O Euromonitor International divulgou um novo relatório, no World Travel Market (WTM) de Londres, sobre as megatendências que moldam o futuro das viagens. A proposta da pesquisa é ajudar na compreensão das mudanças de comportamentos dos consumidores e como elas impactam os países e indústrias, mostrando como o setor turístico está se desenvolvendo globalmente dentro do ambiente econômico e social. No relatório foram divulgadas oito megatendências que abrangem consumidores de todo o mundo, comentadas abaixo:
Desconstruindo a viagem do cliente: a maior parte dos viajantes ainda está “presa” nos processos tradicionais que abarcam desde o momento de preparação da viagem até à volta para casa, deixando pouco espaço para a personalização. Mas isso tem mudado. Com a finalidade de elevar o grau de fidelização dos clientes, alguns agentes de mercado têm procurado envolver os viajantes fora das fases de engajamento tradicionalmente compreendidas, favorecendo, também, a personalização de experiências.
Resíduos plásticos: Uma maior preocupação com o meio ambiente já é uma realidade em uma parcela dos viajantes globais. E a conscientização sobre os efeitos negativos dos resíduos plásticos aumentou consideravelmente entre eles. Isso tem levado diversas empresas do setor a buscar propostas mais sustentáveis e alternativas viáveis que conversem com esses clientes.
A alegria de perder (The Joy of Missing Out): trata-se de uma tendência recente que veio para contrariar a hiperconectividade. Estimulados por um desejo de aproveitar o momento sem distrações, os turistas buscam “experiências off-line”. E os atores de mercado estão atentos a isso.
Conservation China: nas últimas décadas, o mundo tem estado atento a modernização da China. Ao mesmo tempo em que, por vezes, se observa a imagem da China associada ao desrespeito com o meio ambiente. Por esse motivo o país está mudando, considerando a conservação e vendo o turismo como uma forma de impulsionar as economias rurais.
Blurring Industry Lines: as marcas de varejo estão mais atentas à indústria de viagens para aumentar os pontos de contato com seus clientes. Seguindo a lógica de que as pessoas viajam em um período limitado do ano, mas consomem o ano inteiro, essas empresas começaram a pensar em produtos e serviços para alcançar esse público em qualquer época.
Economia compartilhada ganhando os céus: aqui os consumidores optam por pagar pelo acesso/compartilhamento de bens e serviços dentro de um determinado período de tempo, baseando-se na negociação e não na propriedade. É a chamada “economia de acesso”, facilitada por serviços como reservas de transportes e hospedagens alternativas que contribuem, também, na personalização das viagens.
Experiências “facilitadas”: essa megatendência aponta o uso da tecnologia na facilitação das jornadas de viagens. Como exemplos são citados a biometria e o reconhecimento facial, que estão se tornando cada vez mais comuns nos aeroportos. Os viajantes buscam ter seus processos de viagens facilitados e isso é algo que já pode ser proporcionado pela inovação tecnológica.
Trading Down: agentes de mercado estão procurando ampliar o alcance de seus clientes atingindo aqueles que tem menor poder aquisitivo, através de recursos como, por exemplo, facilidades de pagamento. Essa preocupação se dá pelo perceptível crescimento econômico de algumas camadas sociais em determinadas localidades do globo. E acaba se refletindo no crescimento de voos de baixo custo e numa movimentação para aumentar a segmentação de hotéis.
Muitas dessas tendências também já são realidade do Brasil, é ficar atento para não perder tempo e transformar para se adaptar e inovar.
Pacotes de viagens genéricos, que não conversam com as especificidades de cada cliente estão cedendo espaço para a busca por experiências personalizadas. Os novos viajantes estão se desprendendo das tradicionais atrações turísticas e buscando vivências únicas que conversem com seus anseios e possam proporcionar um impacto interior.
Esses turistas querem vivenciar a cultura do destino, se envolver com comunidades locais, ter uma experiência exclusiva. Por isso, também, o aumento na procura por viagens que gerem algum retorno cultural, ou de aprendizados que podem abranger campos diversos, já citados aqui.
Os anseios por descobrir lugares diferentes e interagir com coisas novas, que fogem do cotidiano dos viajantes, têm influenciado consideravelmente nas escolhas dos destinos e na maneira como se organizam as viagens. Esse perfil cada vez mais crescente de clientes deseja personalização.
