O operador vai ou não vai sobreviver ?

Depois da saída da Thomas Cook do mercado, cresceu o número de análises e indagações sobre o futuro da distribuição via pacotes de turismo por meio de operadores turísticos (TTOOs). As opiniões se dividem entre aqueles que acham que a saída do mercado da histórica Thomas Cook é um marco de uma nova era; já outras acreditam, e mostram, que os operadores ainda são responsáveis por quase metade das vendas em diversos países europeus e podem se reinventar para fazer frente às OTAs e à venda direta. Será que irá acontecer uma convivência paralela entre as duas formas de vendas num futuro breve ?

As novas tecnologias, de fato, têm mudado de forma rápida e drástica a forma de compra no setor de turismo, sobretudo por meio da venda on-line e direta de muitos dos serviços, principalmente bilhetes aéreos e hotéis. Dependendo do país, o comportamento de venda mostra uma queda na venda dos TTOOs. Da mesma forma, as novas formas de economia compartilhada também chegam a traçar uma ligação direta entre provedores de serviços pessoais e já vão além dos mercado de hospedagem ou transporte, chegando no coração da vivência turística que é a experiência. O Airbnb é um exemplo claro de disrupção no setor. Alguns analistas então consideram que essas mudanças são o fim, ou o começo do fim dos pacotes turísticos e da distribuição tradicional.

Já outras estudiosos falam da convivência dos dois modelos, com diferentes comportamentos dependendo do mercado e da forma de compra do consumidor. O fato é que todas as mudanças que ocorrem no mercado em relação à forma de promoção e venda, vêm do consumidor e não das empresas. São os turistas que alteram suas formas de demanda e suas necessidades e acabam forçando os segmentos de produtos e serviços a se adaptar às suas necessidades. Sendo assim, a sobrevivência dos TTOOs está diretamente ligada à sua capacidade de inovação, adaptação e criatividade diante do cenário nebuloso atual.

Olhar e estudar profundamente o mercado global, e em especial os mercados prioritários para a promoção do Brasil no exterior, ou até mesmo o comportamento dos brasileiros, é questão de sobrevivência para aqueles que querem se manter no mercado. Uma abordagem muito interessante que li em diversos artigos fala numa mudança de comportamento de oferta de produtos pelos TTOOs europeus como a TUI, por exemplo, eles não estão vendendo destinos, mas estão vendendo tipos de viagens: para famílias, para amigos, para lua de mel, para descanso, para ecoturismo, dentre outros; e, à partir da escolha do tipo de viagem é que aparecem as opções de destinos que podem responder à essas necessidades.

Essa nova abordagem traz dois aspectos essenciais para entender o mercado. Por um lado uma mudança de comportamento na forma como vendemos nossos destinos, produtos e serviços; por outro, a urgente necessidade de entender os motivos pelos quais os clientes chegaram até nós. Aqui vem a personalização, a criação de uma oferta dirigida às necessidades do cliente, entendendo primeiro o que ele quer fazer em sua viagens e depois, oferecendo aonde ele pode ter esse tipo de experiência desejada. Isso muda completamente a forma como os destinos brasileiros deveriam se promover, a forma de apresentar o Brasil no mercado internacional e até nacional e como as empresas como hotéis ou receptivos precisam se posicionar para mostrar a quem atendem. O foco é no cliente, em suas necessidades, e não naquilo que o produto ou serviço quer vender; uma nova abordagem.

Se não ajudarmos o cliente a identificar suas necessidades, ou oferecermos destinos de forma geral, ou simplesmente um hotel para todos, não vamos aparecer no imenso mundo de ofertas de viagens que existe pelo planeta. As políticas de diferenciação e de vendas por segmentos e necessidades dos turistas são um grande alerta, um sinal vermelho que merece nossa análise para ver se não estamos fazendo mais do mesmo, de forma errada e totalmente fora da maneira como os mercados exigem. Entendo que precisamos ter dois caminhos complementares: a busca do cliente final de forma direta e a busca do cliente por meio dos intermediários; sempre nos adaptando a esse novo desafio de nos diferenciar pelo tipo de experiência e de cliente que podemos atender.

Ao final, interessa o cliente, suas necessidades e a experiência como uma imersão interativa no destino de acordo com o que busca o turista. Você concorda ? Como seu negócio ou destino tem trabalhado a promoção e venda nesse cenário ?

