Os milagres da quarentena

por tati Isler

As tragédias nós já sabemos, estão estampadas por todos os lados e também fazem parte do nosso dia a dia. Mas e os milagres? Me deu vontade de compartilhar os que eu experimentei e ainda experimento. E que não teriam acontecido tão depressa não fosse essa experiência surreal que estamos vivendo.

Bem, o primeiro milagre é estarmos vivos. Não apenas como pessoa física mas como pessoa jurídica. E empre foi assim mas agora ainda mais claro: até quando não sabemos…afinal, nós da indústria do turismo somos uns dos mais afetados pela crise. Eu, como empresária da indústria do turismo, me mantenho ativa, mas a sensação é que tenho que salvar cada vez mais energia financeira para fazer os negócios sobreviverem. É como se tivess que colocar a empresa no modo avião (curioso, outro setor extremamente afetado), para continuar com bateria até que a gente consiga de novo plugar a empresa na energia elétrica financeira.

Mas fora os milagres da sobrevivência, o que vocês estão fazendo que nunca fizeram antes? Pra mim foram muitas descobertas ou ainda confirmações. Eu sempre tive a impressão – e experimentei isso antes mesmo da pandemia – de que podemos trabalhar de qualquer lugar. Pode haver exceções claro de acordo com o tipo de negócio. Mas infinitas profissões podem ser realizadas de casa ou fora de um ambiente ortodoxo de trabalho, e com horários  produtivos acomodados às suas características. A produtividade não cai, muito pelo contrário. Tem gente que adora ir para o escritório, e encontrar a equipe pessoalmente tem outro impacto mesmo. Mas há três meses estou separada de corpo físico da minha equipe e nunca me senti tão próxima de todos. Eu passei dois meses trancada na minha casa em São Paulo, depois peguei minhas três gatinhas e vim pra uma casa em Ubatuba no meio do mato, e o trabalho aqui rende como em qualquer outro lugar.

Eu também saí mais e mais do armário em relação a minha espiritualidade. Nunca foi um segredo. Mas a minha disposição em compartilhar as ferramentas que tenho virou uma necessidade. As pessoas me pediram e como dizer não nessa situação? Então eu tive que sair da minha zona de conforto e ir pros canais que tinha, a mídia social, pra contar pras pessoas uma forma menos sofrida de passar por tudo isso. Engraçado, eu que há muito tempo saí do armário em relação à minha sexualidade, muito antes da maioria, também estou fazendo isso nesse outro campo. Pra mim, acho que esse campo, a espiritualidade, é um dos campos mais privados, em que as pessoas se sentem mais intimidadas em se colocar.

E o mais louco de tudo isso é que, organicamente, montamos um braço da empresa especializado em viagens pra dentro, usando a meditação como um veículo. Mais um milagre: enquanto tantas portas se fecham, abrimos um grande portal.

Mas tudo isso pra dizer que tem uma coisa muito linda acontecendo, que já acontecia, mas que está muito mais profunda. As parcerias, os apoios, as ajudas, os acolhimentos…isso na área profissional também. Vejo na indústria do turismo, não só no Brasil como no mundo todo, já que todos nossos clientes estão fora do país, uma vontade de se unir pra manter um trabalho e uma atividade que amamos. E mais do que amamos a atividade, amamos uns aos outros. Amamos a oportunidade de nos relacionar, de trocar, de rir, de reclamar, de estarmos juntos. E o que pudermos fazer pra que a indústria e essa amizade tão linda sobreviva, nós faremos. Não é pela grana, não é pelo sucesso, é apenas por amor mesmo. Amor pela profissão, amor por viajar, amor pelo planeta, amor de uns pelos outros. E esse pra mim é o grande milagre na quarentena. Mostrar tão claramente o que é mais importante, o que é mais essencial.

Legado da SAA continua

A minha historia profissional no turismo caminhou lado a lado com a SAA, desde 2004, quando comecei a representar o South African Tourism no Brasil.

E pra mim, pessoalmente, é muito estranho imaginar que não temos mais os voos diários da SAA unindo Brasil e África do Sul sem escalas. É, na minha sensação, o fim de uma Era.

