Nacionalização Air France em vista?

A Air France-KLM, o grupo de transporte aéreo de passageiros oriundo da aliança franco-holandesa da Air France e da KLM Royal Dutch Airlines, bem como outras seis companhias aéreas subsidiárias, pode desaparecer sem intervenção estatal. O grupo é organizado em torno de um holding (Air France-KLM SA) da qual o Estado francês é acionista de 14,3% e o Estado holandês 14%.

Assim como a maioria das empresas aéreas mundiais, a Air France-KLM segue submersa pela crise. O grupo, que reportou resultados de perda líquida avaliada a 1,6 bilhão de euros no terceiro trimestre, não tem obviamente perspectivas de melhorias nos próximos meses tendo-se em vista a situação sanitária. Assim, todos os olhares estão voltados para os acionistas majoritários, os estados franceses e holandeses e a nacionalização é uma idéia recorrente na mente das pessoas.

Deve-se dizer que, diante da violência da crise, os sete bilhões de euros concedidos pelo Estado Francês para apoiar a empresa poderão não ser suficientes. Triste pensar que muito provavelmente grande parte desse valor cobriu os gastos do licenciamento de 7600 funcionários anunciado pela empresa em julho 2020.

Nacionalização Air France KLM é inevitável?

“A nacionalização da Air France é uma opção técnica”, deu a entender o secretário de Estado dos Transportes, Jean-Baptiste Djebbari há alguns dias, segundo o canal de informação BFMTV Economie . De fato, o rumor já anda como um fantasma nas matérias de jornais desde abril deste ano.

Afinal, quanto dinheiro pode investir o Estado sem perspectivas de retorno? Assim, o mesmo Estado que tentou vender suas ações do holding Air-France KLM ao grupo Accord sem sucesso no passado e pretendia privatizar os Aeroportos de Paris em 2020, fala agora em nacionalizar a Air France, ainda que temporariamente.

Nacionalização da Air France-KLM é possível?  

Em entrevista para o jornal Liberação Marc Ivaldi, pesquisador da Ehess e presidente da Associação Internacional de Economistas de Transporte, discute suas dúvidas sobre a potencial nacionalização da Air France-KLM.

Ficaria muito surpreso se a Comissão Européia validasse a nacionalização da Air France. Há duas etapas para isso acontecer. O primeiro passo é recomprar as ações dos acionistas e, em seguida, injetar um valor adicional para inflar o capital da companhia. E isso seria um problema para a Direção Geral da Concorrência, porque ao contrário do empréstimo de 7 bilhões de dólares que o Estado acabou de fazer à empresa francesa, envolveria uma intervenção direta no capital por um longo período de tempo. A nível francês pode passar, mas a nível europeu, é claro que outras companhias aéreas, como a Ryanair, se oporiam.

Se, no entanto, essa nacionalização ocorrer, será apenas temporária, não é papel do Estado gerir empreendimentos comerciais desse tipo. Penso que estamos caminhando mais para uma reestruturação do setor aéreo na Europa, com fusões entre empresas, por exemplo. Nesta fase, a única solução duradoura para a crise que afeta o setor de aviação é a cura para o vírus, concluiu Marc Ivaldi.”

Quando a falta de dinheiro entra porta o amor sai pela janela?

Enquanto isso, nos Países Baixos, a situação não é melhor. Após o anúncio de um auxílio de quase 3,5 bilhões de euros condicionado a um plano social, a KLM está novamente considerando um “redimensionamento” de seus negócios.

( Gente! “En passant”: quem foi o espertinho que decidiu que uma onda de licenciamento e renegociação de salários denomina-se plano social ?! )

Cisão próxima com KLM?

De acordo com o jornal La Tribune, o governo holandês congelou sua ajuda à empresa, exigindo uma redução dos salários durante cinco anos para garantir o auxilio prometido. Alguns membros do Senado batávio querem que “KLM se torne independente novamente.” Uma proposta que o ministro das finanças holandês Wopke Hoekstra não descarta: “Todos os cenários concebíveis estão em estudo”, disse ele.