Não podemos ter mais estrangeiros? (Parte 2)

Photo by Sharon McCutcheon on Unsplash

Começamos a pensar sobre o turismo internacional do Brasil para entender aonde estamos, com a observação dos dados de chegadas de turistas internacionais nesse primeiro post, quando abordamos somente o volume de visitantes e fizemos um histórico das chegadass no Brasil. Como mencionei, entendo que o número de pessoas que um destino recebe não é prova de sucesso com a atividade, o número precisa estar somado a mais dois elementos: gasto e permanência. Nessa segunda parte vamos falar do histórico de entrada de divisas no Brasil por meio dos gastos dos estrangeiros que passaram por aqui. Nesse caso, a análise é ainda mais complexa, preciso que você me ajude a pensar depois de ver os números.

Começamos a olhar a entrada de divisas com os gastos dos turistas estrangeiros no Brasil à partir de 1990; o fato é que o crescimento nesses quase 30 ano foi lento e pouco significativo de um ano ou até de uma década até a outra (Fonte: MTur, 2019). Em 1990, os gastos foram de US$ 1.489 milhões; em 2000 de US$ 1810 milhões; em 2010 de US$ 5.261 milhões e em 2018 de US$ 5.921 milhões. Note que os anos que apresentaram um aumento mais significativo foram os de 1997 e 1998 e depois de 2002 a 2008. Em 30 anos, o período que apresentou um pequeno salto foi o final dos anos 2000, mas já à partir de 2011 o número passa a oscilar pouco e a se manter em níveis muito próximos. Podemos concluir que nos últimos 8 anos tivemos praticamente uma estagnação e até uma queda progressiva na série histórica conforme abaixo:

ANOUS$ MILHÕES
1990    1.489 
1991    1.076 
1992    1.064 
1993    1.096 
1994    1.048 
1995       972 
1996       840 
1997    1.069 
1998    1.586 
1999    1.628 
2000    1.810 
2001    1.731 
2002    1.998 
2003    2.479 
2004    3.222 
2005    3.861 
2006    4.316 
2007    4.953 
2008    5.785 
2009    5.305 
2010    5.261 
2011    6.095 
2012    6.378 
2013    6.474 
2014    6.843 
2015    5.844 
2016    6.024 
2017    5.809 
2018    5.921 

É a primeira vez que faço essa análise da série histórica da entrada de divisas do Brasil, confesso que me surpreendi com o aumento pouco significativo, ano após ano, da entrada de divisas por meio dos gastos dos estrangeiros. Lembrando sempre que esses números não possuem ajustes de inflação ou oscilação de cambio, são dados nominais. Se achamos e nos preocupamos porque o volume de visitantes não aumenta, deveríamos nos preocupar ainda mais porque os gastos até diminuíram nos últimos anos. Mesmo assim, segundo o World Travel & Tourism Council (WTTC), o impacto total dos gastos dos visitantes estrangeiros no Brasil em 2018 foi de R$ 22,5 bilhões, o que representa 2,2% das exportações do país. A importância do turismo está justamente em seu impacto econômico e precisamos analisar os motivos pelo quais não avançamos mais nesse tema.

Quais seriam as causas de termos um gasto baixo, ou uma evolução baixa dos gastos nos últimos 30 anos com todas as mudanças por que passou o turismo? Pensei em várias hipóteses, nada fruto de um estudo mais aprofundado, e adoraria ouvir a experiência de vocês e a opinião daqueles que conhecem melhor o mercado internacional para refletirmos juntos e buscar ideias:

  • A Argentina é responsável por quase 30% dos estrangeiros que aqui chegam, pode ser que seus gastos sejam mais baixos nas entradas terrestres ao sul do continente (SC e PR onde quase 80% do acesso é terrestre); além disso seu gasto é a metade do gasto de um europeu, por exemplo;
  • A oferta de produtos e de experiências no Brasil não evoluiu num ritmo que chegasse a dar aos visitantes mais opções de gastos em atrativos novos ou qualquer produto. Ou seja, nossa oferta turística atual pode ser, ainda, muito pequena e pobre; não sabemos fazer o turista gastar em nossos destinos;
  • Há uma sazonalidade muito alta nas chegadas de estrangeiros, com períodos de baixa entre os meses de abril e novembro; um período muito longo com diminuição de chegadas, são 8 meses do ano;
  • A motivação principal é o sol e praia, e esse visitante tem gasto pequeno pelo tipo de atividades que realiza: além do hotel, um transfer, uma parada em algum lugar com apoio de alimentação e só a praia para desfrutar, poucas atividades marítimas ou lagunares, por exemplo; pouca oferta cultural ou de outros atrativos naturais além da praia? Que outras experiências inovadoras e empolgantes?
  • a motivação principal para a viagem ao Brasil é de lazer, representa quase de 60%, o que leva o turista a gastar bem menos do que um viajante a negócios e eventos, que significa cerca de 20% das motivações mas gasta quase o dobro;
  • as visitas a amigos e parentes (25% dos turistas ficam em casas de amigos e parentes ), que são cerca de 20% das motivações principais, fazem com que a pessoa não tenha gastos com hospedagem, menor gasto com alimentação e realize poucas atividades durante a estadia;
  • os turistas a negócios e eventos, em sua maioria, ficam em hotéis, gastam mais, no entanto sua permanência é bem menor do que a do viajante a lazer;
  • o gasto e a permanência dos europeus, norte americanos e outros é bem superior à dos latino-americanos, conforme tabela abaixo (Fonte: MTur, 2019):

Ao final, tentando cruzar a origem, o gasto e a permanência do estrangeiro no Brasil vemos que a América do Sul representa 61% do volume, tem um gasto total de US$ 595,24 e uma permanência de 10,7 noites; a Europa, que representa 22% das chegadas tem um gasto total de US$ 1.135,70 e uma permanência de 23,6 dias e a América do Norte representa 19% das chegadas, tem um gasto total de US$ 1.121,72 e uma permanência de 18,9 dias. Veja que, por sub-continente, temos volume maior e gasto e permanência menores; contra volume menor com gasto e permanência maiores.

De posse desses dados, cruzando também com a oferta de voos internacionais*, é possível traçar uma estratégia de promoção internacional para cada continente ou país, direcionando ao aumento da permanência, do gasto e do volume; e trabalhar arduamente os destinos brasileiros para ampliar, inovar e melhorar muito sua oferta turística. Também fundamental, olhar o Brasil como um todo, enxergar o conjunto e construir com os estados uma política conjunta de promoção e de atração de mais voos.

*Oferta de voos internacionais no Brasil em outubro de 2019: América do Sul tem 43%, Europa tem 30%, América do Norte 19% e Ásia 4% (Fonte: EMBRATUR, outubro 2019).

Veja a primeira parte dessa série aqui

Sobre queimadas, óleo e nossa imagem

Photo by JR Korpa on Unsplash

Temas recentes e negativos sobre a imagem do Brasil no exterior começaram com as queimadas e agora chegam às manchas de óleo nas praias do nordeste. Sem falar na segurança, que sempre vem à tona quando se fala de nosso país pelo mundo. E ainda lembrando que sol e praia representam nada mais do que 71% das motivações de viagens ao Brasil.

Para trazer mais estrangeiros, receber mais divisas e desenvolver o Brasil como um destino mais competitivo no cenário internacional é fundamental cuidar de nossa imagem; sem descanso. O mundo do turismo é cada vez mais competitivo, tem mais opções de viagens e utiliza novas tecnologias para dizer que é o melhor lugar para uma viagem de férias ou para realizar um congresso. Nossa imagem precisa ser cuidada de forma profissional para recuperar espaço nesse mercado global; além, é claro, de medidas contínuas de promoção e melhoria de nossos produtos e destinos.

Mas a imagem está basicamente ligada a duas faces; uma relacionada à solução dos problemas e outra a comunicar aos mercados mundiais as mudanças ocorridas. Basicamente é assim, cuida do problema e depois mostra que o problema não existe mais. Bem, esses problemas exigem certo tempo para serem solucionados, e ai? Ficamos parados olhando o estrago de nossa imagem?

