Notícias da variante brasileira BR-P1 na França


A variante brasileira BR-P1 esteve presente em todos os jornais e telejornais nesta semana.
Eu devo ter um senso de observação muito bom. Eu já havia notado uma grande diferença no quadro da Covid-19 entre meus conhecidos no Brasil e franceses desde maio 2020, quando uma conhecida de 32 anos, em plena saúde, faleceu no Brasil.
Enquanto aqui o calor estival era esperado como fator altamente atenuante do vírus, centenas de pessoas já morriam sob o calor sufocante que pode ter Manaus.


Você pode verificar os dados dos excessos de óbitos na Europa através dos anos ou meses no site Euromomo.eu

excessos de óbitos na europa

Excesso de óbitos na Europa por faixa etária
Excessos de óbitos em alguns países da Europa desde 2017

12 mutações no Brasil


Quase todos meus amigos e alguns familiares aqui pegaram Covid-19, nenhum deles faleceu. A doença afetou gravemente e causou óbitos majoritariamente em pessoas acima de 65 anos. Como eu sempre soube que a evolução da Covid-19 era completamente distinta no Brasil, se comparada à França, fiquei surpresa que tenha sido necessário brasileiros irem ao Japão para alavancar a descoberta de uma nova variante em janeiro de 2021. Essa cepa do Sars Cov2 teria sofrido no Brasil 12 mutações.

Somente quatro meses depois a variante brasileira virou notícia na França.

Vejamos algumas das preocupações dos franceses relativas (ou não) à BR-P1 presentes nas manchetes neste início de semana:


manchetes na França

O Conselho Científico teme que a variante brasileira se torne majoritaria neste verão
Le conseil scientifique craint que le variant brésilien devienne majoritaire cet été (msn.com)

“Essa mutação tem um nível mais alto de transmissão, mas “ainda não se sabe” se é mais letal do que a variante inglesa. Por outro lado, o conselho científico concluiu que essa variante diminui a eficácia das vacinas RNA de mensageiros Pfizer-BioNTech e Moderna, atualmente em uso na França.” fonte nouvelobs.com via msn


Suspensão de voos entre o Brasil e a França prorrogadas até 23 de abril
La suspension des vols entre le Brésil et la France est prolongée jusqu’au 23 avril | Actu

Essa variante brasileira, chamada P1, “traz dificuldades reais”, explicou o primeiro ministro Jean Castex aos deputados para justificar sua decisão na semana passada, e diante de um achado: a de uma “situação [que] está piorando” no Brasil. fonte Actu.fr



O epidemiologista Didier Raoult afirma que o medicamento remdevisir cria variantes
Coronavirus : pour Didier Raoult, “le remdevisir crée des variants” (msn.com)

Para o professor Raoult, o remdevisir é “um tratamento que não funciona” e “cria mutantes e variantes”. Ele reitera sua crença na hidroxicloroquina, que “reduz o risco de morte em 75%”.


Eu havia mencionado o Dr. Didier Rault, diretor do Instituto Mediterrâneo de Infecções ao início da pandemia em 2020. Dr. Raoult, renomado epidemiologista francês, foi o primeiro a anunciar a hidroxicloroquina como possível tratamento para a Covid-19. O médico defende que a rejeição “da cloroquina” como tratamento precoce é o pior golpe da industria farmacêutica da história. Os anti-Bolsonaro logo dirão que o sujeito é louco. Porém, longe da discussão politica que se tornou o uso desse medicamento no Brasil, devo admitir grande admiração pelo personagem. Admiração esta compartilhada pelos marselheses que obtiveram acesso à seu tratamento.

Embora o médico não tenha feito nenhuma menção sobre a variante BR-P1, achei bastante interessante a afirmação do pesquisador sobre o remdesivir. Esse medicamento foi aprovado pela Anvisa. Temos que ficar atentos a qualquer substância suscetível de causar mutações neste complexo vírus.
Outro fator de comorbidade importante segundo o Dr. Rauolt é a obesidade, pois o sistema respiratório fica comprometido com a pressão causada pelo sistema digestivo. Atualmente pessoas obesas são colocadas de bruços em uma mesa vazada no nível do ventre para garantir melhor circulação do oxigênio no corpo.


Quarentena obrigatória para retorno do Brasil, Chile, Argentina e África do Sul começará no sábado – Le Parisien
La quarantaine obligatoire au retour du Brésil, du Chili, d’Argentine et d’Afrique du Sud débutera samedi – Le Parisien

Variante BR-P1-Após cessar toda ligação aérea com o Brasil e outros países da América Latina, a França reabre as fronteiras com obrigatoriedade de quarentena.