E como os fornecedores de produtos e serviços que estão há anos atuando no mercado turístico podem acompanhar essa tendência?
Segundo uma pesquisa da U.S. Experiential Travel Trends, realizada com 2.341 entrevistados, a maioria dos viajantes (65%) disse que prioriza o retorno de uma viagem tendo experimentado algo novo nela, e 63% informaram procurar experiências de viagem que lhe tragam uma nova perspectiva sobre o mundo.
Que nós, atores do mercado turístico, estejamos sempre aptos a perceber, e se adequar, a necessidade de cada cliente, o que que eles buscam alcançar e quais são as novas tendências as quais precisamos estar atentos. Conhecer bem o cliente a fim de atender seus anseios e personalizar o atendimento é sempre a opção mais pedida.
Nós profissionais sabemos bem que fazer o Turismo no Brasil tem sido sinônimo, mais do que nunca, de máximo proveito das oportunidades que surgem. Com um quadro de difícil desenvolvimento, qualquer alternativa que configure um progresso para empresas, colaboradores e para a indústria do turismo deve ser desfrutada. Recentemente, o maior evento da indústria de viagens dos Estados Unidos, a IPW anunciou que irá direcionar atenção especial para o Brasil.
De acordo com Malcolm Smith, gerente geral da IPW a expectativa é de que 2,2 milhões de brasileiros visitem os EUA, ou seja, 9% a menos que no ano passado. Ainda que o esperado seja uma redução, atrair turistas daqui para passear pelo território americano é uma das estratégias que continua em vigor. Smith também informou que a US Travel Association está empenhada em facilitar as viagens dos sul-americanos aos EUA, através de aprimoramentos na política de vistos.
Para 2020, o esperado é que o número de turistas brasileiros em solo americano seja de 2,4 milhões. Parece fácil, mas não é: o número expressa um aumento de 19% em quatro anos. A projeção para 2020 de visitantes da América do Sul é de chegar a 5,1 milhões, o que compreende a 16% de aumento.
O que podemos concluir? Que mesmo em meio à turbulência econômica nacional, ainda somos uma força da América do Sul. Em especial para os Estados Unidos, país disparadamente preferido entre os viajantes brasileiros. Os turistas brasileiros ainda produzem bastante efeito internacional. Naturalmente, manter a relação com o Tio Sam sendo um dos seus “mercados-chave” é muito importante para o turismo brasileiro, assim como a relação com outros mercados. A recuperação da oferta aérea internacional e a vinda de estrangeiros dependem também do aumento das viagens dos brasileiros ao exterior.
Ficamos de olho. Precisamos de brasileiros indo e estrangeiros vindo. E de facilitação de vistos.
Mesmo com a carência de informações quantitativas e qualitativas que trabalhamos no turismo brasileiro, sempre vivo “catando” tendências, números, conversando com colegas e procurando observar novidades que possam nos fazer avançar para acompanhar as rápidas e instantâneas transformações por que passa o setor de viagens e turismo no Brasil e no mundo.
As tecnologias são o motor das tendências por que passa o turismo, e as vemos avançar muito em alguns setores, como na aviação civil, nos setores de reservas e nas relações que os grandes operadores de diversos serviços desenvolvem entre si nas relações BtoB no mercado.
É claro que ainda há muito a avançar nas relações dentro do mercado, e muito mais ainda nas relações ou na provocação e interação com o consumidor final e os diversos prestadores de serviços. Olhando para o mercado brasileiro, salvo raras exceções, ainda nos vejo muito atrás do que a média mundial em todos os tipos de relações BtoB e BtoC. Isso se nota no setor privado e é ainda mais grave no setor público, que tem muitas dificuldades em ter agilidade e acompanhar tendências, sem mencionar a descontinuidade de politicas públicas nas mais diversas esferas.
O Suplemento Especial que o JP soltou sobre TECNOLOGIA me fez refletir sobre muitos aspectos no uso das tecnologias a favor do turismo e da competitividade que precisamos alcançar. Me ficou o alerta: não temos soluções tecnológicas em estudo ou como prioridade em nossos planejamentos; parece que estamos nos contentando com as redes sociais (e ainda sem entende-las e usá-las de forma eficaz).
Olhar para o mundo, interagir com outros setores de mercado, inovar e transformar as relações de mercado e, sobretudo com os consumidores é imperativo, já passou da hora.