Na minha visão, a forma de tratar os temas no momento em que ocorrem fatos graves é usar o que se chama de administração de crises. Você esclarece o que realmente está ocorrendo, as medidas que estão sendo tomadas, explica sobre quais áreas estão afetadas, dentre outros. Se isso não for feito o que fica no imaginário das pessoas pelo planeta é que as florestas do Brasil estão em chamas e sendo devastadas e as praias estão impróprias para o turismo. Quando solucionado o problema ou ele sair da mídia, você estabelece uma estratégia de conteúdos positivos sobre o lugar e o tema afetado, alterando assim, aos poucos, a perceção das pessoas.

Lembrando que bastam poucas notícias negativas para piorar a percepção das pessoas sobre o país, isso acontece imediatamente, pois as formas de comunicação globais estão cada vez mais instantâneas. Já o tempo, investimento, estratégia e ações para mudar essa percepção demandam muitos e muitos anos; isso se tiver muito investimento e de forma contínua. O que você acha ? Seus clientes têm perguntado muito sobre esses problemas ? Tem sugestões de como enfrentá-los ?

5 responsabilidades de quem trabalha no turismo

Nunca é demais lembrar que o turismo responde por 10% do PIB mundial e tem uma contribuição total no PIB do Brasil de 8%. São quase 3 milhões de empregos diretos e 22 bilhões em gastos de turistas nacionais e internacionais por ano em nosso país (Fonte: WTTC, 2019). No dia mundial do turismo eu diria que empresários e governos têm suas responsabilidades em relação à indústria de viagens e turismo:

  • Trazer a inovação para políticas públicas e privadas para melhorar a experiência do turista e acelerar a competitividade do Brasil no cenário global
  • Ter espaços turísticos que permitam o conhecimento e a experiência genuína do visitante, mostrando e estimulando práticas sustentáveis em todos os níveis da viagem; fazendo interação com as comunidades locais
  • Concretizar parcerias público privadas para completar a atuação de toda a cadeia do turismo no desenvolvimento sustentável e no sucesso do turismo para destinos, empresas e comunidades locais
  • Garantir que o desenvolvimento do turismo beneficie a todos direta e indiretamente envolvidos, sobretudo na geração de emprego e renda, na captação de investimentos, na atração de divisas e na satisfação tanto do turista como do morador local
  • Tratar a indústria de viagens de turismo de forma profissional, planejada, com continuidade e inovação em políticas públicas, usando ferramentas eficazes na atuação de melhoria da oferta turística e nas políticas públicas

Brasil entre os 5 países do mundo em impacto do turismo no PIB

Fonte: Pixabay

Estudo do World Travel & Tourism Council (WTTC) mostra que o Brasil é o quinto país no mundo aonde os gastos com viagens e turismo têm o maior impacto no PIB nacional. Os primeiros são Arábia Saudita, Indonésia, China e Turquia.

A importância da indústria de viagens e turismo mais uma vez se coloca como peça chave na economia global e o Brasil mostra a importância que os gastos do setor têm para nosso PIB. Somos o quinto maior país do mundo quando computados os gastos com viagens e turismo e seu impacto no PIB dos países. Será que somos bons aliados para a recuperação da economia do Brasil ?

O World Travel & Tourism Council (WTTC) apresentou um relatório de benchmarking que comparou o impacto do turismo em 2018 com outros oito setores chave da economia mundial: agricultura, mineração, saúde, indústria automobilística, varejo, serviços financeiros, bancos e construção civil. Em 2018 o crescimento do PIB do turismo (3,9%) foi maior do que todos esses setores listados. O estudo foi feito em 26 países com o objetivo de colocar nossa indústria numa perspectiva geral da economia. Veja algumas informações:

  • O PIB total do turismo global (10,4%) é 1,7 vezes maior do que o da mineração, 1,5 vezes maior do que o dos bancos e da indústria automobilística e 1,4 vezes maior do que o da agricultura
  • Em empregos diretos, indiretos e induzidos (10% do total mundial) o turismo é maior do que o dos serviços financeiros, saúde, bancos, indústria automobilística e mineração
  • Na região das Américas, o turismo é o sexto maior setor em termos de PIB e de empregos; mais do que o dobro do sistema bancário
  • No período entre 2010 a 2018, a indústria de viagens e turismo foi o segundo setor com maior crescimento econômico nas Américas (3,1% ao ano em média); só teve crescimento menor do que a indústria automobilística

Como mencionamos, no caso do Brasil, a importância dos gastos do turismo, tanto doméstico (o maior impacto) como internacional coloca o país em quinto lugar do mundo em importância do setor para o PIB. A força do turismo doméstico brasileiro, que representa 94% do volume de viagens é grande, e também mostra o tamanho do mercado existente e potencial a explorar. O gráfico abaixo mostra o impacto no PIB em US$ 1 milhão em gastos de viagens e turismo nos países pesquisados (Fonte WTTC, 2019).

