Nossas contas até outubro

O ano de 2014 foi atípico, comentam todos.
Realmente a Copa do Mundo FIFA 2014 e as mudanças de cambio são fatores que influenciaram tanto as viagens dos brasileiros ao exterior como a vinda dos estrangeiros ao Brasil.
No caso dos estrangeiros, os meses de junho e julho bateram todos os recordes; de turistas recebemos um milhão e de gastos foram 76% e 46% a mais nos dois meses respectivamente. Entre janeiro e outubro ainda temos um crescimento de 6% em relação ao mesmo período do ano passado, mas com exceção dos meses da Copa e de maio (+1,8%), todos os demais meses foram negativos para a entrada de dólares no país.
As viagens dos brasileiros tiveram uma alteração de período, substituindo em parte junho e julho (até o final da Copa) por agosto; e um gasto 2,42% superior entre janeiro e outubro desse ano em relação a 2013. Mesmo assim nosso deficit é de quase 16 milhões de dólares até outubro de 2014.
O mês de outubro já mostra uma diminuição dos gastos dos brasileiros na ordem de 8% em relação a 2013, mas segundo alguns agentes do mercado, as pessoas continuam viajando e gastando menos.
O lado bom da história? Provavelmente um maior interesse em viajar dentro do Brasil e um pequeno empurrão na vinda dos estrangeiros ao Brasil, será?

Destination ou destiny

DESTINATION, seu destino, o lugar aonde você está indo. Você sai de sua cidade de moradia para trabalhar, participar de um congresso ou feira, tirar férias, descansar, ficar com a família, ir à praia. Ou ainda, você faz um tratamento de saúde, uma peregrinação. Enfim, você sai de casa e vai ser um morador temporário em outra cidade ou país por diversos motivos. Você é um turista se dormir pelo menos 1 noite e até 1 ano nesse lugar.

DESTINY, o que vai acontecer no futuro com você, algo que você não controla ou que não pode mudar por vontade própria. Uns acreditam, outros menos… Seu destino é você que constrói também não? Suas atitudes, metas, planos, opções de vida. Afinal nem tudo é tão solto ou imprevisível se você traça rumos e faz opções baseadas em seus valores e desejos de estilo de vida.

Esse pequeno trocadilho é somente para uma reflexão. Será que estamos somente vendendo ou promovendo uma feira, uma praia, uma visita, um tour, um hotel, uma paisagem para uma fotografia ? Ou deveríamos vender tudo isso e ainda, um tempo com seus filhos, alguns dias de namoro com sua esposa ou com seu namorado, dias de sol que recarregam as energias, cachoeiras que limpam a alma, florestas que silenciam a alma, uma cultura muito diferente da nossa, uma experiência que vai me transformar ?

Por que seu destino é escolhido ?

Afinal quando estamos falando de marketing de destinos turísticos temos que responder a essas perguntas: o que só seu destino tem? Quais seus diferenciais? Seus valores únicos?
Não é uma tarefa fácil, sobretudo porque hoje não são os destinos que falam sobre si, são os viajantes, os turistas. Também não é um problema do destino ou dos governos, é um desafio para todos os atores do negócio.
É o resultado da experiência dos turistas, suas imagens, vídeos, comentários, críticas, vivências e sonhos que se transformam em publicidade do destino.
O papel do setor público e dos empresários? Conteúdo, conteúdo e conteúdo. Deixar à disposição dos viajantes todo tipo de informações, detalhes, dicas e desejo de visitar seu destino como forma de prover todas as condições para que, ao buscar informações, os turistas encontrem o que procuram.
Tarefa complexa que exige estratégia, recursos humanos e financeiros, além de muita parceria entre gestores públicos e empresários.

Virando do avesso o MKT

Nosso espaço de debate no portal Panrotas passa a se chamar MKTDestinos.

Adoro o tema e estou empolgada em poder compartilhar mais experiências, informações e tendências sobre como os destinos estão trabalhando sua atração de turistas. Seria isso ?
Acho que não… talvez o foco seja como os turistas, (oppssss) os viajantes, estão falando sobre suas experiências durante suas viagens. Melhor assim.

Apesar de não poder e não querer jogar fora toda a experiência na área de marketing de destinos acho que chegou a hora de virar do avesso, de pensar e agir de forma totalmente diferente na comunicação entre destinos, empresas, intermediários e seus clientes, os viajantes.

Vamos juntos nesse novo desafio, vou adorar receber idéias, exemplos e informações dos leitores do Panrotas.

De olho nos destinos: Magazine Azul #16

De olho nas novidades que as revistas de bordo estão trazendo.

IMG_8675

A edição da Revista da Azul de agosto está super interessante, comento alguns dos conteúdos ligados a destinos turísticos e produtos importantes do mercado nacional e internacional.

