Retrospectiva 23: Aviação

Nossa série sobre análises do ano de 2023 terá alguns convidados. A ideia é compartilhar as principais conclusões e desafios que marcam o “fim da pandemia”. E 2024?

Nesse papo com Jurema Monteiro, Presidente da ABEAR falamos sobre muitos temas. Está imperdível:

  1. Cenário global da aviação nesse ano de 2023 e as principais diferenças entre os mercados de aviação domésticos e internacionais
  2. O Brasil acompanha esse cenário de recuperação? 
  3. Alta de preços. Como a indústria de viagens pode lidar com essa conjuntura para estimular as viagens domésticas?
  4. Como a sustentabilidade está influenciando as operações das companhias aéreas brasileiras? Há algum avanço significativo em tecnologias mais limpas ou eficientes que você gostaria de destacar?

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Brasil se aproxima dos níveis pré-pandêmicos em dezembro

Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina se destacam com os melhores desempenhos na chegada de voos internacionais

Um estudo divulgado hoje pela ForwardKeys (empresa de inteligência de viagens com sede na Espanha) há um aumento no interesse dos estrangeiros para visitar o Brasil no mês de dezembro. A informação indica que o país se aproxima dos níveis pré-crise na chegada de viajantes internacionais.  

Os dados são calculados para chegadas aéreas internacionais, que já estão apenas 4% atrás de 2019. Mas a recuperação ainda é diferente em cada estado; variáveis como conectividade e diferenças nos principais mercados emissores ao Brasil podem justificar essas variações. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina se destacam como os principais desempenhos, superando os níveis pré-pandêmicos de demanda por viagens agora em dezembro. 

Mesmo com a limitada conectividade dos voos internacionais com chegadas ao Brasil, os dados mostram uma demanda aquecida. Em geral, a capacidade de assentos para voos internacionais atingiu o nível pré-pandemia. E, como o restabelecimento das conexões internacionais é desigual entre os estados do Brasil, o cenário reforça a dependência de São Paulo como aeroporto de entrada. Isso ainda pode causar aumento das tarifas afastando potenciais turistas durante os períodos de alta temporada ou futuro próximo. E o Terminal 3 de Guarulhos tem capacidade para essa demanda?

Perspectivas para o primeiro trimestre de 2024

A procura de viagens já está alta no primeiro trimestre de 2024, segundo a ForwardKeys, especialmente de viagens de longo curso. Os viajantes da Alemanha, Suíça e Itália desempenharão um papel crucial para manter o setor de turismo movimentado no início próximo ano. As perspectivas também são muito promissoras para mercados regionais como Uruguai, Chile e Argentina. 

O Portal de Dados da EMBRATUR, que permite a visualização da oferta de voos futuros para o Brasil, entre janeiro e março de 2024, mostra grande parte de origens no Continente Sul-Americano, com a exceção de Lisboa, conforme a imagem abaixo:  

Oferta de voos internacionais para o Brasil, por origem, entre janeiro e março de 2024. Fonte: Portal de Dados da EMBRATUR, 22/11/23.

Os dados da EMBRATUR também trazem mais detalhes da grande disparidade do destino desses voos, quase 57% para São Paulo e 20% para o Rio de Janeiro. Na imagem abaixo é possível ver os destinos dos voos e os desafios regionais que existem para que cada lugar do Brasil possa trazer visitantes internacionais.

Destino dos voos internacionais para o Brasil entre janeiro e março de 2024.
Fonte: Portal de Dados da EMBRATUR, 22/11/23.

Saber qual mercado se promover e criar condições para que o turista chegue ao seu destino é uma tarefa que exige o uso de dados apropriados, e mais, investimentos em marketing internacional que tragam resultados efetivos. 

TURISMO: PARAMOS E JÁ VOLTAMOS TOTAL?

O turismo é uma das mais significativas atividades econômicas para o Brasil, mas como em outras partes do mundo, o país tem tido um longo processo de recuperação para atingir os volumes pré pandemia. Um dos principais fatores que impactam a recuperação do turismo no Brasil é a capacidade aérea limitada.