Veja mais aqui: https://www.wttc.org/economic-impact/benchmark-reports/
Copyright @ WTTC 2019.

Entenda os impactos da indústria de viagens e turismo: 1) Diretos: alimentação, hospedagem, entretenimento, lazer, transportes e outros serviços relacionados; 2) Indiretos: publicações, serviços financeiros, serviços sanitários, fornecedores de móveis e equipamentos, segurança, transportes, construção naval, indústria de aviação, indústria automobilística para aluguel de carros, dentre outros; 3) Fornecedores de alimentos e bebidas, serviços para negócios, computadores, serviços pessoais, entre outros. (Fonte: WTTC, 2019).

Podemos ou não ter mais estrangeiros ? (parte 1)

Photo by Matthew Smith on Unsplash

Afinal, por que o Brasil não tem um número maior de visitantes estrangeiros? Vamos fazer alguns posts sobre o tema e adoraríamos ter as opiniões dos profissionais de turismo do país. Nossa conversa não tem cor, não tem julgamento, só busca a melhor compreensão.

Particularmente amo esse debate, porque ele parece simples, mas exige análises de diversos ângulos, depende de fatores ligados diretamente ao turismo e de outros sobre os quais não temos qualquer governança. E sua compreensão e solução, acima de tudo, depende da contribuição de diversos profissionais brasileiros que possuem experiência com o mercado internacional. Afinal, qual o objetivo de fazer esse bate papo? Atrair mais estrangeiros, gerar mais negócios para os que trabalham no setor, gerar empregos; fazer o turismo maior aliado na recuperação da economia nacional.

Vamos parar de fazer comparações esdrúxulas ou repetir versões equivocadas sobre o número de turistas que visitam a Torre Eiffel e o Brasil, ou que visitam a Espanha ou França e o Brasil; não dá para comparar, é preciso entender.


Junto com o debate do número de estrangeiros, é primordial fazer o debate sobre seus gastos nas viagens ao Brasil. Já está mais do que batido relembrar que somente o número de pessoas que chegam não pode ser um indicador de sucesso do turismo, somos nós, profissionais da área que precisamos enfocar esses aspectos. Estão espalhados pelo mundo diversos exemplos de lugares que NÃO QUEREM MAIS TURISTAS, ver sobre overtourism aqui. E ainda tem outro aspecto, os órgãos de turismo pelo planeta afora, e as empresas do setor, usam dados do passado (séries históricas) para entender o movimento temporal dos volumes de visitantes; mas o que vale hoje é antecipar a demanda, usar big data para saber sobre o futuro, planejar e manejar fluxos e comportamentos de visitantes. Na verdade, o Brasil praticamente não tem dados de séries históricas passadas sobre turismo, imagina quanto tempo levaremos para pensar e agir direcionados ao futuro.

Bem, mas aqui vai o debate. Quero iniciar com números, falando do volume de chegadas de estrangeiros ao Brasil, para nos próximos posts, falaremos dos principais temas importantes nesse problema que estamos tentando desvendar. Fui atrás dos dados existentes sobre a chegada de estrangeiros ao Brasil, que segundo o Ministério do Turismo iniciaram a ser compilados em 1989. Eis as informações que considero mais relevantes, lembrando que não vale analisar friamente o aumento de um ano para outro, o turismo trabalha com séries de no mínimo 5 e 10 anos. Números isolados podem ser chatos, mas são a base para começarmos nossa conversa; lembrando ainda, existem números e números…

  • em 1989 o Brasil recebeu 1,4 milhão de turistas e um ano depois, 1990, foi 1,91 milhão, um aumento de 22%
  • em 1995 foram quase 2 milhões
  • no ano 2000 recebemos 5,3 milhões de visitantes, aumento de 165% desde que os dados começaram a ser coletados
  • entre 2005 e 2010, ficamos na faixa dos 5,3 e 5,1 milhões a cada ano, depois começamos a aumentar em média 4% ao ano (2011 a 2013)
  • 2015: 6,3 milhões de turistas
  • 2018: 6,6 milhões de visitantes

Veja a tabela abaixo com os anos, volumes e percentuais de aumento ou diminuição. A elaboração é nossa em diversas fontes como MTUR, OMT.