E para terminar o sobrevoo da dia através das notícias e das consequências da variante BR-P1:

Gabriel Attal anuncia multa de até 1500 euros para viajantes em caso de descumprimento da quarentena obrigatória
Gabriel Attal annonce jusqu’à 1500 euros d’amende pour les voyageurs en cas de non-respect de la quarantaine obligatoire (msn.com)

Convidado para a Europa 1 na segunda-feira, 19 de abril, Gabriel Attal, detalhou as medidas à serem implantadas para controlar a variante brasileira. “Você terá a obrigação de se isolar por 10 dias, com uma ordem administrativa da prefeitura”, disse o porta-voz do governo. Em caso de descumprimento, os viajantes enfrentarão “uma multa de 1500 euros”.

E ai, atenção, estas não são palavras ao vento.
“A polícia vai entrar em contato e se assegurar que o indivíduo está onde deve estar e a multa em caso de reincidência dobra de valor!” reiterou Gabriel Attal.
Para aqueles que não estão acostumados à levar multa por se deslocar, pode ser um choque!

França: com título “Danser Encore” artistas manifestam em todo país

Danser Encore ou Dançar Novamente- Os happenings com a música do grupo HK & Saltimbanks, começaram em paralelo à ocupação de lugares culturais por associações da área da cultura no início do mês de março.

Naquele momento, artistas reagiam ao fato dos comércios estarem abertos enquanto os teatros, museus, lugares culturais e de encontros sociais permaneciam fechados.

Os artistas contestam igualmente as reformas do seguro desemprego, estremamente desfavoráveis para a classe e toda sociedade, além de pedirem garantias da volta à um estado democrático. Eles, como muitos, temem que a precariedade atual perdure ou piore com o arrocho previsto graças à reformas governamentais recentes.

Após as ocupações, o governo anunciou um auxílio extra de 20 milhões para a área da cultura.

Teatros e lugareis culturais estão fechados desde outubro 2020

Mesmo se a grande maioria dos locais invadidos já foram evacuados, a música virou um hino de muitos artistas e os happenings ou flashmobs seguem acontecendo em meio a pandemia.

Esses artistas são almas livres ou irresponsáveis?

Questionado quanto ao respeito das normas sanitárias durante uma de suas apresentações, o artista HK respondeu que a aglomeração ao ar livre não se compara com as aglomerações em meios de transporte obrigatórias para muitos trabalhadores.

Se são irresponsáveis, não sei. Só sei que me emocionei tanto que não consegui me preocupar com tal polêmica.

Fiquei não somente emocionada pelos problemas que vivem todos aqueles que, como eu, estão sem atividade há mais de um ano, mas também pelo fato desses artistas desesperados ignorarem que a Covid-19 justifica a cessação dessas atividades (Perdoem, eles não conhecem as conseqüencias das variantes mais perigosas existentes). Chorei pelas nossas fronteiras fechadas.

E sobretudo, foi impossível não me identificar com esse desejo de dançar entre amigos, de sentir um abraço, de ser livre.

As letras mudam às vezes , transmitindo os desejos e preocupações de cada grupo de artistas. Algumas letras e apresentações são realmente tocantes, como dos artistas Les Derniers Trouvères na Floresta de Avallon.

Você pode “abaixar” a versão original em Mp3 no site do grupo HK & Saltimbanks.

Abaixo o vídeo da versão original:

O movimento atingiu muitas cidades francesas, como Paris, Valença, Toulose, Cognac e até atravessou fronteiras. Seguem alguns desses “happenings” ou “fashmobs” em imagens:

Danser Encore-Estações de trem em Paris

Danser Encore- Estação Gare du Nord 4 de março

Estação Gare de L’Est – 8 de abril

Danser encore-grupo de forró de paris

Danser Encore Grupo de Forró de Paris – Jardin des Plantes 21 março

Danser encore-artistas manisfestam em La Rochelle

Danser Encore- cidade La Rochelle 22 de março

Borgonha Les Derniers Trouvères

Floresta de Avallon, Borgonha 5 de abril
Danser Encore Les Derniers Trouvères
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos corpos abraçarem outros corpos
Passar nossas vidas à vibrar em acordes
tralalalala

Somos pássaros de passagem
Seguimos o amor e nosso adágio
Nós não juramos fidelidade
à tenebrosas influências
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite, à beira da fogueira
Nós brincamos para deixar dançar a chama,
Em nós
A chama da alegria e da vida
Em nós
Que ela brilhe e ilumine em todos os lugares
E já que não temos trabalho e não somos Calimero
Liberdade para quem ousa
E obrigada para aqueles que propoem, um som feliz, um céu, uma rosa
Não nos usem como matéria prima, um eterno bode-expiatório, a cada medida sanitária,
Autoritária ou Lapidária
Vejamos o que pode ser feito
Sejamos alertas e criativos
Giradores e atrativos
Sublimes até a indecência
Deixe-nos viver em abundância
Sobre os caminhos da providência.