Mas o papel que a SAA teve na conexão não apenas de dois países, mas de dois continentes – América do Sul e África – nunca será apagado da História.

A SAA foi muito mais que uma cia aérea. Ela fomentou negócios, desenvolveu parcerias,  criou novas realidades. SAA foi o motor que há 50 anos impulsionou a interação entre povos, culturas, países.

O papel exercido pela SAA não será em vão. O legado dela continua, e a conexão entre os continentes será cada vez mais intensa, pelas asas da Latam, Taag e tantas outras empresas que atenderão a crescente demanda. 

Desde que trabalho o destino, passamos de 13 mil, em 2003, para 80 mil brasileiros na África do Sul no ano passado. A história entre Brasil e todo o continente africano está apenas começando. Afinal, temos mais de 100 milhões de afro descendentes no país e lá estão as nossas raízes.

Mas queria acima de tudo prestar uma homenagem aqui a pessoas incríveis que tive a oportunidade de conviver e trabalhar em parceria, como Nelson de Oliveira, Erik Sadao, Altamiro, Kadu e toda a equipe que passou e ainda está na SAA. Foram anos inesquecíveis e infinitos projetos lindos realizados juntos, sempre com muito companheirismo e respeito.  A gente vai, com muito orgulho, continuar o trabalho da SAA, levando os 50 anos de história da empresa no Brasil no coração.

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FEliz Ano Novo!

Essa época do ano gera controvérsias sobre ser ou não uma época boa para se viajar. É um período quando todos viajam, então é mais caro ou lotado. Mas existem aspectos desta época que me agradam muito. O principal deles: tudo pára! Como dona de empresa, não existe fim de semana, férias ou feriado em que eu não esteja disponível para qualquer assunto de trabalho. Existe sim flexibilidade de horário. Mas não aquela mensagem automática que te isenta de respostas.

Mas no final do ano, estando ou não disponível, ninguém aparece pra falar de trabalho. E ISSO NÃO TEM PREÇO! Então apesar das muvucas, do trânsito, dos preços…eu amo essa época.

E apesar de sempre haver exceções, costumo ir com Julia para Ubatuba, onde conseguimos sossego mesmo na loucura, com o conhecimento de 50 anos da região. E também acho que nada melhor que uma praia para agradecer o ano que se foi e abençoas o que entra. Então quero desejar um 2020 maravilhoso para todes e postar alguns momentos deliciosos das nossas férias!

Amor entre espécies

Mais uma dose, por favoR

Alguns lugares por onde passamos, nos marcam de uma forma mais profunda do que imaginamos. Plantam raizes dentro da gente e – muitas vezes sem perceber – vire e mexe estamos voltando pra eles.

Esse pedacinho da Bahia chamado Santo André, é assim pra nós.

Conheci esse lugar há dois anos e cá estou pela quarta vez. Foi Tati quem me trouxe e antes de me apresentar, já tinha vindo um par de vezes: “acho que você vai se apaixonar”, ela murmurou quando a balsa encostava na ilha…

Não há nada específico de especial aqui: é lindo e relaxante como todos os lugares que conheço deste estado mágico baiano. Mas há algo em geral de muito, muito especial… hahahahahaha! 

A hospitalidade da Léa, o frescor e carinho da comida bem feita da Niki, as mãos ayurvédicas do Val, o encontro de Iemanjá e Oxúm na ponta do Rogério, as perfeitas bicicletas meio enferrujadas do Juarez, o traslado cheio de histórias, receitas, paradas pra comprar côco, manga, cacau e tantas risadas com o seu Osmar.

Talvez a longa praia deserta no amanhecer com água quente, favoreça Santo André. Talvez a luz do entardecer que deixa o céu sobre o rio azul e rosa.

Ou a revoada de maritacas indo passar a noite na olha da frente. 

Seja como for, Santo André, te amamos demais.

Chegou menorca

Se quiser saber quantos tons de branco existem, pergunte a um esquimó.

Se quiser saber quantos tons de turquesa existem, pergunte a um menorquín (pessoa que nasce em Menorca).

Nós já vimos uma meia dúzia de praias e ainda não nos conformamos com as cores e tonalidades da água do mar!

