamento. Nas montanhas fluminenses, as cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo oferecem boas opções, fora do Centro, para uma escapada sem aglomeração.

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Hotéis na serra do Rio de Janeiro: Parador Lumiar
Um dos 13 chalés do Parador Lumiar, na serra fluminense | Foto de Carla Lencastre

Parador Lumiar, opção imbatível nos arredores de Friburgo

A cerca de 40km de Nova Friburgo, o Parador Lumiar é uma gostosa opção. Fica em Lumiar, distrito de Nova Friburgo, na serra fluminense, a 850 metros de altitude e a 160 km do Rio. Membro da associação Roteiros de Charme, a pousada reabriu no mês de agosto. São 13 chalés de 37m² (três deles com ofurô em uma varanda envidraçada) em torno de um lago e em diferentes níveis de terreno, o que garante privacidade, além de distanciamento. Cada chalé fica a cerca de dez metros de distância um do outro e o hóspede decide se quer que o quarto seja arrumado ou não. A piscina está liberada.

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O Parador foi construído seguindo padrões sustentáveis, como o uso de madeira de demolição, e empregando mão de obra local. Dá para passar dias sem sair de lá, apreciando flores coloridas em meio ao verde exuberante da Mata Atlântica, contemplando o vale, observando os pássaros, ouvindo o coaxar dos sapos quando a noite cai. O hotel oferece passeios de jipe e de cavalo que levam a rios e cachoeiras da região. O Wi-Fi funciona bem.

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cozinha do parador

Com um cardápio contemporâneo que valoriza os produtos locais, o chef baiano Isaías Neries revolucionou o Cozinha do Parador e sua espaçosa varanda debruçada sobre o verde. Pioneiro do farm to table, o chef usa ingredientes que ele mesmo planta na horta orgânica da pousada ou encomenda de produtores da região, como queijos e trutas.

Para beber, a água mineral vem da fonte do hotel. As frutas usadas na caipirinha também. O Parador tem ainda uma adega com paredes em pedra e 450 garrafas. O restaurante é famoso na região pela feijoada de sábado e pelas massas frescas (os nhoques são divinos).

Atualização: O Cozinha do Parador é aberto ao público em geral, mas está funcionando com capacidade reduzida. Reservar é fundamental.

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Para famílias com crianças nos arredores de Petrópolis

O Parador Lumiar é um hotel pet friendly e recebe bem crianças. Mas para quem procura um lugar mais voltado para famílias na serra fluminense há o Solar Fazenda do Cedro certificado pelo Circuito Elegante com o selo Safe & Clean, criado em parceria com o Bureau Veritas. Entre outras medidas, os itens do minibar são escolhidos na hora da reserva.

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Como no Parador Lumiar, a temperatura é aferida no check-in e a bagagem, desinfetada. Os apartamentos são para três ou quatro pessoas e os chalés abrigam até cinco hóspedes. O hotel fica entre Pedro do Rio e Areal, a 40km de Petrópolis.

No Centro da cidade histórica, o Museu Imperial continua fechado. Também no Centro, o restaurante e o bar da Cervejaria Bohemia funcionam com capacidade reduzida e sob reserva.

Atualização: A visita à fábrica da Bohemia foi retomada e os ingressos para três diferentes tipo de tour podem ser comprados no site da cervejaria.

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Para uma experiência mais exclusiva na serra

Uma opção confortável para viagens multigeracionais ou de um grupo de amigos são os roteiros personalizados oferecidos pela Passion Brazil. Especializada em atender visitantes estrangeiros, com a pandemia a operadora criou um segmento para brasileiros. Neste primeiro momento, os roteiros são para lugares remotos ou sem aglomeração para passar alguns dias cercado apenas de familiares ou amigos e aproveitar a infraestrutura de lazer e a gastronomia da região.

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Na serra fluminense, a hospedagem pode ser na deliciosa Pousada Tankamana, com chalés de 25 ou 40 m², estes com ofurô ou hidromassagem. Reaberta no mês passado, a pousada fica no Vale do Cuiabá, em Itaipava, entre Petrópolis (40km) e Teresópolis (30km).

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