FONTE: Pires Inteligência em Destinos e Eventos, 2018

Se fizermos uma média, desde 1989 até 2018, entre altos e baixos, teremos 16% de crescimento ao ano; no entanto, alguns anos deram saltos de 20%, 22% e até 33%. Outros anos, as quedas foram de 22%, 6% e 1%. A série que analisamos tem curvas ascendentes e descendentes bastante sinuosas, o que terá que nos remeter a uma análise de alguns períodos, como por exemplo: 2006 a Varig deixa de voar, e perdemos milhares de assentos no mercado internacional (-6% de turistas); em 2009 uma grave crise econômica mundial e a H1N1, caímos quase 5%. Em 2014 foi a Copa, crescemos 11%; em 2015 a diminuição de turistas foi quase de 2%. Em 2016 foram os Jogos Olímpicos, crescemos 3,8%.

Conclusão: entre 1989 e 2018 o volume de visitantes cresceu 372%, e entre 2010 e 2018 cresceu 28%. Nos últimos 4 anos crescemos 5%. Sei que são muitos dados, mas isso mostra os altos e baixos de fatores internos e externos que influenciam diretamente nos resultados do turismo do Brasil e de todos os países do mundo.

Para finalizar essa primeira compilação de dados, fizemos uma comparação do crescimento do turismo no mundo, na América do Sul e nos países emergentes no período entre 2010 e 2018. Em alguns anos, o Brasil cresceu muito mais do que a média mundial (2010, 2011, 2012, 2014 e 2016) e nos demais anos do período mencionado, muito menos do que a média mundial. O fato mais relevante nessa comparação mostra que em todo este período o Brasil cresceu menos do que a média da América Latina, isso é um dado preocupante, pois trata-se da maior economia da região com pior desempenho no turismo. Também, com anos de raras exceções, crescemos menos do que a média das economias emergentes.

Você pode nos ajudar a lembrar de fatores que influenciaram esses períodos de altos e baixos ? Tem mais informações para nos ajudar ? Compartilha aqui com a gente. P.S.: todos os textos com link abordam os temas em mais detalhes.

Veja a segunda parte dessa série aqui.

Buscas pelo “similar” ou “Mais Barato”

Photo by Jason Wong on Unsplash

Fiquei com vontade de comentar com vocês sobre um estudo do Google que fala sobre o aumento das buscas por produtos e serviços por similaridade (cresceu 60% nos últimos 2 anos). Seria assim, tenho um grande desejo, aspiração de consumo X, mas sei que posso achar algo similar com preço mais acessível; então na minha busca coloco “produto X similar à marca tal ou parecido com algo”. Essa marca tal, ou tipo de produto, seria o objeto de desejo, a referência que tenho; minha busca é por algo parecido com ele.

Também tem a busca por menores preços: “pacote de turismo até R$ 2 mil”; “hotéis perto de mim até US$ 100”, dá pra ver que pode ser uma oportunidade para entendermos ainda mais nosso negócio, nossos concorrentes e entender o comportamento dos consumidores nesse cenário. Ajuda muito no trabalho de SEO. As sugestões do Google são 3:

  1. Avalie as aspirações, desejos que o público tem sobre seu produto e mostre seus diferenciais;
  2. Permita comparação de preços entre produtos de forma a beneficiar o seu produto;
  3. Otimize seu conteúdo e apareça quando as pessoas buscam por “similar”, “parecido”.

No turismo essa tendência faz muito sentido, primeiro porque temos sempre que entender os desejos do consumidor e mostrar que podemos atendê-los; segundo porque é preciso conhecer e acompanhar competidores para avaliar sempre o posicionamento e lugar que o destino está adotando; e por último, conteúdo em turismo é tudo, e não é tão difícil se posicionar para atender às pessoas que buscam por produtos similares ou chegar mais perto do concorrente nas buscas.

