Passe Sanitário obrigatório

Para convencer (ou eu deveria escrever coagir) o mais recalcitrantes, o Chefe de Estado francês anunciou a obrigatoriedade de tomar a vacina para todos os cuidadores, enfermeiros, médicos e outras 73 profissões, além da obrigação de apresentação do passe sanitário para o público em geral em cafés, restaurantes, shopping centres, locais culturais e transportes.


A partir de 21 de julho, o passe será obrigatório em todos os locais de lazer e cultura reunindo mais de 50 pessoas. Para todos os franceses com mais de 12 anos uma obrigação, caso eles desejem acessar um show, um concerto, um parque de diversões ou um festival.
A partir de agosto, o passe de saúde será exigido em cafés, restaurantes, shoppings, hospitais, asilos, instituições médicas e sociais, bem como para viagens aéreas, de trem e ônibus de longa distância

Ou seja, a vacina passa a ser obrigatória para todos aqueles que pretendem viver em sociedade. Os enfermeiros e médicos, aplaudidos e homenageados um ano atrás, hoje correm o risco de perder seus empregos caso não sigam as novas regras.  

Para aqueles, que como eu, já viram epidemias serem erradicadas com vacina e ou ainda que tomaram a vacina de febre amarela para ir ao Brasil, por exemplo, as novas regras impostas pelo governo de Emmanuel Macron não parecem uma grande novidade, muito menos uma razão para preocupação. Especialmente porque já estou vacinada contra a Covid-19.

Mas o francês tem pouco em comum com o ser vacinado e “terceiro mundista” que descrevi acima.

Atualmente somente 53% dos franceses foram vacinados. Vale ressaltar que a França é o único país europeu que ofereceu até o momento testes PCR gratuitos e sem restrições, então em caso de dúvida, basta ir numa farmácia e realizar um teste.

Desde o início da vacinação, há ampla disponibilidade nos centros criados com esse intuito. Então, o que impede um francês de se vacinar?

A desconfiança!

Alguns desconfiam do governo de Emmanuel Macron e tomam uma decisão mais política que sanitária.

Outros desconfiam da indústria farmacêutica. E eis o tema que a mídia parece querer calar.

Sim, a insistência da mídia em tornar diabólico qualquer questionamento torna a situação extremamente duvidosa aos olhos dos franceses. Não há discussão! Os que questionam são taxados de “complotistas” e até membros da “facho esfera”.

Porém, se você for comprar uma torradeira e o vendedor disser que existe uma possibilidade, ainda que mínima, de que a torradeira meta fogo em sua casa e mate alguém, mas que nem ele (o vendedor), nem o fabricante assumem quaisquer responsabilidades sobre isso, você compraria essa torradeira?

Tudo depende de onde você se encontra: Para alguns, essa “torradeira” ainda que um pouco perigosa, vai permitir a muitos retomarem ao trabalho e não morrerem de fome. Ai neste caso, vale mais o risco mínimo oferecido pela torradeira do que a morte de fome (ou de doença), a equação me parece óbvia.

Mas nem todos se encontram nessa posição.

Mesmo a equação sendo óbvia, o questionamento sobre a responsabilidade das indústrias farmacêuticas é válido, e muito! Afinal se você fizesse parte da ínfima proporção de pessoas que tiveram ou terão um revertério grave ou até mesmo fatal, você também gostaria de ser levado em conta.

O questionamento (sobre a responsabilidade da indústria farmacêutica) também é importante porque desmistificaria a questão: afinal, até paracetamol, colágenio ou mesmo cafeína podem causar problemas de saúde indesejáveis. E isso deveria estar sendo explicado.

Quando você compra Paracetamol você lê a bula (será?) e decide se o risco que o medicamento representa para seu fígado merece ou não ser levado em conta. Você descobre que não deve tomar caso use um medicamento anticoagulante e não toma. Enfim: você decide!   