Falei mais sobre o retorno global do turismo nesse post.

A falta de oferta de assentos aéreos nacionais e internacionais é um dos grandes desafios para o turismo brasileiro. A oferta limitada de voos internacionais e o preço das viagens dentro do Brasil são fatores que podem desencorajar os turistas estrangeiros a nos visitar. Além de restringir o acesso dos próprios brasileiros as viagens dentro do seu país.

Hoje recebi uma boa notícia da ForwardKeys, empresa espanhola que monitora a oferta aérea global. Os últimos dados de capacidade aérea da empresa mostram uma melhoria acentuada tanto para a capacidade de assentos internacionais quanto domésticos no Brasil no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. O Brasil é, atrás apenas do Chile, o destino latino-americano que mostra o maior aumento na capacidade de assentos de voos internacionais no terceiro trimestre de 2023: um surpreendente aumento de 25%. 

Por outro lado, os assentos domésticos também devem aumentar cerca de 13%. A malha aérea doméstica do terceiro trimestre de 2023 (meses de julho, agosto e setembro) segue um ritmo de expansão, com 14% mais voos do que no ano de 2022, segundo a ABEAR Associação Brasileira das Empresas Aéreas. A entidade afirma que o índice mostra uma superação total do período pré-crise.

O QUE É NECESSÁRIO?

“Para mitigar o impacto da capacidade aérea limitada na recuperação do turismo, os destinos brasileiros precisam trabalhar com as companhias aéreas e investir em estratégias para expandir a conectividade aérea. Isso pode incluir atrair novas companhias aéreas, negociar com as transportadoras existentes para mais voos e melhorar a infraestrutura aeroportuária. Além disso, campanhas de marketing direcionadas e incentivos para companhias aéreas e turistas podem ajudar a promover o Brasil como um destino desejável, apesar de quaisquer desafios iniciais com a capacidade de viagem aérea”, aconselha A. Gómez García, Chefe de Market Intelligence da ForwardKeys.

A maioria dos destinos turísticos brasileiros, junto com as empresas aéreas tem feito esse esforço recomendado por Gómez: expandir a conectividade aérea brasileira. Na nossa opinião o que ainda falta para estimular o turismo doméstico brasileiro é o esforça de marketing para que os brasileiros viajem dentro do Brasil. Não necessariamente pela via aérea. 

O caminho para a recuperação plena da indústria turística brasileira passa, inequivocamente, pela expansão da capacidade aérea e por campanhas de marketing direcionadas. No entanto, é imprescindível um esforço coordenado entre o governo e o setor privado para estimular o turismo interno, promovendo a riqueza de experiências que o Brasil tem a oferecer, independente do meio de transporte. Um esforço continuado, permanente.

O futuro do turismo no Brasil depende da implementação de estratégias efetivas que ajudem a superar esses desafios e a mostrar para o mundo, e para os brasileiros, o quanto o nosso país tem a oferecer. O potencial é imenso, e com estratégias adequadas e continuadas, será possível alcançar uma recuperação sustentável e duradoura na indústria do turismo.

3 fatores que podem ajudar na reconstrução do turismo

Em todo o planeta, em 2020, o turismo sozinho perdeu 4,5 trilhões de dólares e 62 milhões de empregos. No Brasil dados da CNC dizem que o setor deixou de faturar R$ 473,7 bilhões em receitas desde o início da pandemia até dezembro de 2021[1]. Só em 2020 foram perdidas 476 mil vagas formais segundo o CAGED.

Existem alguns fatores fundamentais para que o setor possa se reconstruir e ser ainda melhor do que no período pré-crise. Em tempos de reconexão das pessoas observamos tipos de comportamento que se destacam; como das viagens com vários propósitos ou mistas. A facilidade de trabalhar de qualquer lugar também faz com que as viagens possam ter uma duração mais longa e gasto maior. E o foco no bem-estar e na segurança ainda são temas presentes na mente dos viajantes.

Alguns fatores nos levam a refletir o que pode ajudar a indústria de viagens e turismo a ser melhor do que no período pré-crise (para além do cenário macro-econômico global que impõe inflação e recessão econômica, invasão da Ucrânia e falta de mão de obra especializada na aviação civil.

