Quem me acompanha por aqui deve achar estranho eu cogitar a possibilidade de uma empresa ser vítima das movimentações do mercado, afinal, se uma instituição não sabe lidar com as variações de seu setor, é a comprovação de que não houve, em nenhum momento, visão estratégica do negócio. Porém, no caso Thomas Cook, acho que vale a reflexão, mas sem eximir a culpa de ninguém.
Essa semana começou com um anúncio que há tempos sabíamos que poderia acontecer, mas nunca acreditávamos nele realmente, afinal, com quase 200 anos, a Thomas Cook sempre foi reconhecida pelo seu pioneirismo, uma instituição referência também por seu posicionamento de marca, como já falei aqui na coluna, mas, o mercado é implacável até mesmo para quem o desbravou (Kodak que o diga).
Já sabíamos que a empresa britânica passava por dificuldade há muito tempo, e isso, hora ou outra, era atribuído ao fato da TC não ter acompanhado a evolução digital do mercado, fora os problemas econômicos enfrentados pela Europa, além do Brexit, que ainda afeta bastante a Grã Bretanha. E baseado nisso eu promovo duas reflexões?
1 – Um mundo caótico
Crise das nuvens de cinza, em 2010, onda de calor, 2018, aumento dos combustíveis, primavera árabe e o famigerado Brexit, são colocados como uma série de problemas que assolaram o mundo, mas principalmente a Europa, na última década, com isso, acredita-se que o houve uma mudança no consumo do viajante europeu. O que teria sido, juntamente com erros na tomada de decisão, os responsáveis pela falência da gigante britânica.
Porém, vale ressaltar que, segundo o Holiday Habits Report 2018 da ABTA, que é a associação dos agentes de viagens da Grã Bretanha, 60% dos britânicos tiraram férias no exterior em 2018, contra 57% no ano anterior, ou seja, pelo menos no último ano, tivemos um crescimento. Talvez tenha sido tarde demais.
2 – Um elefante em uma loja de cristais
Este é um termo que tenho usado muito em minhas consultorias. Falo quando me deparo com uma empresa com uma estrutura gigantesca, o que mostra robustez, mas que também tem dificuldades para realizar seus movimentos de maneira ágil, sem quebrar o que tem em volta. E a Thomas Cook, em minha opinião, se tornou mais um exemplo de uma instituição refém do seu próprio tamanho e da sua tomada de decisão errada.
Em meados de 2010, enquanto acompanhávamos com expectativa a chegada de startups como Airbnb (fundada em 2008) e víamos a expansão dos serviços online, a TC fazia uma fusão para expandir suas lojas físicas. Hoje temos a certeza e clareza de que essa não era a melhor coisa a se fazer.
Quem está no mercado sabe que um movimento errado para uma grande corporação, muitas vezes é infinitamente pior do que para uma pequena empresa. Afinal, com o perdão da analogia, quem consegue fazer uma curva, mudança de rota, de maneira mais rápida, um jet sky ou um transatlântico?
Difícil de acreditar
De qualquer forma, ainda não me acostumei com o fato de não ter mais a Thomas Cook como referência, mas como já disse aqui, o mercado é implacável e não tem dó nem de que quem o criou e desbravou.
Agora, resta saber qual será a próxima, a se reinventar ou morrer, afinal, uma coisa é certa, vivemos em um mundo dinâmico, onde as mudanças, que há 200 anos demoravam cerca de 30 anos para acontecer, hoje são realizadas a cada 5 e a tendência é que daqui a pouco reduza para 3 anos.
Published by