Exatamente um ano depois, estou de volta!
Hey, Panrotas, por gentileza, não remova meu espaço aqui, prometo que serei mais presente e disciplinado, ok?
A propósito, encontrei a jornalista Beatrice Teizen, quanta fofura numa jornalista só.
Registrei a selfie aqui, e fiz meus agradecimentos, afinal, há 6 anos atrás eu sequer sabia o que era um “early checkin”, depois de devorar uma enxurada de conteúdo aqui (obrigado @Luis Vabo, Gabriela Otto, Fernão Loureiro e Augusto Rocha), na Skift e no Phocuswire, eu finalmente acho que aprendi alguma coisa.
Pois bem, acabo de chegar de viagem, após dois dias intensos em São Paulo.
No aeroporto, alguns vôos atrasados, por condição de mau tempo, e logo já vi alguns passageiros putos, reclamando e falando que iriam processar as companhias aéreas.
Fiquei refletindo…
Companhia aérea, já é algo desafiador em todo mundo, dado a pressão sobre custos e pelas diminutas margens de operação.
Já falei aqui a famosa frase do Richard Branson, criador da Virgin Atlantic:
Importante nos recordar, estatisticamente a cada 3 companhias aéreas que abrem no Brasil, duas quebram: Avianca, Itapemirim, Bra, Vasp, Transbrasil e Varig, fazem parte desta estatística.
Quem sobrou? GOL, Azul e Latam.
A Latam entrou em RJ nos EUA em 2020, e conseguiu sair 2 anos depois.
A Azul recentemente renegociou R$ 3B em dívida de curto prazo com seus credores, em um negócio muito parecido com uma “recuperação extrajudicial”, e ganhou fôlego.
E a GOL, como sabemos, está no meio de uma RJ, e recentemente apresentou seu plano de estruturação (veja a íntegra aqui).
Bom, se empreender no Brasil é correr com uma bola de ferro amarrado entre as pernas, empreender no Brasil no setor aéreo, é como se estivesse com duas bolas de ferro.
Permita-me explicar:
Fomos um dos poucos países que não socorreram as companhias aéreas locais, em Portugal o governo injetou grana na TAP, o governo alemão socorreu a Lufthansa e o governo dos EUA colocou US$25 bilhões para socorrer empresas como American Airlines, Delta, United e Southwest na pandemia.
Eu sou bem crítico aos subsídios ou favores do governo para determinadas indústrias, em geral é uma transferência de renda de muitos (do seu dinheiro e do meu dinheiro), que acontece para favorecer poucas pessoas.
Mas para aviação, eu abro uma excessão.
Não precisa ser muito inteligente, pra reconhecer que há uma correlação forte entre número de rotas e aviões no ar, com o PIB e a economia do país.
Fiz uma rápida consulta no ChatGPT sobre o número médio de vôos diários nos EUA, na Espanha e no Brasil, veja:
Estados Unidos: ~50mil vôos;
Espanha: ~ 3.800 vôos
Brasil: 2.490 vôos
Entende como é importante colocar avião pra voar? O país ganha com uma melhor logística, com maior volume de negócios, maior produção de empregos, inclusive gerando efeito deflacionário na economia com redução de custos de frete.
Agora, quer saber qual é a segunda bola de ferro nas pernas das companhias aéreas brasileiras?
Listei algumas aqui:
Alto volume de judicialização
O Brasil é responsável por aproximadamente 50% da receita da Latam, mas 98% dos processos judiciais da empresa, acontecem no Brasil.
No Brasil, uma ação é realizada a cada 227 passageiros, enquanto nos EUA é feito uma ação a cada 1.2milhões de passageiros, saca só este infográfico do Lucas Gomes da Jota.
Há, mas também os serviços aqui são péssimos né?
Errado!
Apenas 3% dos voos ano passado foram cancelados, somos referência mundial em pontualidade.
Cerca de R$ 1B por ano são gastos com companhias aéreas no Brasil com processos judiciais.
Sabe quem paga a conta né?
Adivinhou! você 😉
Dólar alto
Cerca de 60 a 70% dos custos da aviação são dolarizados, e o dólar… bom, você sabe!
Está nas alturas.
Por mais que haja instrumentos financeiros, como hedge cambial para amenizar flutuações, há um impacto grande nos custos, e na maioria das vezes muito difícil de repassar para o consumidor final.
Governo querendo baratear no grito
Eu entendo que o governo não queira ajudar as companhias aéreas, mas daí pra ficar cobrando as companhias aéreas que elas estão “cobrando preços altos”, já é demais.
O Voa Brasil é poético, só não tem nenhum lastro ou conta matemática que suporte ele. Se tivesse algum incentivo para as aéreas, para cada passagem oferecida, algum subsídio adicional em outra rúbrica de despesa, até poderia fazer sentido.
Mas até agora, é puramente, Marketing.
Outra coisa que já deveríamos ter implantado por aqui, são black-lists de passageiros, incrível como tenho visto um aumento de passageiros brigando com comissários por pura bobagem.
Outro dia eu vi uma moça dando um chilique pois não queria descer de ônibus em Congonhas, ela exigia um finger.
E ainda bravejou: “O Brasil é muito ruim, nossa senhora”.
Mal sabe ela, que se ela apronta esta gracinha lá nos USA, ela pode entrar numa black-list e ser proibida de voar.
Ainda este ano, teve um cara que deu show, pois não aceitou despachar a mala, segundo ele, estava sendo prejudicado, ele gritou e ameaçou a aeromoça, de uma falta de educação sem tamanho, a aeromoça ficou lá, quieta, em silêncio, dizendo que estava cumprindo ordens e que o avião estava cheio.
E as pessoas ainda ficam perguntando, quando vai ter companhia aérea low-cost no Brasil, alegando que as companhias aéreas brasileiras são malvadonas e que lucram rios de dinheiro.
A resposta? Nunca!
Modelos low-cost jamais funcionariam no Brasil, por conta da legislação trabalhista e do código de defesa do consumidor.
As low-costs partem de um princício de uma tarifa super barata, mas por outro lado, qualquer outra coisa adicional é cobrado.
Por exemplo, cobrança de impressão de um bilhete, provavelmente os consumidores aqui iriam na justiça alegar cobrança abusiva, e certamente ganhariam.
Já falei aqui, almoço grátis não existe.
A grande verdade, é que as companhias aéreas de fora do Brasil olham pra cá, estudam, analisam e desistem.
Temos um ambiente completamente hostil pra qualquer empresa de aviação.
Nós precisamos ser muito gratos a Latam, GOL e Azul por acreditarem tanto no Brasil e trabalharem na maioria das vezes com grande excelência.
Operar uma companhia aérea no Brasil, e ainda dar lucro (ou pelo menos tentar), é quase um milagre!
Uma salva de palmas para as companhias aéreas que operam no Brasil 👏👏👏