A verdade é que embora o serviço de ambas as empresas tenham se mantidos impecáveis durante e após a criação do holding, nos bastidores a situação foi freqüentemente controversa entre os dirigentes que queriam mais integração e aqueles desejosos de manter maior autonomia entre os parceiros de vôo.

Agora, as relações entre Paris e Haia voltaram a ficar tensas, especialmente por causa das diferenças sobre as estratégias e da distribuição de capital. Desacordos que, segundo alguns analistas, podem acabar levando a uma cisão. Recentemente, o Ministro das Finanças holandês lembrou a França que a sobrevivência da união Air France-KLM não é sistemática.

Ou seja, visto as incertezas ligadas à situação sanitária, as inúmeras questões econômicas e complexas regras comerciais que regem o mercado aéreo e suas fusões, além dos desentendimentos entre os acionistas majoritários, essa “novela” ainda vai longe.  Difícil ainda saber se a nacionalização ficará no patamar dos rumores ou se tornará realidade.  

Veja a atual organização da empresa Air France KLM, privatizada entre 1999 e 2004.

Subsidiárias e ações aéreas Air France-KLM

Companhias aéreas onde a Air France-KLM tem uma participação minoritária

Outras atividades totalmente de propriedade da Air France-KLM

  •  Barfield (manutenção de aeronaves États-Unis)
  •  CRMA
  • AFI KLM E&M Components China
  • KLM UK Engineering
  •  EPCOR
  •  Aero Maintenance Group

Frota

  • A empresa tem 516 aeronaves
  • 157 aeronaves de longo curso;
  • 248 aeronaves de transporte médio;
  • 105 aeronaves regionais;
  • 6 aviões de carga.

45% dessas aeronaves são de propriedade do grupo, 19% são alugadas e 36% são aluguéis operacionais.

Disneyland Paris expande estratégia ambiental

Uma fábrica fotovoltaica está sendo criada na Disneyland Paris.

No meu último post eu comentei sobre a necessidade de apoiarmos empresas “eco-responsáveis”.  Então, meio às notícias de um possível reconfinamento na França e o atual toque de recolher e restrições que hoje atingem 46 milhões de francêses em 54 departamentos, uma boa notícia para o futuro.  

A Disneyland Paris anunciou o início da construção de uma usina de energia solar com o tamanho correspondente a 24 campos de futebol.  

O projeto é desenvolvido em parceria e co-investimento com o líder francês em energia solar fotovoltaica Urbasolar.

O parque de atrações implantará sobre seu estacionamento de mais de 17 hectares toldos cobertos com 67.500 painéis solares, cuja capacidade de produção representará eventualmente 17% das necessidades energéticas do local, equivalente ao consumo anual de energia de uma cidade de 14.500 habitantes.

“Esta usina solar contribuirá para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no valor de cerca de 750 toneladas de CO2 por ano no território local de Val d’Europe”, disse a Disneyland Paris em comunicado. A estrutura fotovoltaica também melhorará a experiência dos visitantes protegendo-os e seus veículos das condições climáticas, seja o calor do sol, da chuva ou da neve.

Disneyland Paris

E como tudo na Disney tem um toque de magia, a cabeça do Mickey, iluminada por LEDs, será visível a noite do céu, ou a bordo do balão instalado no Disney Village.


Este projeto faz parte da estratégia ambiental desenvolvida nos últimos anos pela Disneyland Paris que resultou em uma série de medidas que vão desde a remoção de canudos e plásticos de uso único até a criação de uma estação de tratamento de esgoto ou usina geotérmica que produz cerca de 20 GWh.

A primeira parte estará operacional em alguns meses, na primavera de 2021.

Um desfile noturno na Disneyland Paris usa em torno 400 000 lâmpadas
60 000 Leds enfeitam o topo do castelo da Bela Adormecida

Ser responsável: uma obrigação

Fico muito feliz e tiro meu chapéu para a Disneyland Paris pela iniciativa. No entanto, minha sabia mãe diria: “Não está fazendo mais que sua obrigação.”

A Disneland Paris consome em energia elétrica o correspondente ao consumo de uma cidade de 136 000 habitantes – dados Le Parisien setembro 2006

Enfim, parabéns Disneyland Paris, que outros se inspirem de sua estratégia!