A edição é de agosto, mas está muito boa, provavelmente você não vai encontrar nos aviões, mas pode acessar: http://www.azulmagazine.com.br/v1/

1. Novo voo para os EUA: a empresa destaca os novos voos para Miami e Orlando, apesar de não serem destinos novos refletem a procura pelos brasileiros e a oferta de novas opções de voos. Ainda faltam as autorizações das autoridades aeronáuticas do Brasil e EUA para iniciar as operações

Azul Florida

2. Lençóis Maranhenses: Destino falado mais ainda pouco explorado pelos brasileiros. A matéria é encantadora pelas fotos e informações sobre a natureza, a cultura local e detalhes sobre como chegar, onde ficar, comer e o que é importante levar para a viagem.

Lençóis

3. Tiradentes, MG: Abre o apetite ao falar da capital da Boa Mesa. Minhas está cada vez mais inserida em roteiros gastronômicos aliados à história e à cultura. Detalhes de pratos, restaurantes e particularidades locais são os destaques.

Tira

4. Paço do Frevo e Cais do Sertão em Recife: Além de mostrar essas duas novas atrações de Recife, faço meus os encantamentos do autor da matéria. Vale muito à pena, são espaços que falam da história, que permitem a interação e não devem nada a museus importantes de todo o mundo. Especialmente o Cais do Sertão é imperdível. Aliás toda a região do Marco Zero no chamado Recife Antigo está repleto de atrações, lugares para comer, um mercado de artesanato divino e uma vista para o mar indescritível.

IMG_7818

IMG_7763

Eduardo e Pedro

A trajetória que vitimou Eduardo Campos, Pedro Valadares e outras cinco pessoas consternou o Brasil.

Minha homenagem vai a esses dois amigos, Eduardo e Pedro, porque acreditavam num Brasil melhor e mais justo, porque acreditavam no turismo.

Lembro de reuniões dos governadores do nordeste, lideradas por Eduardo Campos para tratar de ligações aéreas, PRODETUR, integração da região, apoio aos estados menores da região. Todos presenciam o trabalho de promoção do estado de Pernambuco nos últimos anos, a realização de algumas edições da BNTM com muito sucesso, o discurso e o investimento em ações para melhorar a infraestrutura e a promoção do estado.

Recordo de Pedro Valadares Secretário de Sergipe e Presidente da CTI Nordeste, buscando voos para Aracaju, pedindo um finger para o aeroporto, integrando todos os estados nordestinos, buscando inovar no trabalho de promoção da região e na parceria com o setor privado e público.

Essas não são palavras dirigidas a pessoas que nos deixaram prematuramente, são o testemunho de que existem pessoas decentes, sérias, comprometidas com o turismo e com o Brasil. Ficam as memórias, as histórias e os contos, as realizações. Fica o exemplo e a coragem de seguir com esperança, fica a saudade da energia e do comprometimento dessas pessoas que tanto se dedicaram ao turismo. Pessoas que acreditaram no turismo como política pública. Obrigada Eduardo, obrigada Pedro.

Gastos aqui e lá fora

Os dados divulgados pelo Banco Central sobre receitas e despesas do turismo no Brasil mostram comportamentos diferentes na série histórica por causa da realização da Copa do Mundo FIFA.
Os gastos dos brasileiros no exterior foram negativos no primeiro trimestre do ano, mas com forte recuperação no mês de abril (+11%). A média anual de janeiro a maio está praticamente zero (+0.8%).
Os gastos dos estrangeiros no Brasil também são bastante negativos no período de janeiro a abril, com uma pequena recuperação em maio (+1,81%). Mas o BC indicou grande crescimento em junho na prévia apresentada, mas a média no ano ainda está negativa (-6%).
As perspectivas são de aumento ainda dos gastos dos estrangeiros no Brasil nos meses de junho e julho, efeito direto da Copa. Provavelmente o inverso será verdadeiro, ou seja, nesses meses o gasto dos brasileiros no exterior deve cair. O ponto de atenção será o segundo semestre, até agora sem indicações de que o efeito Copa irá se prolongar.
Os brasileiros já mostram sinais de que irão viajar bastante após a Copa, segundo estudo da FowardKeys/ Pires&Associados.

Eventos esportivos trazem mais turistas?

Além de estar acompanhando a realização do Mundial da FIFA aqui no Brasil, e das experiências na Alemanha e na África do Sul, tenho lido e estudado muito sobre os impactos desse evento no turismo dos países sede. Estou trabalhando na minha tese de mestrado em turismo exatamente sobre o aumento do número de turistas no Brasil em 2014.

