Baguete pão francês

Baguete, Patrimônio Mundial em Perigo?

Vamos começar o ano falando sobre um assunto e porque não dizer, uma atração turística muito francesa.

Declarada Patrimônio Mundial pela Unesco dia 30 novembro 2022 a baguete francesa traz consigo não somente sabor e textura inigualáveis, mas também encarna uma cultura e seus diferentes aspectos através dos tempos.

Símbolo da democracia, a baguete faz parte integrante da vida do francês. Note, ela não faz parte integrante das refeições dos franceses, mas da vida deste povo. Desde o ritual da escolha do seu padeiro preferido, passando pela conversa jogada fora no balcão para alegrar o dia até o pedaço de queijo servido depois do jantar… E se você tem a sorte de pegar a baguete na padaria saindo do forno então… Ulala! 1€ por um momento de felicidade e um sentimento de estabilidade emocional mais inigualável que o próprio sabor do item comprado.

Eu considero a baguete, este pão crocante por fora com massa tenra e arejada por dentro, uma atração de grande importância para quem visita o país. Se você esteve aqui e não comeu, tem que voltar!  Se vier não pode perder!

UM PÃO SÍMBOLO DA IDENTIDADE FRANCESA

A aparição de um pão tradicional, símbolo da identidade francesa, acontece durante a Revolução Francesa.

Em 15 de novembro de 1793 (26 Brumaire An II de acordo com o calendário revolucionário), um decreto da Convenção estipulou que todos os franceses deveriam comer o mesmo pão:

“A riqueza e a pobreza também devem desaparecer do regime de igualdade, não será mais composta de um pão de farinha de flores para os ricos e um pão de som para os pobres. Todos os padeiros serão obrigados, sob pena de encarceramento, a fazer apenas um tipo de pão: “O Pão da Igualdade” …

O pão em questão, feito de farinha de trigo, levedo, sal e água, tinha a aparência de uma grande bola redonda.

A ORIGEM DA BAGUETE

Existem inúmeras versões para explicar a aparição da Baguete, uma delas seria que padeiros que trabalhavam para Napoleão I (1769-1821) a inventaram pensando na facilidade de transporte um pão longo ao invés de redondo pelas próprias tropas do imperador.

No entanto essa versão me parece inverossímil, pois pesquisando encontrei relatos de que em 1856, Napoleão III (1803-1873) tentou regulamentar o tamanho e o peso do pão para cerca de 40 cm e 300 g. No entanto, não teve sucesso e o pão redondo continuou até o século XIX a alimentar os franceses, um pão de um quilo com a crosta crocante e grossa.

O artigo do Site France Pitoresque mostra a qual ponto a fabricação do pão sempre foi legiferada pela administração do país. Os primeiros registros de confrarias de padeiros e regulamentações datam de 1260.

A BAGUETE E O METRÔ DE PARIS

Outra versão relata que durante a construção do metrô de Paris, o engenheiro Fulgence Bienvene era obrigado a lidar com as brigas incessantes entre trabalhadores “imigrantes” (Bretões e Auvergnats). Preocupado com a segurança, ele decidiu então banir facas no canteiro de obras. A faca tinha o objetivo principal (além de brigas) de cortar pão. Assim, o engenheiro teria encomendado a um padeiro pães alongados para que fossem cortados à mão.

Com um comprimento de 80 cm e um peso de 250 g, esta baguete se espalhou por toda a França entre as duas guerras mundiais, aparentemente após a votação de uma lei que proibia os padeiros de trabalhar antes das 4 da manhã, o que não lhes dava mais tempo para preparar a bola tradicional.

A baguete é chamada de flauta (flûte) ou pequena (petite) dependendo da região. Tradicional (com farinha francesa de primeira qualidade), completa, com cereais, ela se oferece com múltiplas faces. Seu preço foi fixado por decreto prefeitoral a até a década de 1980 antes de ser deixado a critério dos padeiros.

O PRÊMIO DA MELHOR BAGUETE

Todos os anos, a cidade de Paris organiza em conjunto com a Câmara Profissional de Padeiros Artesanais e Chefs de Pastelaria o concurso da Melhor Baguete de Paris.

O prêmio é considerado pelos ganhadores uma realização profissional de peso. Além de 4000 €, o vencedor se torna o fornecedor do Palácio do Eliseu por um ano. Isso, sem falar nas vendas da padaria que aumentam consideravelmente.
Os critérios para a premiação são o sabor, o cozimento, a textura da migalha, o cheiro e a aparência. Para poder competir, os bastões de farinha devem medir 55 a 65 cm, pesar entre 250 e 300 g e ter um teor de sal da ordem de 18g/litro de farinha.