O primeiro seria buscar entender a flutuação da demanda para adequar planos de metas e ajustes de custos das empresas. Basear-se em dados do mercado, estudos e nas informações da própria empresa faz a diferença. Precisamos então tomar decisões com base em dados e nas informações disponíveis.

Depois, entendo que precisamos usar mais as tecnologias como facilitadoras das experiências de viagens, especialmente para adequar cada etapa da jornada às necessidades do viajante. As empresas de turismo no Brasil, sobretudo as pequenas e médias, usam tecnologia para gestão, e ainda estão longe ao trazer opções de venda que facilitem a vida do viajante.

Por último, o desafio de desenhar viagens com propósito, onde a autenticidade cultural local deve estar no centro da experiência da viagem. Vejo que ainda nos limitamos aos modelos tradicionais, passeios sem personalização. E o que não faltam são opções locais de atividades que certamente podem ser inesquecíveis (além de trazer mais visitantes).

O que mais você soma a esses temas? Compartilha aqui conosco.


[1] CESARCANTEIRO. Turismo deixou de faturar R$ 473,7 bi com pandemia, diz CNC. Cnnbrasil.com.br. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/turismo-deixou-de-faturar-r-4737-bi-com-pandemia-diz-cnc/>. Acesso em: 4 jul. 2022.

Semelhanças entre 2021 e 2022

Desde que passamos a pensar como seria a recuperação do turismo esteve presente a reflexão de que enfrentaríamos períodos de altos e baixos. E os dados e análises de cenários vêm mostrando um caminho desafiador desde julho de 2020 quando esse debate começou de forma mais intensa. Falamos disso nesse post aqui.

Depois de vivermos 2020 como o pior da história do turismo desde os anos 90, com uma queda de 73% nas chegadas internacionais e de -63% nas receitas; 2021 também se revelou desafiador. Esses dados da OMT ainda mostram -72% (queda) nas chegadas internacionais em relação a 2019; e somente +4% em relação a 2020. Em fevereiro de 2021 a curva de chegadas parecia decolar de forma lenta, e em agosto já veio a queda apressada, conforme imagem abaixo. A curva de abril a novembro segue uma tendência nos 3 anos, com grandes diferenças nos quatro primeiros meses do ano.

Fonte: Barômetro da OMT, janeiro 2022.

Destaques de 2021:

O “bom” desempenho da Europa, Americas e do Caribe (com a melhor performance) são as evidências do ano passado. A recuperação da indústria internacionalmente foi fraca, e a confiança nas viagens vai melhorando na medida em que avança a vacinação. A facilitação nas fronteiras segue a vacinação e as testagens, o que vai trazendo condições de recuperação gradual. As viagens domésticas acabam tendo força no mundo inteiro, e as de curta distância prevalecem na Ásia Pacífico. A Ômicron já assume protagonismo pelo mundo.

Em 2021 a OMT registra um aumento nos gastos em viagens internacionais e permanências mais longas. O trabalho remoto vem se consolidando, o que facilita estar em qualquer lugar para aqueles profissionais que não precisam de presença. Não vejo essa tendência no Brasil com clareza.

DESAFIOS 2022:

Viver na gangorra parece ainda ser uma realidade desse ano, apesar de que as quedas parecem mais “previsíveis” depois do que vivemos em 2020 e 2021. Dados atualizados, acompanhamento diário de vendas e adaptabilidade ainda são as palavras que me parecem precisar de ênfase em nossos negócios. O contínuo crescimento das tecnologias sem toque, o comércio eletrônico e a certificação de COVID são as ferramentas mais eficientes no dia-a-dia de nosso trabalho no início de 2022. As projeções do Painel de Especialistas da OMT esse ano mostram mais otimismo com a recuperação da Europa e das Américas. O turismo internacional, na opinião da maioria dos especialistas, deve retomar aos níveis pré-pandemia em 2024; projeção também de associações globais de turismo.