Agora, obrigar alguém a tomar um medicamento e não assumir nenhuma responsabilidade em caso de contraindicação e ficar nesse desespero para reiterar que não há correlação entre alguém que morreu após receber a vacina e a própria vacina sem maiores explicações tem deixado os franceses tensos. Muitos se questionam…

A meu ver, comunicar, desmistificar e sobretudo, forçar o fabricante a assumir responsabilidades em caso de reações debilitantes seriam medidas sensatas e apropriadas. O indivíduo francês não é burro, mas é desconfiado. A indústria farmacêutica não está fazendo favor para ninguém.

Com a obrigatoriedade do passaporte sanitário generalizada a partir de agosto, membros da oposição política se apressaram para denunciar o fim da liberdade individual na França!  

Os anúncios das reformas sociais como a aposentadoria e o seguro desemprego feitos também por Emmanuel Macron não ajudaram a população a relaxar e se sentir confiante, mas a (até então inimaginável) proibição de ir a cafés, restaurantes e transportes levaram imediatamente mais de 900 000 pessoas a recorrer ao site de reservas Doctolib para agendar a tomada da vacina durante mesmo a elocução presidencial.

Apesar dos argumentos por parte dos mais refratários, o governo francês decidiu que a hora não está para questionamentos e sim decisões. O brasileiro já entendeu! E o francês que quiser viver em sociedade vai ser vacinado e vai ter um passe sanitário em dia, compreendendo ou não.


Notas:

O passaporte sanitário pode ser apresentado com comprovante de vacina ou teste PCR negativo. Os testes PCR sem prescrição médica, ditos testes de complacência, passarão a ser pagantes.

Link para site da vigilância sanitária UE sobre medicamentos, incluindo vacinas anti-Covid 19

Verão 2021 em Paris e na França

Verão 2021 em Paris, ou, todas as atividades as quais não veremos este ano.

Paris e a pequena região onde se encontra a capital francesa a Ilê de France, sediam durante o verão milhares de manifestações artísticas e culturais.

Desde a Festa da Música, dia 21 de junho, até os dias do Patrimônio em setembro, passando por Paris Plage em julho e agosto e pelas comemorações do 14 de Julho, o calendário de atividades de lazer, de cultura e diversão está, mais uma vez, repleto em 2021.

Para dar um exemplo de quão variada e eclética está a programação segue uma pequena lista de alguns eventos e links para seus respectivos sites.

Verão em Paris- Atividades

Pelas manhãs a cidade ainda fica vazia
De junho à setembro, jovens preenchem o espaço com muita festa e animação nas margens do Rio Sena

Festival Paris l’été

Desde 1990, o festival Paris l’été oferece atividades ao ar livre em Paris e em uma dúzia de cidades da Île-de-France.

O evento oferece apresentações de dança, peças teatrais, espetáculos musicais e circenses próximos a monumentos, parques e às vezes até mesmo dentro da sua casa. No total são mais de 70 apresentações gratuitas ou pagantes em cerca de trinta localidades diferentes.

Acesse o site para conhecer o Festival Paris l’été ( Festival Paris no Verão)

Paris Jazz Festival

O evento que conta com a vanguarda do Jazz da cena parisiense e internacional recebeu em sua última temporada mais de 120.000 espectadores.

30 de junho a 8 de setembro

Concertos Gratuitos, entrada ao Parc Floral 2,50

Paris Jazz Festival – Festivals du Parc Floral

La Nuit aux Invalides

Este ano, mais uma vez, Les Invalides e Amaclio Productions propõem uma viagem no tempo em pleno coração do edifício. O espetáculo oferece uma noite inesquecível em comemoração ao bicentenário da morte de Napoleão.

De 07 julho 2021 ao 26 agosto2021

Hôtel national des Invalides – Esplanade des Invalides, Paris

Fête Nationale du 14 juillet

Desfile Militar tendo como maior destaque as apresentações das Forças Aéreas, Concerto e Fogos de Artifício na Torre Eiffel e (quase) todas cidades da França, Concertos musicais variados, enfim, dia de festa geral!