Compartilho algumas considerações do estudo realizado por Fourie & Santana-Gallego chamado “The impact of mega-events on tourist arrivals”. Os autores aplicaram uma metodologia para entender os resultados de diversos eventos esportivos mundiais sobre as chegadas de turistas, e as principais conclusões são:

1. A hipótese de que os mega-eventos esportivos aumentam o número de turistas não pode ser rejeitada, depende da realidade do país e de alguns fatores

2. Em média, os eventos esportivos aumentam as chegadas em torno de 8%, durante o ano de sua realização (não somente no período do evento)

3. Os eventos que trazem maior impacto positivo ao turismo são as Olimpíadas de Verão e a Copa do Mundo FIFA, secundariamente o Mundial de Cricket e o Lions Tour

4. O número total de visitas a um país que recebe as Olimpíadas de Verão e a Copa do Mundo FIFA tende a ser maior quando os eventos são realizados em períodos de baixa estação. Quando estes acontecem na alta estação a tendência é diminuir as chegadas

5. Os impactos antes da realização do evento são significativos, o que pode explicar os resultados ruins das previsões pós eventos

O estudo realizado pela FowardKeys em parceria com a Pires e Associados mostra que até dia 10 de junho, as reservas para chegadas internacionais no Brasil aumentaram 1,6 vezes para os meses de junho e julho; e 2,4 vezes no períodos do Mundial (6 de junho a 13 de julho). Para saber mais entre aqui.

Estrangeiros na Copa

Estamos no início da Copa do Mundo FIFA e o estudo realizado pela Pires & Associados em parceria com a FowardKeys na Espanha traz dados sobre as reservas aéreas dos estrangeiros para o mundial. Os dados são coincidentes com o volume de ingressos vendidos pela FIFA, e ainda verão mudar com as futuras definições de chaves de jogos.

Por enquanto temos os seguintes resultados:

Destaques:

  • As reservas internacionais aumentaram 2,2 vezes durante a Copa do Mundo de 2014 – total de 392.225;
  • As reservas internacionais para chegadas ao Brasil entre junho e julho aumentaram 1,8 vezes – total de 478.456 .

Principais mercados emissores:

EUA:     81.339 (reservas); 22% (participação); 2,2 (crescimennto)

ARGENTINA:   29.446 (reservas); 8% (participação); 2,3 (crescimento)

CHILE:   19.445 (reservas); 5% (participação); 4,5 (crescimento)

 

Saídas do Brasil – junho-julho 2014:

As saídas do Brasil para junho e julho tiveram uma queda de 9% quando comparadas com o mesmo período de 2013. Na primeira etapa da Copa do Mundo haverá um aumento de partidas do Brasil, enquanto na segunda etapa as saídas ficarão abaixo das registradas em 2013 (-28%) (1). A tendencia é a retomada das viagens internacionais depois do mundial.

Principais destinos dos brasileiros no período:

  • Os Estados Unidos têm a queda mais significativa.
  • Apenas a Argentina e o Chile aumentaram as reservas para chegadas de brasileiros durante junho-julho de 2014.
  • Os EUA, o principal destino, quase duplica a queda média de visitantes do Brasil, enquanto a Espanha é único destino europeu abaixo da média.

Para acessar este e os demais estudos clique aqui: http://pireseassociados.com.br/2014/05/estudo-inedito-revela-o-impacto-da-copa-do-mundo-de-2014-no-turismo-brasileiro/

 

Antes, durante… depois

Volto a comentar uma parte da conversa que aconteceu hoje no Seminário de Turismo da CNC/ O Globo.

Todo evento tem esse “divisor” de águas: antes, durante e depois.

Resumindo, entendo que PARA O SETOR DE TURISMO NO CENÁRIO INTERNACIONAL:

O ANTES, já passou, e acho que o Brasil não conseguiu um posicionamento global para o país, aproveitando as oportunidades de visibilidade que teremos com a Copa. Não temos uma estratégia de comunicação única do país, com uma mensagem que diga ao mundo o que é o Brasil, nossas qualidades ou o que queremos que o mundo saiba sobre nós.

O DURANTE está chegando. E será a opinião dos estrangeiros que virão nos visitar, dos jornalistas e a multiplicação de fotos, vídeos e opiniões sobre o Brasil que poderão levar novas informações sobre nossa riqueza natural e cultural, assim como dos desafios ou problemas que ainda estamos enfrentando. Quando nos conhecem mais aparecem os aspectos bons e os ruins. Espero que o WIFI dos estádios, recepção de hotéis, restaurantes e pontos turísticos funcionem para que as pessoas possam compartilhar suas experiências.

O DEPOIS, tão importante quanto os anteriores, é o momento de reforçar a promoção do país, preparar o ANTES ( quase JÁ) dos Jogos Rio 2016 e tratar de estabelecer uma estratégia de mensagens que desejamos passar ao mundo. Revisar e inovar o Plano Aquarela 2020 para dinamizar e estabelecer novos rumos à promoção internacional do Brasil. Os grandes eventos esportivos não são o fim, mas um passo para avançar no conhecimento do destino.

Sim, e sobre o complexo de vira-lata, favor não confundir os problemas do Brasil, as obras que não estão prontas, as eleições, pois não estou falando disso (apesar de ser este um importantíssimo debate). Estou dizendo que acredito na alma brasileira, no povo brasileiro e em sua capacidade de receber os visitantes. E que problemas e coisas erradas também acontecem em outros países, não é só conosco “porque aqui é o Brasil”.