Tendências

Segue o doméstico como rei, viagens mais próximas de casa. As tendências seguem com atividades de natureza, atividades ao ar livre e reservas mais próximas da data das viagens. Também experiências autênticas, responsabilidade ambiental e social seguem como preocupações e critérios de avaliação dos viajantes. De olho. O que você tem notado desde seu dia-a-dia?

5 motivos que ainda restrigem a abertura das viagens aos brasileiros (jun 2021)

Os desafios ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus no mundo e, especialmente, no Brasil, ainda são imensos. Quando analisamos a indústria de viagens e turismo vemos alguns movimentos de viagens domésticas e intra-regionais em alguns lugares do mundo, e grande parte dos estudos de demanda futura indicam um grande desejo reprimido para viajar. E que que falta no cenário atual para trazer confiança para viajar aqui no Brasil ?

O desejo dos brasileiros de viajar dentro do país e, também, ao exterior é citado por diversos estudos. Buscamos aqui uma análise de quais são os fatores podem impactar a ida de brasileiros ao exterior, e a chegada de estrangeiros ao Brasil. Selecionamos aqui os principais países emissores de turistas ao Brasil e aqueles para os quais os brasileiros mais viajam.

1. CASOS POR MILHÃO DE PESSOAS

Ainda temos muitos casos de pessoas sendo contaminadas. Abaixo verificamos nos dados de 1o. de maio até 20 de junho de 2021 o número de casos confirmados a cada duas semanas por milhão de pessoas. O Brasil e os principais emissores de turistas ao nosso país ou destinos que os brasileiros viajam estão em patamares de contaminação bastante diferentes, e a situação da América do Sul é bastante negativa em relação à Europa e América do Norte. Vamos lembrar que além do Brasil, todo o continente precisa apresentar números melhores.

2. VACINAÇÃO

Dados do Our World in Data mostram que o Brasil tem hoje somente 11% da população totalmente vacinada. Com as informações que temos hoje sabemos que a vacinação, seu ritmo e o percentual da população vacinada por milhão de habitantes é um dos critérios para que os países decidam ou não abrir as fronteiras para receber viajantes. Alguns de nossos vizinhos, como o Chile e o Uruguai já apresentam um percentual maior da população com 2 doses de vacina.

3. VARIANTES DA COVID-19

O alto número de contágios e o pouco percentual da população vacinada ainda trazem o surgimento de novas variantes no Brasil. As incertezas sobre a imunização e o nível de contágio das novas variantes fazem com que os países olhem com cautela para o surgimento de novas cepas do vírus. Um dos motivos para que a União Européia não tenha autorizado até agora a viagem de brasileiros já vacinados é a variante chamada de gamma pela OMS. Esta circula em todo o Brasil, é mais contagiante e pode reinfectar quem já teve a doença.

4. FRONTEIRAS

O mundo ainda olha para o Brasil como fonte de contágios e muitas mortes. Os temas ligados às variantes, vacinação, novos números de casos e a forma como o país “administra” a pandemia resultam em medidas de proibição de entrada de brasileiros em outros países por via terrestre, aérea e marítima. O mapa abaixo, ilustrado pelo KAYAK, mostra fronteiras abertas para 6 países, com restrições para outros 99 e 115 com fronteiras totalmente fechadas.

5. VOOS INTERNACIONAIS

A oferta de voos internacionais ainda é pequena, tornando as viagens mais longas e mais difíceis para o Brasil. A recuperação da oferta de voos internacionais ao patamar de 2019 ainda está longe no Brasil, e, dificilmente, ocorrerá antes de 2024. Todas as restrições mencionadas acima apontam a diminuição de voos internacionais de/para o Brasil, que, segundo os dados da Forwardkeys, encontram-se no patamar de -94,5% entre 1 de janeiro a 13 de junho de 2021 em relação ao mesmo período de 2019. As chegadas futuras, baseadas em bilhetes aéreos já comprados entre 13 de junho e 25 de julho encontram-se negativos em 90,5% em relação ao mesmo período de 2019.

O QUE PRECISAMOS URGENTE?