Já existem ferramentas de publicidade em turismo que funcionam assim, como na Amadeus, você define seus concorrentes, e quando eles são pesquisados na mesma hora aparece seu destino como opção. Outras ferramentas são bastante eficazes, como no site Para Onde Viajar, você coloca o orçamento disponível, tempo de viagem e origem e são apresentadas diversas opções dentro de seu orçamento.

Fiz 2 pesquisas rápidas, “destino similar/ parecido a Porto de Galinhas”, e aparecem opções como Fortaleza, Maragogi e Jericoacoara; ” destinos até 2 mil reais”, e aparecem diversas opções com todo tipo de preço, muitas dicas e opções. Adorei a dica, e você? Com quem se parece? Quem é seu concorrente? Já fez esse teste? Manda aqui para gente.

5 motivos que mostram o retrocesso da nova marca brasil

Quero aqui compartilhar alguns fatos e minha opinião acerca de polêmica da nova marca de promoção internacional do Brasil, merece atenção e discussão séria do setor de turismo. Não se trata de uma questão de gosto sobre a marca, mas do posicionamento do Brasil no mundo. A marca é do Brasil, do turismo, não é de governo.

O que você acha ?

  1. Apesar de “S” ou “Z” não ser a questão central, a língua representa nossa cultura, nossa forma de expressão, devemos portanto falar do BRASIL. Nos motores de busca e ferramentas de internet aí sim se usam palavras-chave usando o “Z”. (A Espanha usa em sua marca que tem 36 anos o nome em espanhol “ESPAÑA”, mais sobre aqui);
  2. Desde que a Marca Brasil foi criada, o governo federal (o Estado brasileiro) e outros governos estaduais e municipais investiram 15 anos de recursos públicos na consolidação, reconhecimento e posicionamento da marca atual. Jogar isso fora significa gastar muito mais para refazer tudo de novo nas ações de marketing, eventos, publicidade, internet, materiais, folders, etc. Significa pedir a milhares de parceiros internacionais e nacionais para tirar essa marca e colocar outra;
  3. A palavra “US” também é usada como sigla dos Estados Unidos, isso causa confusão deleitura, pode ser lido como “Brasil, visite e ame os United States/ US. Mas aqui tem uma grande inconsistência, uma marca turística é a identidade turística do país, é composta por um logotipo e uma mensagem permanente, essa mensagem (curta), deve sintetizar todos os atributos do país, atua como um qualificador da marca. Nessa marca, não há mensagem permanente, há um slogan de campanha publicitária; e é exatamente isso que diferencia marcas de longa vida daquelas com mensagens publicitárias, que são trocadas anualmente;
  4. E ainda, um tema muito sério. LOVE significa amor mas também pode ter conotação sexual. Foram décadas para tirar da imagem de nosso país que esteve já vinculada ao terrível chamado “turismo sexual”;
  5. Uma logo não significada nada em termos de posicionamento de mercado. Para atrair turistas precisamos mostrar o que temos de diferencial, de brasileiro; a partir daí, ter uma estratégia para promover esses produtos em determinados mercados. Com ferramentas diversas, usamos os recursos financeiros disponíveis para falar de nosso país e argumentar com as pessoas por que elas deveriam nos visitar. Todo esse processo, saber aonde estamos e aonde queremos chegar exige uma estratégia, persistência, continuidade e inteligência comercial. Os resultados? Aparecem no médio e longo prazos. Vamos começar tudo de novo? Será que à partir de agora cada novo governo vai voltar a querer fazer sua marca quando chegar ?

6 cidades com aumento de voos internacionais em 2019

Photo by Juliana Kozoski on Unsplash

De janeiro a julho de 2019 Fortaleza aumenta 60% de sua oferta de assentos em voos internacionais diretos (comparado com o mesmo período de 2018).

A EMBRATUR divulgou dados que mostram o comportamento da oferta de assentos e voos internacionais diretos para as 24 cidades brasileiras entre janeiro e julho de 2019, comparando com o mesmo período de 2018. Somente 6 cidades aumentaram sua capacidade, prefiro falar em número de assentos do que de voos, pois mostram melhor o tamanho da capacidade de transporte. No ranking das cidades brasileiras se destaca Fortaleza, que aumentou 60,1% sua oferta de assentos; depois os maiores aumentos foram: Brasília (28%), Campinas (25,44%), Curitiba (20,92%), Salvador (4,8%) e Florianópolis (3,16%). Todas as demais cidades que recebem voos internacionais diretos tiveram queda na oferta.