Em 2021 título de melhor baguete de Paris 2021 foi concedido à Makram Akrout, proprietário da padaria “Les boulangers de Reuilly” no bairro 12º. “Ser eleito primeiro era um objetivo para mim e eu consegui”, declarou o vencedor.
Infelizmente, sua alegria não durou. Mensagens postadas em árabe em sua página no Facebook foram tornadas públicas, revelando relações e ideias que aproximam do islamismo radical aquele que chegou ilegalmente à França vindo da Tunísia quase 20 anos atrás. O incidente representou um sério problema para o serviço de segurança do Palácio Presidencial, que excepcionalmente não ofereceu o cargo ao premiado neste ano.

Em 2022 o vencedor da melhor Baguete de Paris foi o padeiro artesão Daniel Dedun e para encontrar seu pão o visitante deve ir a padaria Frédéric Comyn, situada na 88 rue Cambronne.

A BAGUETE E A GUERRA NA UCRÂNIA

A crise energética ameaça assolar a profissão de padeiro como uma foice, ou deveria eu dizer um tanque de guerra? Sim, um tanque de guerra é o termo mais propício.

Distribuição afetada de gás, preços em alta

O sistema de distribuição de energia europeu é bastante complexo, unificado e liberal, digamos assim. Recentemente a Espanha e Portugal conseguiram se safar. Mas a França faz parte integrante deste mercado onde devido à guerra na Ucrânia, o preço do gás subiu (visto a diminuição nas entregas de gás pelos russos). O preço por MWh subiu de 50€ em janeiro de 2021 para 700€ no verão de 2022, um aumento de 1.400% em cerca de 18 meses!

Além disso, devido ao lobby pseudo-ecologista, um cronograma de manutenção atrasado e ao desligamento de reatores, a produção nuclear em nível continental caiu significativamente.

Produção de energia nuclear em baixa

O aumento do preço do gás no mercado atacadista teve um impacto óbvio no funcionamento dos distribuidores. Para manter seus custos, alguns decidiram aumentar as taxas pagas pelos consumidores. Outros se recusam a aceitar novos clientes. Outros apagaram as luzes e fecharam as portas.

Nas redes de televisão e jornais o governo anunciou subsídios e esforços mantendo o teto de quinze por cento de aumento nas contas de eletricidade e gás. No entanto, os gastos em eletricidade destes profissionais ultrapassam o limite estipulado para obtenção do subsídio. Assim, na prática certos padeiros tiveram suas faturas multiplicadas por dez. Quem pagava 120 está pagando 1200, quem pagava 1500 recebeu fatura de 15 000 €.  

Estaria a Baguete, símbolo nacional francês e patrimônio mundial segundo a Unesco em perigo?

Durante os votos de Ano Novo o presidente Macron prometeu ajuda aos artesãos que acabam de ter seu trabalho reconhecido pela Unesco. Para que a França possa manter sua quota atual de 1 padeiro para cada 1800 habitantes, o presidente vai ter que se apressar.

A MELHOR BAGUETE: ONDE ENCONTRAR

Crocante por fora e macia por dentro, a baguete ideal!

Agora que já vimos juntos todos os detalhes e peripécias desta mercadoria e atração francesa fica (the last but not the least) as dicas das 10 melhores padarias de Paris:

10 finalistas do Concurso da Melhor Baguete de Paris 2022

  • Damien Dedun « Boulangerie-Pâtisserie Frédéric Comyn » – 88, rue Cambronne (15e)
  • Khemoussi Mansour « Aux Délices de Glacière » – 90, boulevard Auguste Blanqui (13e)
  • Tzu Chun Chang « La Parisienne Saint-Domnique » – 85, rue Saint-Dominique (7e)
  • Filipe Lourenço Carpinteiro « Maison Lohezic » – 143, rue de Courcelles (17e)
  • Youssef Mnakri « Boulangerie Tembely » – 33, rue Myrha (18e)
  • Linlong Sang « Boulangerie L’Abeille » – 235, rue de Bercy (12e)
  • Thierry Guyot « Boulangerie Guyot » – 28, rue Monge (5e)
  • Renaud Lefrançois « Magali Charonne » – 135, rue de Charonne (11e)
  • Louis Blavette – « Les Frères Blavette » – 69, rue Daguerre (14e)
  • Montassar Taouai – « La Boulange » – 69, boulevard Barbès (18e)

Lista revista E Vous Melhores Baguetes de Paris

Recado da Torre Eiffel

Recebi agora em meu e-mail uma mensagem destinada aos profissionais do turismo, que será útil para todos que desejam visitar ou ainda ver a Torre Eiffel cintilante durante sua estada em Paris.

Segue o texto da mensagem traduzido:

“Olá, Como parte do plano de sobriedade energética da Cidade de Paris, a iluminação da Torre Eiffel será desligada às 23h45 a partir desta sexta-feira, 23 de setembro de 2022.

A última cintilação ocorrerá, portanto, às 23h.