Curioso para saber como andam as coisas na Disneyland Paris? Veja o clip oficial de reabertura.

Novas restrições, a reação dos franceses e a comunicação

Novas restrições – A essa altura todos já sabem que a França entrará neste sábado, dia 17 de outubro, em uma nova fase de restrições sanitárias.  O toque de recolher entre 21h e 6h nas grandes cidades* durante um mês foi a medida escolhida para a nova tentativa de contenção do coronavírus.

Acabou a festa! Regra dos seis

O governo pede inclusive à população que restrinja sua “bolha social” a seis pessoas e usem máscaras durante todo o tempo de convívio, seja lá onde for.

O governo promete igualmente ações dissuasivas para organizadores de festas e reuniões com multas que podem ir até 10 000 euros.

Reações

Diante destas novas restrições alguns reclamam do atentado a liberdade individual. Proprietários de restaurantes e bares clamam uma catástrofe anunciada. Jovens afirmam que se não vão aos bares, farão encontros em seus pequenos apartamentos. O corpo médico reclama da falta de recursos e investimentos para resolução do problema hospitalar e os sindicados fazem apelo de greve.

Para dificultar ainda mais a vida do governo, os policiais que deverão manter a ordem neste momento complicado, manifestam contra a falta de apoio e segurança no desempenho de suas funções.

Os trabalhadores perguntam por que devem se espremer nos meios de transporte, nos escritórios e salas de reunião, mas não podem ir ao restaurante ou ao teatro.

Concomitantemente, dia 17 de outubro é também dia de início de novas férias escolares. E surpreendentemente, os franceses poderão se deslocar sem restrições pelo território nacional.

Para muitos é difícil entender a coerência destas medidas que parecem até contraditórias. Mas, basta analisar um pouco para perceber que o governo está tentando frear o contágio da população pelo Covid-19, sem frear a economia nacional. Eu pessoalmente entendo a decisão.   

Então, porque muitos estão descontentes? A cólera dos proprietários dos restaurantes e atuantes do meio cultural é compreensível, mas quanto ao resto da população…

credibilidade é tudo

É sabido que a comunicação publicitária sempre ajudou muito a classe politica. Até ai tudo bem! Mas e quando ele trabalha contra a classe política?

Apoiar-se em um Conselho Cientifico para tomadas de decisões durante uma crise sanitária me parece a coisa mais sensata do mundo! Contanto que o mesmo tenha credibilidade, é claro.

O problema e que no momento em que a França, seus hospitais e população sofriam da falta de máscaras o Conselho Cientifico afirmou que o uso deste aparato ( hoje obrigatório) não era necessário e poderia ser até mesmo perigoso.  E agora, para explicar as novas restrições esse mesmo Conselho Cientifico estatal afirma que a maioria do contágio acontece em reuniões familiares e aparentemente entre 21h e 6h da manhã?  

Questões complexas, sobre as quais prefiro me abster. Eu não entendo nada de saúde e não vou pagar 135€ de multa para andar por ai depois das 21h, então me submeto e apóio as medidas sem contestar, como fará a maioria da população certamente.

Todavia, termino meu texto com uma pequena história, que talvez exemplifique meu ponto de vista sobre o que chamo de boa comunicação.

Vendendo seu peixe

Um dia desses, meu restaurante preferido me serviu um peixe inabitual. Confrontada pela minha reação a garçonete foi sincera:

“- Segunda feira não há entrega de peixe fresco, o mercadão (de Rungis), fecha nas segundas, perdão. Agora você já sabe que este não é o dia ideal para comer peixe aqui.”

Sua resposta franca e direta me deixou feliz, o sabor do peixe que eu comia não melhorou, mas eu aprendi algo e fiquei mais esperta. Segui freqüentando o estabelecimento. Credibilidade é tudo! Isso sim é o que chamo de boa comunicação!

Nota* Estão sob toque de recolher : Paris e região, Lille, Grenoble, Lyon, Aix-Marseille, Montpellier, Rouen, Toulouse et Saint-Etienne.