RANKINGCIDADE%
1Fortaleza60
2Brasília28
3Campinas25
4Curitiba21
5Salvador 5
6Florianópolis 3

Os destinos que mais perderam oferta internacional direta de assentos foram: Porto Seguro (-69%), Navegantes (-62,66%), Foz do Iguaçu (-50,92%), Belo Horizonte (-40,28%) e João Pessoa (-39%). A Região Norte foi a que mais perdeu oferta, de -16,94%.

Vale destacar que ainda há grande discrepância entre as cidades brasileiras em relação ao volume de voos internacionais diretos que recebem. Para se ter uma ideia, São Paulo Guarulhos concentra 63,55% da capacidade de assentos, depois vem o Rio com 17%; seguido de Campinas (3,82%); Brasília e Recife com 2,49% cada; e Fortaleza com 2,2% da capacidade.

Agendas e ações que foram feitas por Pernambuco, Ceará e Bahia na redução de custos para as empresa aéreas nacionais são exemplos positivos que reforçam a malha nacional e internacional; enquanto alguns destinos não entendem que seus custos são altos e pouco competitivos. Finalmente, também é preciso promoção e marketing permanentes para manter esses voos; além da melhoria da qualidade dos produtos e experiências que estamos oferecendo ao mercado internacional.

Oferta de voos internacionais diretos em julho 2019, por região brasileira
Fonte: EMBRATUR

Brasil: quem é e de onde vem o estrangeiro?

Photo by Adrianna Calvo from Pexels

Foram divulgados pelo MTUR os resultados da Demanda Turística Internacional no Brasil, em 2018. A pesquisa revela dados a respeito do perfil, hábitos e percepção dos visitantes estrangeiros no território brasileiro.

O Brasil registrou 6.621.376 chegadas internacionais, um crescimento de 0,5% em relação ao ano anterior. E de acordo com os dados coletados, a América do Sul continua sendo o continente com o maior receptivo internacional no país (61,2%), sendo a Argentina o principal país emissor. No entanto, é importante dizer que, apesar da Argentina permanecer em primeiro lugar, houve um decréscimo de 4,7% em seu percentual em relação ao ano anterior, o que gerou a interrupção de uma série de 10 anos de crescimento. Na década de 2000, a Argentina representava 20% do fluxo total de turistas no Brasil e chegou a quase 38,9% em 2017, caindo para 37,7% em 2018; por outro lado, os Estados Unidos (8,1%) e o Chile (5,9%), que, entre os países emissores, ocupam o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, tiveram um crescimento na faixa dos 13%.

Analisando as motivações das viagens, observou-se que o lazer responde pela maior parte das visitas (58,8%), em segundo lugar está visitas a amigos e parentes (24,1%) e, em terceiro, negócios, eventos e convenções (13,5%). Como esperado, dentro da motivação “lazer”, sol e praia continua predominando (71,7%), seguido de natureza, ecoturismo ou aventura, que vem ganhando espaço e atingiu a marca de 16,3% das viagens desse segmento. Entre as cidades mais visitadas, São Paulo (28,3%) e Rio de Janeiro (18,4%) mantiveram as duas primeiras posições, porém com motivações diferentes: São Paulo se destaca como o principal destino para negócios, eventos e convenções, e o Rio de Janeiro como o principal destino para lazer.

Por fim, em relação aos gastos dos turistas no país, observou-se uma leve queda do gasto médio per capita dia no Brasil de 2017 (US$ 55,78) para 2018 (US$53,96); sendo as maiores geradoras de receitas per capita/dia as viagens motivadas por negócios, eventos e convenções, um padrão que se manteve ao longo dos últimos anos. O que se manteve também foi o paradigma dos mercados mais distantes serem os que geram maiores gastos e permanência, por isso, os turistas de outros continentes se destacaram nos dois quesitos. Os turistas provenientes dos países europeus e dos Estados Unidos gastam, per capita, aproximadamente o dobro que os provenientes da América do Sul. Total dos gastos dos estrangeiros no Brasil em 2018 foi de USD 5.917 milhões, um aumento de 1,86% em relação a 2017; falamos mais sobre isso aqui.