Chapelle en vercors- Alpes

Chapelle en Vercors 1 de abril

Letra Original Danser Encore HK & Saltimbanks

Dançar de novo

Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes
Oh, não não não não não não não
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes

Somos pássaros de passagem
Nunca dóceis ou realmente sábios
Nós não juramos fidelidade
Ao amanhecer em todas
as circunstâncias
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite na TV
O Sr. Bom Rei falou.
Veio anunciar a sentença.
Somos irreverentes.
Mas sempre com elegância

Auto-metrô-trabalho-console
Auto-certificação assinada
Absurdo prescrito
E ai para aquele que pensa
E ai de quem dança

Todas as medidas autoritárias
Todos os recursos de segurança
Vê nossa confiança voar
Eles são tão insistentes
Para limitar nossa consciência

Não vamos ser impressionáveis.
Por todas essas pessoas irracionais
Vendedores de medo em abundância
Agonizante, ao ponto de indecência

Vamos mantê-los afastados.
Para nossa saúde mental
Social e ambiental
Nossos sorrisos, nossa inteligência
Não vamos ficar sem resistência.
Os instrumentos de sua demência

Vacinação na França: doses perdidas

Vacinação na França- A desconfiança de uma parcela crescente da população em relação à vacina AstraZeneca (Vaxzevria) causa mudança precoce nos critérios de idade para aplicação da mesma.

A boa notícia é que cada vez mais franceses querem se vacinar. Inicialmente reticentes, os franceses desejosos em se vacinar representavam em dezembro somente 42% da população, agora são 70%. Apenas 14% das pessoas irredutíveis persistem em não querer nenhuma categoria de vacina.

Apesar disso, há algumas semanas, centros de vacinação sofrem com a perda de muitas doses de AstraZeneca que não encontram a demanda esperada. De acordo com uma pesquisa da Odoxa-Backbone Consulting para o jornal Le Figaro, 71% dos franceses não confiam na vacina britânica. E como a vacinação não é obrigatória…

Peripécias da AstraZeneca na França e na Europa

Em 2 de fevereiro, logo após sua aprovação, a AstraZeneca foi inicialmente reservada para pessoas com menos de 65 anos, devido à falta de dados sobre sua eficácia em pessoas idosas.

Um mês depois, seu uso foi estendido para todas as idades. Então, em meados de março, a vacina foi suspensa durante alguns dias após relatos na Europa de casos de uma trombose muito rara e atípica (coágulos sanguíneos). Entretempo, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu que eles estavam ligados à AstraZeneca.

Enquanto isso, a França decidiu, dia 19 de março, injetar essa vacina apenas para aqueles com mais de 55 anos de idade, uma vez que essas tromboses foram observadas principalmente em indivíduos mais jovens.

As autoridades de saúde ainda não anunciaram o que acontecerá com aqueles com menos de 55 anos que tomaram a primeira injeção. Porém, tudo indica que receberão como segunda dose a vacina Moderna ou Pfizer.

Outros países também estabeleceram limites de idade, mas sem necessariamente escolher o mesmo, o que alimenta a confusão. A AstraZeneca, por exemplo, é reservada para mais de 30 anos no Reino Unido, 60 anos na Alemanha ou 65 anos na Suécia. Finalmente essas reviravoltas acabaram por confundir o público em geral.

Reação do Governo Francês

Para evitar o desperdício das doses do precioso líquido que estão terminando no lixo dos centros de vacinas, o governo decidiu que a população na faixa etária acima de 55 anos começe a ser vacinada a partir desta segunda-feira, dia 12 de abril de 2021.

No último calendário de vacinas especificado por Emmanuel Macron durante seu discurso em 31 de março, a vez dos 60 anos viria dia 16 de abril, com acesso a todas as vacinas e a vez dos quincagenários estava prevista apenas para dia 15 de maio.

Com a nova diretriz governamental, todas as pessoas com 55 anos ou mais e anteriormente inelegíveis para vacinação poderão ser vacinadas desde já. No entanto, apenas as vacinas AstraZeneca ou Janssen (J-J) estarão disponíveis.

Vacinação na França: Janssen (J-J)

A França se prepara para receber 500.000 doses da vacina Johnson & Johnson que utiliza a mesma tecnologia que a AstraZeneca. Alertas sobre efeitos colaterais semelhantes aos suspeitos na AstraZeneca foram levantados, e o interesse pela vacina também pode ser afetado. Abrir imediatamente a vacinação para cerca de 4 milhões de pessoas de 55 a 59 anos poderá evitar a perda também dessas vacinas.

Simultaneamente, o tempo entre as duas aplicações das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna (de soro com o RNA mensageiro ) aumentará de quatro para seis semanas a partir de 14 de abril. Tal mudança permitirá o aumento do número de pessoas que receberão a primeira dose rapidamente.

As novas diretrizes de vacinação na França efetuadas para acelerar a vacinação e evitar a perda das vacinas AstraZeneca foram fruto da reatividade “para apagar fogo” que caracteriza o governo Macron. Ambas medidas foram anunciadas pelo Ministro da Saúde, Olivier Veran, no Le Journal du Dimanche (o Jornal do Domingo). Desta vez, não houve tempo para preparar a habitual elocução oficial em rede nacional. Nenhuma dose pode ser perdida, custe o que custe.