Além do controle da pandemia, da realização de testagens, do avanço mais rápido da vacinação, algumas medidas se tornam essenciais para que, quando o cenário atual melhorar, as pessoas tenham acesso às viagens internacionais. Dentre elas destaco a CERTIFICAÇÃO DE VACINAÇÃO. Os acordos multilaterais estabelecidos entre vários países como por exemplo na União Europeia ou o IATA TRAVEL PASS, são exemplos de procedimentos que serão aceitos de forma coordenada e universal em diversos países. Até agora a iniciativa que temos no Brasil é o Passaporte Sanitário que nasceu no Congresso já cheio de dúvidas. Mas destaco, para viajar ao exterior é preciso que a ANVISA e as autoridades diplomáticas brasileiras integrem acordos multilaterais para aceitar o certificado de vacinação do Brasil.

Estamos completamente DESAPARECIDOS do mercado mundial de turismo. Não tivemos nenhuma ação de viagens virtuais ou ações para mostrar o que as pessoas podem fazer aqui depois que as viagens se normalizarem. Desde agosto de 2019 que o número de passageiros pagos em viagens internacionais de/para o Brasil só diminuem. Entramos na pandemia em desvantagem ao resto do mundo no turismo quando a média mundial de chegadas internacionais de turistas foi de +3,4% e o Brasil teve queda de 4,7%. PRECISAMOS CUIDAR DA IMAGEM DE NOSSO PAÍS NUM CENÁRIO DE DEMANDA ESCASSA E MUITA COMPETITIVIDADE.

Últimos dados do internacional – OUT 2020

Dados são essenciais para pensar o futuro do turismo nesse cenário ainda nebuloso. Trazemos um vídeo com os últimos dados da OMT e da Fowardkeys sobre o mundo e o Brasil. Também falamos de projeção para 2020 e dos impactos que a economia global sofreu com a não realização de viagens.

Se quiser saber mais sobre o turismo internacional para o Brasil pode acessar esses posts: Perdas do Turismo, Histórico de chegada de estrangeiros no Brasil e consequências para o futuro pós pandemia.

2 lições da pandemia para o turismo

Photo by Joanna Kosinska on Unsplash

A experiência me ensinou que mesmo para as maiores tragédias ou sofrimentos em nossa vida sempre há uma lição a aprender, algum aspecto que podemos melhorar. Nesse momento sem precedentes para a humanidade, e especialmente para a indústria de viagens e turismo, tenho me perguntado: quais os grandes ensinamentos eu posso tirar? Essa reflexão já me despertou dois temas que não são nenhuma novidade, e sim cada vez mais essenciais para a sobrevivência e avanços do nosso setor.

Sobre a persistência

Um primeiro aspecto, ligado às incertezas temporais da pandemia, nos obriga a pensar mais no longo prazo, a entender fases distintas e planejar etapas para o futuro. Falo de planejamento de longo prazo, de continuidade e evolução renovadora em nossas empresas e, sobretudo, nas políticas púbicas do setor. Entendendo a necessidade de pensarmos no agora, em termos que pagar a conta no final do mês, não consigo conceber que nosso país não desenvolva a capacidade de cooperação publico-privada para o desenvolvimento do turismo no longo prazo. Ao assumirmos uma posição de liderança em nosso setor podemos cada vez mais garantir a salvaguarda de avanços e dirigir o setor com confiança.

É certo que aprendemos que planejar e cooperar para melhorar sempre é mais do que uma necessidade, é imperativo para o avanço e sobrevivência no cenário mega competitivo“.

O aprendizado também me remete à necessidade viva e real de pensar e agir o turismo de forma sustentável. Me refiro não somente ao meio ambiente natural, matéria prima do turismo; mas, certamente, aos aspectos de valorização cultural, de sobrevivência econômica equilibrada e de valorização dos aspectos sociais de cada destino. Mais do que uma bandeira, a sustentabilidade em todos os seus âmbitos é a garantia da existência do turismo daqui frente, aliás, de nossa sobrevivência como espécie aqui pelo planeta.

