Pequenas e grandes redes hoteleiras de luxo na Índia estão crescendo rápida e constantemente em comparação a outras redes internacionais. Com uma diferença fundamental: para as redes indianas, o hóspede é sempre e invariavelmente rei – ou, como eles mesmos preferem dizer, “the guest is God”.
Já andava com isso na cabeça desde minha última viagem à Índia, em abril último, mas a ideia ficou ainda mais evidente depois que assisti ao filme “Hotel Mumbai” (que chega aos cinemas brasileiros como “Atentado ao hotel Taj”, e que recomendo muito). Essa máxima comum aos hotéis de luxo indianos aparece repetidas vezes no filme (que é sobre como o papel dos funcionários do hotel Taj de Mumbai foi essencial no salvamento de alguns hóspedes durante os atentados terroristas de 2008).
O senso de hospitalidade faz parte da própria cultura indiana no dia-a-dia, e essa vocação é elevada à décima potência quando o assunto é hotelaria de luxo. Discrição, eficiência, cortesia, antecipação de vontades: tudo isso está ali, o tempo todo, quando somos hóspedes de um bom hotel na Índia. E sempre com gentileza, sorrisos e amabilidade no olhar, de uma forma que acaba frequentemente conectando quase que imediatamente hóspedes ao staff. Não por acaso, funcionários indianos da hotelaria de luxo são frequentemente disputados por grandes redes hoteleiras em outros destinos.
Os investimentos no setor hoteleiro tiveram um boom entre 2005 e 2010, quando muitas propriedades se remodelaram e muitos novos empreendimentos começaram a ser construídos (ainda que haja muito potencial de crescimento, o país recebeu quase nove milhões de turistas internacionais em 2016 contra pouco mais de dois milhões e meio no ano 2000). Desde então, novos subsídios e parcerias são frequentes para estimular tanto a hotelaria quanto o turismo em geral no país e a Índia vive um novo grande momento hoteleiro neste 2019 – incluindo aberturas internacionalmente muito importantes também para o turismo de negócios, como o recém-aberto Four Seasons Bengaluru (em Bangalore).
A hotelaria de luxo no país passou a focar muito na “hospitalidade experiencial”, buscando apelo também junto às novas gerações, introduzindo menu de experiências em seu portfolio e investindo em lounges, práticas sustentáveis e espaços sociais customizados (ou “instagram friendly”, como defendem alguns escritórios de arquitetura e design hoteleiro). O turismo focado em eventos também está redesenhando a hotelaria em alguns destinos que chegam a ver suas reservas crescerem dois dígitos ao ano, incluindo cidades como Varanasi, Puri, Tirupati e Shirdi.
A popularidade do país como destino para turismo de bem-estar também cresce sem parar (um bom exemplo é o hotel Ananda in the Himalayas, sobre o qual falo neste texto aqui) e parte dos hotéis de luxo começa a ver também significativo crescimento no mercado de destination wedding, até então bastante sub-explorado no país.
Algumas experiências hoteleiras que tive no país estão dentre as mais significativas que já experimentei, incluindo estadias irretocáveis em hotéis como The Lodhi em Delhi, RAAS em Jodhpur, Leela Palace também em Delhi, Evolve Back Resorts em Hampi e as incríveis propriedades da Suján Luxury no Rajastão. Da Suján, já conhecia anteriormente o (ótimo) lodge Jawai Leopard Camp e tive o prazer de me hospedar nesta viagem nos excelentes Sher Bagh (no Ranthambore National Park) e Rajmahal Palace, em Jaipur.
No RajMahal Palace, aliás, me hospedei durante uma viagem a trabalho, mas arrisco dizer que foi a mais impecável experiência hoteleira que já tive na Índia. Um hotel de apenas 14 quartos ocupando a antiga residência do marajá, com instalações, décor, amenidades e serviço simplesmente perfeitos (com café da manhã à la carte, chá da tarde à inglesa e lavanderia incluídos em todas as diárias). Dá pra ler minha review completa sobre o hotel aqui.
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