13 e 14 de julho 2021

Sem esquecer obviamente do famoso Baile dos Bombeiros

Le bal des Pompiers ou Baile dos Bombeiros

13 e 14 de julho nas casernas de Bombeiros do Pais

Paris et Ile-de-France – Paris et Île-de-France, Paris

Além da Semana da Alta-Costura ( Haute Couture Week), Ópera ao Ar Livre, os espetáculos do Théâtre de la Verdure du Jardin de Shakespeare, a exposição Napoleão na Villette  entre centenas de outras atividades.  

Museus

Seguindo as últimas medidas do governo, a maioria dos museus parisienses abriram suas portas novamente a partir do dia 19 de maio. Para garantir uma visita segura às suas exposições permanentes e temporárias, os locais culturais adaptaram suas normas e horários.

Com as novas condições “pós Covid19”  é aconselhável reservar entradas com antecedência; alguns museus impõem reservas on-line obrigatórias. O uso de uma máscara segue necessário para visitas.

Dentre as inúmeras exposições, o Atelier dês Lumières apresenta a obra de Gaudí em seu espetáculo de som, luz e música até 2 de janeiro 2022. Trata-se provavelmente do único espetáculo que verei, se a situação sanitária melhorar daqui até lá!

Verão em Paris 2021-Crise Sanitária

Sim, porque belezas à parte, a crise sanitária ainda continua. E mesmo estando vacinada, aguardo pacientemente a confirmação que o procedimento será eficaz contra as diversas variantes anunciadas pela imprensa recentemente: Delta, Epsilon, etc e tal.

As autoridades estão de olho em Paris, onde um leve aumento de casos já preocupa e preenche os telejornais.

A taxa de incidência da covid-19 ao longo dos últimos dias era de 54,2 casos por 100.000 habitantes em Paris, contra 49,8 nos Landes, o segundo departamento mais afetado pela epidemia no momento.

Esses níveis permanecem baixos em termos absolutos, mas colocam esses departamentos na linha de frente se uma possível quarta onda ocorresse.

Quarta onda já anunciada pela mídia. Assim como o temor de novas contaminações que tem obrigado alguns países a reforçar normas sanitárias de deslocamento (novamente).

Então, para a autora desse texto, muitas das atividades culturais do verão em Paris 2021 podem esperar.

2022 tem mais…

Esse ano vou aproveitar do verão para visitar a França, seu patrimônio e sua natureza. Adeus cidade grande, Au revoir Paris, França lá vamos nós.

Greves de transportes marcam volta à normalidade

Greves de transportes marcam volta à normalidade ou a França sendo a França.

Transportes aéreos: Um comunicado conjunto emitido por diversos sindicatos (CGT, CFE-CGE, Unsa, CFDT e FO) acusa o projeto dos gestores da ADP de “abolir permanentemente o salário de mais de um mês para todos os funcionários e forçá-los a aceitar mobilidade geográfica que gera tempo adicional de locomoção”.

De fato, o projeto denominado PACT (Plano de Adaptação de Condições de Trabalho) planeja abolir vários bônus, resultando em cortes salariais entre 4 e 8%. Se o colaborador recusar, o PES (Plano de Economia Social aprovado pelo governo) prevê a demissão do mesmo!

Vale lembrar que esse tipo de dispositivo representa uma mudança radical nas leis trabalhistas francesas que sempre favoreceram o empregado perante ao empregador. 

O Comitê Social e Econômico do Aeroporto de Paris também se opõem ao projeto, e denuncia o desejo da gestão atual de fazer economias em um momento em que a pandemia teve consequências significativas sobre a atividade da ADP – Aéroports de Paris. A paralisação está prevista entre os dias 1° e 5 de julho.

Transportes ferroviários :  Para as empresas de transporte ferroviário da SNCF,o sindicato CGT convocou uma greve nacional dia 1 de Julho para exigir um aumento geral dos salários e recrutamento adicional.

Finalmente, nos dias 3 e 4 de julho, são os funcionários da TGV OuiGo que são chamados a parar de trabalhar.