A pandemia é, segundo estudos diversos, um reflexo do desequilíbrio ambiental que vem de desmatamento, de queimadas, de lixo, dos impactos de nossa vida cotidiana que desestabiliza o habitat e contribui para a proliferação de vírus, bactérias e outros seres invisíveis que trazem contágio de animais para seres humanos (exatamente o que estamos vivendo). E isso pode se repetir, possivelmente de formas que não esperamos e que não estamos preparados.

Turismo e sustentabilidade são conceitos e vivências já inseparáveis, como estamos praticando em nossas empresas e destinos? Será que os viajantes irão aceitar paisagens sujas, águas contaminadas, culturas destroçadas e sociedades tão díspares e inconstantes? Quando essa será, de fato, a principal bandeira do turismo brasileiro na prática?

Estamos vivendo nesse planeta como se nós tivéssemos algum outro para ir”. Terry Swearingen, enfermeira e ganhadora do Goldman Environmental Prize em 1997

PRIMEIRO PASSO: RESTAURAR A CONFIANÇA

Photo by Joshua Hoehne on Unsplash

Diariamente tenho lido muito conteúdo sobre o que está ocorrendo no mundo do turismo durante a pandemia, desde ações e exemplos interessantes de iniciativas imediatas, até planos para a retomada depois do fim da pandemia. Tenho percebido que talvez não exista uma data em que todos ficaremos aliviados e possamos dizer: bom, de hoje em diante a vida chegou ao novo normal. Isso pode gerar certa ansiedade, mas sinto que, se a retomada for gradativa como já imaginamos, com fases distintas e de forma específica em cada destino, região e país, devemos nos preparar uma longa fase de adaptação e período incertezas. Imagino que a cada etapa novas informações, insights e ações farão parte de um cotidiano bastante impreciso.

Certamente isso não é motivo para achar que não podemos ser otimistas, pelo contrário, há que enfrentar a realidade tal qual ela se apresenta e enfrentar os desafios de forma destemida e agradecendo pelo novo que se impõe. São muitas variáveis que não estão em nosso poder de ação direta, e mesmo assim somos os mestres de nosso destino, seguramos a cada dia o que for possível e no dia seguinte insistimos em segurar novamente as mudanças e enfrentar cada adversidade. Para nosso negócio, o turismo, entendo que a restauração da CONFIANÇA será o ingrediente mais importante, e ela ocorrerá de diferentes formas. Estudos já mostram que as pessoas vão optar por viajar por perto, dentro de seu país, e secundariamente dentro de seu continente. Conta aqui a confiança em nossa marca, em como estamos agindo agora e como seguiremos na percepção do cliente depois que ele decidir voltar a usar nossos serviços.

Nenhum exercício de adivinhação ou futurologia adianta agora. Minha perspectiva é ler muito, ouvir muito, aprender com a experiência de outras empresas e outras países, e entender nossa realidade para poder me ADAPTAR ao que vem pela frente. Usar toda a capacidade de análise baseada em alguma experiência já existente para somar aos conhecimentos e experiências de outros colegas no pensar e agir de forma conjunta.

Minha sugestão? Que o setor de turismo trabalhe a restauração da confiança mas viagens diante nos novos cenários, primeiro vem a confiança em viajar, que diz respeito a todos da indústria de viagens e turismo. Estamos todos dependendo disso para que cada um cuide de seu negócio e busque seus clientes. A volta da confiança ainda depende da evolução da pandemia em cada lugar e, num segundo momento, de como nossa indústria irá enfrentar novas demandas por medidas de segurança sanitária que deixarão as pessoas tranquilas e prontas para aproveitar suas viagens. Acredito muito numa ação conjunta de empresários e governos para preparar uma comunicação eficiente no sentido de esclarecer as pessoas sobre a confiança em visitar nossos destinos. Destacando: primeiro virá a necessidade de passar tranquilidade às pessoas de que elas podem viajar, e aí cada empresa e serviço entrará em ação para mostrar seus diferenciais e as vantagens de suas marcas. No momento correto, a marca de nossa indústria deverá trazer o valor de CONFIANÇA de volta, todos juntos vamos precisar garantir o direito e o desejo de viajar.