Menorca tem 197 (sim, é um absurdo) praias, de areia e de pedra. A água é sempre cristalina, então dá pra ver vários peixes antes mesmo de colocar a máscara de mergulho. E a paleta alucinante de turquesas e azuis se deve às algas, plâncton e diferentes profundidades do oceano perto da costa. Uma combinação de fatores que deixa minha bandeja de aquarela com 42 cores, insuficiente pra retratar o que nossos olhos vêem.

Macarella
Galdana
Cala en Brut
Nossa amiga corajosa
Cavalleria
<3
C

Partiu menorca

E lá vamos nós! Rumo a uma ilhota, com a promessa de ver mais uma vez os tons turquesa do mar que tanto amamos.

Claro que o universo, como sempre, fez uma brincadeira com a gente: Tati comprou uma bolsa maravilhosa ontem e quando entramos no avião agora há pouco… vejam na foto que demais! Hahahaha!

Partiu Menorca! Já já contamos sobre essa preservada Ilha Balear!

O amor está no ar, literalmente!

Belém pelo esTôMago…

Fui a primeira vez a Belém, 20 anos atrás. Eu já gostava de apreciar sabores, mas ia comer onde quer que fosse e obviamente não me lembrava, às vésperas de voltar pra lá, nenhum lugar em que comi naquela época. Me lembrava apenas de ter comido muita caldeirada de patas de caranguejo, que por alguma razão misteriosa e trágica, não se encontra mais na Capital paraense (eu procurei em todos os cardápios que tive em mãos).

Então pedi sugestões a duas paraenses, que recomendaram – em matéria de gastronomia – nada diferente do que se encontra pela internet, justamente porque são unanimidades: Remanso do Bosque, Remanso do Peixe, Manjar das Garças, Amazon Beer (fica na Estação da Docas e a versão com Bacuri é espetacular, Tati tomou duas e ainda comprou pra levar pra casa!) e a obrigatória Sorveteria Cairu (tem varias pela cidade e recomendo o sabor “mestiço”, de tapioca com açaí, singular!).

Mas tenho duas dicas preciosas que não vi por aí em nenhum lugar: a feira da 25 e a Dona Fátima.

A Feira da 25, é um mercado Ver-o-Peso em menor escala e frequentado pelos locais, não pelos turistas. Qual a grande vantagem? Não é cheio de oportunistas que vendem as coisas mais caras para os turistas, é mais seguro pq não tem o trombadinhas todos do Mercado e alguns produtos são até de melhor qualidade porque os locais sabem diferenciar o ótimo do regular… coloque no Google Maps “Feira da 25” que ele te mostra onde é e os dias/horários de funcionamento.

A Dona Fátima é uma senhora que faz bombons de castanha e de cupuaçu sob encomenda: então vc compra estas iguarias fresquinhas e não feitas há uma ou duas semanas. Muito mais saborosos e se for comprar em grande quantidade, estarão gostosos mesmo que você leve um bom tempo para consumir todos. Liga pra ela assim que chegar pra fazer sua encomenda e ela te diz quando e onde ir buscar (liguei numa quinta à noite e estavam prontos sábado de manhã): (0XX91) 32245706.

Em Belém pela primeira vez!

Estávamos celebrando meu aniversário fora de São Paulo este ano, quando a Julia me perguntou? “Você já foi pra Belém?” Ela tem mania de fazer isso. Quando estamos viajando, ela se anima tanto, que começa a pesquisar próximos destinos.

Bem, minha resposta foi não. E depois dela dizer “não acredito, você tem que ir. Com o paladar que você tem. Vai provar frutas e sabores que jamais experimentou!”. Pegou o iPhone dela, negociou datas comigo e apertou enter!

E aqui estou! Quer dizer, estamos! E como estou? Enlouquecida pelos sabores. Nunca experimentei tanta riqueza de excentricidade de gostos. E revivendo sabores de infância, pois descobri que a alfavaca e o coentro de Ubatuba (que aqui se chama chicória) são os temperos básicos do tucupi.