As datas escolhidas para o movimento de greve de transportes interferem fortemente nos planos de férias de muitos franceses.

Paris – De acordo com a Diretoria de Ordem Pública e Trânsito (DOPC) da Prefeitura de Polícia registrou 2093 manifestações de protesto declaradas em 2019

É importante ressaltar que essas greves de transportes não catalisam somente a insatisfação com os cortes e arrochos ocasionados pela crise da Covid-19. Há também todas as feridas sociais do início do mandato de Emmanuel Macron, que não foram esquecidas e que não cicatrizaram durante a crise de saúde: as reformas do estatuto da SNCF, a raiva dos “coletes amarelos”, a oposição à reforma da previdência são alguns dos fatores que ainda estão muito presentes entre os ferroviários. 

O Francês teme que as mudanças elaboradas pelo governo atual os aproximem inexoravelmente do sistema empregatício e social americano ou Americain Way of Life.

Ou marche ou Crève

Uma expressão emprestada à Legião Estrangeira designa o sentimento de muitos franceses em relação as mudanças recentes e futuras:Ou marche ou Crève”, ou seja ou você anda (segundo as novas normas) ou você “morre”. Ou você se adapta às normas impostas pela oligarquia “mundialista” ou você sai do circuito econômico.

Acampamento Gilets Jaunes – Movimento Coletes Amarelos 2019

Buscando sobre a origem da expressão Ou Marche ou Crève, encontrei justamente um vídeo de Pierre Hillard, ex-professor de relações internacionais da École supérieure du commerce em Paris, doutor em ciência política. Nele o professor lamenta a ignorância das populações sobre a real situação da França e que está por vir. Ele destaca a falta de “humanidade” das oligarquias mundialistas, o perigo crescente do controle da mídia por essas mesmas oligarquias e o desejo de impor uma cultura única tendo como princípio de base o individualismo e o consumo. Hillard acusa a Europa de ser o maior instrumento desse mecanismo.

As atividades do grupo Bidelberg 

Outro grupo que levanta suspeitas na França de trabalhar em prol de uma mundialização impiedosa e imoral é o Grupo Bilderberg. Meu filho de 16 anos foi o primeiro a me chamar a atenção sobre suas atividades.

Denis Healey, um dos iniciadores da Conferência Bilderberg de 1954 e membro do comitê diretor por 30 anos, explicou em 2001: “Dizer que estávamos procurando estabelecer um único governo mundial é muito exagerado, mas não totalmente absurdo. Nós em Bilderberg pensamos que não poderíamos entrar em guerra para sempre e matar milhões de pessoas por nada. Nós pensamos que uma única comunidade poderia ser uma coisa boa.

O relatório da reunião do grupo em 1999, publicado pelo jornal independente inglês Schnews coloca em evidência, por exemplo, o desejo dos participantes de “redesenhar a economia mundial”.

Mudanças sim, mas para melhor

Para a ADP, a SNCF e para o mundo, talvez o tempo seja propício para mudanças, mas os franceses querem ter certeza que essas mudanças sejam para o melhor.

Resumindo enfim, os franceses continuam com boa memória e não estão dispostos a deixar o governo atual e a Europa passarem suas “boiadas” sob pretexto da Covid-19. 


Notas:

ADP Aéroports de Paris

SNCF Société Nationale de Chemin Ferroviaires

O Grupo Bilderberg, também conhecido como Conferência de Bilderberg ou Clube Bilderberg, é uma reunião anual e informal de cerca de cento e trinta pessoas, principalmente americanos e europeus, compostos majoritariamente por personalidades da diplomacia, negócios, política e mídia. Este fórum anual foi inaugurado em maio de 1954 em Oosterbeek, na Holanda, em uma reunião no Hotel Bilderberg (daí seu nome) e tem escritórios em Leiden, nos Países Baixos. Sua cobertura não midiática e a natureza confidencial das revisões da conferência regularmente despertam controvérsias e alimentam teorias conspiratórias sobre sua influência.