3 PISTAS do que pode mudar nos destinos pós pandemia

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Ainda na linha do nosso último post sobre 5 temas que podem mudar no turismo, pensei em compartilhar algo mais amplo sobre os destinos turísticos. O que pode ajudar agora a mantê-los na mente do consumidor e quais podem ser as novidades no comportamento do futuro turista que irão exigir um pensar e fazer diferente nos lugares que serão visitados depois da pandemia.

1. Leva vantagem o destino que já possui conteúdo e ferramentas prontas e à disposição do cliente: no momento atual, vemos muitos destinos mostrando seu potencial, seus atrativos, suas experiências e enviando a seguinte mensagem aos potenciais clientes: fique em casa agora, e quando você puder viajar veja o que está lhe esperando aqui. Como as pessoas estão passando mais tempo na internet, não só trabalhando mas usando-a como ferramenta de entretenimento, além de buscar receitas de comidas, aulas de exercícios em casa, visitar museus e fazer treinamentos on-line, também existem pessoas sonhando com sua próxima viagem (mesmo que isso ainda esteja longe de uma data ou um destino mais concreto). Pesquisas mostram que está distante o momento de definir sobre viagens domésticas e muito menos as internacionais. Entendo que levam vantagem agora aqueles destinos que já possuem uma boa estrutura de conteúdo on-line, com sites, redes sociais e ferramentas que disponibilizam tours virtuais (vide os museus). Agora é manter-se na mente do cliente, produzir conteúdo, fortalecer a marca e se preparar para o futuro. Se o seu destino ainda precisa melhorar a comunicação on-line, dá para aproveitar esse momento para se organizar e preparar um super projeto para quando as pessoas buscarem lugares para visitar.

2. Possivelmente, quando as pessoas voltarem a viajar, suas exigências com questões sanitárias, de saúde e segurança serão maximizadas. Aqui trata-se de uma exigência mais ampla do que medidas de higienização em aeroportos, restaurantes, hotéis ou meios de transporte. Vejo o aumento da imposição de um turista em relação à sustentabilidade geral do destino, de seus recursos naturais, do respeito à cultura local, da valorização da experiência autêntica e, sobretudo, de um engajamento cada vez maior entre o visitante e o morador local. O turista poderá desejar cada vez mais ser um local temporário, como sempre falo, um morador temporário. E isso irá demandar novos tipos de relacionamento entre a comunidade local e os visitantes; não serão somente os profissionais de turismo diretamente ligados ao setor os protagonistas das experiências, mas sobretudo os que vivem nos destinos turísticos. Cuidado! É preciso preparar as comunidades para evitar preconceitos, medos e atitudes que possam mostrar receio em relação à permanência de “estranhos” vindos de fora….

3. O turismo será cada vez mais uma relação humanizada em todas as etapas da viagem. Todas as mudanças por que estamos passando, e ainda nem temos como avaliar quais impactos terão no comportamento das pessoas, têm um potencial de uni-las mais, fazê-las protagonistas de sua vida e aumentar a solidariedade e o sentido coletivo da vida em comunidade. Ora, se o turista quer ser um morador temporário, se ele está preocupado com a comunidade que visita, se quer interagir com ela, então sua relação será ainda de mais proximidade. Desde a preparação da viagem, em todas as fases da jornada do viajante sua participação tende a ser mais independente, exigente, comprometida e humanizada. Imagino que as tecnologias terão um papel primordial nesse cenário futuro; se hoje o mundo vive uma aceleração do uso e conhecimento de tecnologias para se adaptar ao isolamento, depois desse período muitas experiências sairão de dentro de casa para encontrar com possibilidades de experiências fora de casa.

Ainda poderíamos falar de como o marketing de destinos será no pós pandemia, ou ainda sobre o papel dos intermediários nos futuros processos de compra das viagens. Muito há que acompanhar, esperar, entender e pensar de forma diferente, de outros ângulos. A mudança ainda é nossa única certeza, então, vamos ver como ela vem, vamos nos adaptar e usar nossos talentos para revolucionar esse setor que tanto pode ajudar o mundo a se recuperar após essa pandemia.