E as frutas…são de enlouquecer. Mas no meio de tanta diversidade, no meio de cupuaçu, cajá, taperebá, graviola etc, uma se revelou vencedora na preferência do meu paladar: o bacuri! Eu nunca vi nada parecido. É saborosíssimo, exótico e ao mesmo tempo suave e aveludado. É, pra mim, o sabor vencedor dessa experiência gastronômica enlouquecedora de Belém.

Eu duvido que exista em qualquer lugar do mundo a variedade de sabores e texturas que encontramos aqui. E o bacuri vai comigo pra eternidade.

Esse texto foi só pra expressar a minha perplexidade com a riqueza de sabores de Belém. Julia logo dará dicas do que comer e onde comer.

Até breve!

Doce de Bacuri!

a comilança em noronha

Que Noronha seja um desbunde para os olhos, isso é fato amplamente conhecido.

Mas tivemos a deliciosa surpresa de encontrar uma ilha em que a comida também aguçou nosso paladar.

A primeira dica, de longe é o Cacimba do Padre. Voltamos algumas vezes, por isso podemos recomendar o polvo, a moqueca de lagosta e os demais pratos de peixe. Todos com tempero feito na medida e fartos – boas lembranças do ceviche de entrada também. Talvez tenhamos dado sorte, mas tudo que comemos foi incrível.

O Bar do Meio nos fez um arroz de polvo incrivelmente macio, bem temperado, leve, fresco… hummmmm! Fora que ali se tem uma das melhores vistas para o por do sol da ilha.

O Mergulhão, no Porto, nos encantou com seu sashimi de Albacora. Como o restaurante fica no alto e as águas do Porto são Esmeralda claro, é uma experiência soberba ter aquela vista à frente dos olhos e aqueles sabores todos na boca, tudo ao mesmo tempo.

Também fomos conferir o famoso restaurante da Pousada Zé Maria. Muitos nos deram a dica de não optar pelo festival pois o custo beneficio deixava a desejar. Então pedimos apenas dois pratos mesmo e estavam corretos, gostosos, mas nada exuberante como no Cacimba.

Nossa última empreitada gastronômica foi no restaurante da pousada Teju-Açu, onde tivemos o mesmo resultado da Zé Maria: comida boa, mas nada que tenha saltado aos paladares.

Voltaremos em breve, Noronha! Ainda faltou metade do cardápio do Cacimba, só isso já um ótimo motivo não? 🙂

Cederberg: a magia de visitar nossos antepassados

Depois de mais de 30 viagens a África do Sul, pensei não ter mais nada a descobrir neste lindo e fascinante país. Ledo engano…pela primeira vez viajando com toda a minha equipe, fomos visitar a região em que viveram os Khoisan, ou ainda os Khoi Khoi e os San: nossos antepassado, os homens das cavernas.

A viagem foi mágica! Era como se eu os avistasse ali. A região está intocada. As cavernas com suas pinturas rupestres estão lá. As chamas de suas fogueiras ainda escurecem a cobertura de suas casas rochosas. E a energia é fascinante. Eu, que adoro meditação, tive experiências únicas, entrando em contato com o silêncio naquela região.

A paisagem é linda. Formações rochosas surpreendentes, que se agrupam em verdadeiras esculturas. Me lembraram os icebergs da Antártica.

O lugar que mais me fascinou, porque Cederberg é enorme, foi o Kagga Kamma Nature Reserve. Ali você realmente sente a energia dos antepassados, como se estivessem presentes. E ainda com direito a safáris para avistar animais que se encontram na região, em sua maioria antílopes, e uma observação das estrelas longe de qualquer luminosidade humana.

E para melhorar nosso roteiro, encontramos pelo caminho deliciosas vinícolas, como a Waverley Hills, totalmente orgânica, com vários vinhos premiados e um Shiraz (CW Reserve Shiraz) de querer levar caixas para casa.

Para chegar, voe até Cape Town. Depois pegue um transfer até Kagga Kamma Game Reserve. São 4 horas de carro. Com parada optativa – mas que eu considero obrigatória –  na vinícola. Os sul-africanos fazem self drive, mas eu não me arriscaria, pois há longas estradas por regiões inóspitas.