Gostaríamos de chamar sua atenção para o fato de que você deve estar atento em respeitar os horários de reserva para as visitas que você organiza à noite. 

Para visitas até o topo da torre, o último acesso com reserva sera às 21h30 e para visitas até o 2º andar às 22h.

Em caso de apresentação do visitante além do horário indicado no bilhete  a visita se tornará impossibilitada.

 Agradecemos por sua compreensão e permanecemos à sua disposição,

Cordialement

Relações profissionais de Turismo Torre Eiffel”

Iluminação Torre Eiffel

De fato, assim que a noite cai, a iluminação dourada da Torre Eiffel é ligada automaticamente em menos de 10 minutos graças a sensores à luz crepuscular.

Para saber a hora a partir da qual o monumento é iluminado, basta consultar o horário do por do sol. O sistema de iluminação data de 1985 e tem nada menos que 336 lâmpadas de sódio de alta pressão de 336 1kW trocadas a cada 4 anos (a última troca ocorreu em 2019).

Além da iluminação da estrutura, um farol localizado no topo da Torre também começa a funcionar ao anoitecer.

Há 22 anos a cintilação é acionada no início de cada hora por 5 minutos. Se a noite cair às 19:40 por exemplo, a primeira cintilação ocorrerá às 20h. Este espetáculo que passa a durar até as 23 h durava até 1h da manhã.

Curiosidade

A última cintilação tem uma pequena peculiaridade: a iluminação dourada e o farol se apagam, deixando espaço apenas para a cintilação por 5 minutos.

A cintilação deve-se a nada menos que 20.000 lâmpadas de 6W que piscam sucessivamente muito rapidamente. O efeito é inspirado em flashes de câmera!

REAÇÃO à Crise energética ou demagogia

Segundo o site Lite ( fornecedor de energia) o consumo de energia das lâmpadas e iluminações da Torre antes da crise energética seria de 256€ por dia.

Já no site France Ouest é informado que o consumo de energia da Dama de Ferro é estimado em 6,7 gigawatts-hora, cerca de o equivalente a uma cidade de 3.000 habitantes, Só o brilho da Torre Eiffel representa 8.800 quilowatts-hora por ano.

No mesmo artigo é também mencionado que a supressão das iluminações é sobretudo de ordem simbólica.

Seria uma concidência a que os boatos sobre a mudança de horários das iluminações do monumento tenham iniciado logo depois que vários fornecedores de energia, Engie, EDF e TotalEnergies, publicaram um artigo, em 25 de junho de 2022, no semanário Le Journal du dimanche, pedindo aos cidadãos que reduzam seu consumo de eletricidade e gás?

Demagogia da prefeitura, “psicologia da austeridade estratégica” ou medida efetiva e rentável l? Não sei.

Torre Eiffel: E para o turista? Como fica?

Para o turista que quer visitar a Torre Eiffel a noite o importante mesmo será respeitar a hora emitida no bilhete e não chegar atrasado.

Mais um pequeno detalhe: no Natal e no Ano Novo os horários das iluminações “normais” até 1h00 da manhã serão mantidos.

Fontes: Torre Eiffel, Lite, France Ouest

Greve de controladores aéreos na França afetará todo tráfego europeu

Este dia 16 de setembro promete ser tumultuado nos aeroportos franceses, mas não somente. A greve dos controladores aéreos afetará todo tráfego aéreo Europeu.

A Direção Geral da Aviação Civil pediu às companhias aéreas que reduzissem seus horários de voo pela metade.

A Air France planeja operar 90% de seus voos de longa distância, mas apenas 45% de seus voos de curta e média distância. São mais de 200 voos cancelados no total. Sua subsidiária lowcost, a Transavia France, anuncia o cancelamento de 140 voos.

No entanto, o mais impactado, nesta fase, será a 1ª companhia aérea europeia, a Ryanair, que anuncia cancelamento de 420 voos nesta sexta-feira, ou 80.000 clientes a serem reembolsados.

Além dos voos cancelados, desvios de rotas para evitar o espaço aéreo francês devem gerar atrasos durante todo decorrer do dia para aqueles de que viajam pelos céus europeus.

Duas reivindicações

Em sua convocação para uma greve, o sindicato SNCTA (majoritário entre os controladores aéreos) reitera que vem pedindo há vários meses um aumento dos salários diante da inflação, bem como garantias sobre futuras contratações.

Ao longo de 2029-2035, um terço do órgão está se aposentando: sendo assim é imperativo antecipar e planejar contratações, reivindica a SNCTA, que espera influenciar o projeto de lei de financiamento de 2023, previsto para ser examinado pelo Parlamento em outubro.

Para isso, o Sindicato Nacional dos Controladores de Tráfego Aéreo não pretende parar por aí. Ele também fez outro aviso prévio de dois dias de greve entre quarta-feira, 28 de setembro até sexta-feira, 30 de setembro de 2022 inclusivamente.