A covid-19 afetará negativamente as metas de redução do plástico de uso único na hotelaria? Pelo menos a curto prazo, sim. A médio ou a longo termo ainda é cedo para dizer, até porque ainda não sabemos o que significa pouco ou muito tempo para o novo coronavírus. Todo ano a Euromonitor International, especializada em pesquisa de mercado, aponta tendências globais de consumo. Para 2020, os “revolucionários da reutilização” (“reuse revolutionaries” no original em inglês) empenhados em encontrar alternativas para produtos de plástico descartável estavam no top 10 de tendências. Era um mundo diferente do atual. Poucos meses depois, com a pandemia, a empresa revisou suas previsões.
Parece que demos um passo atrás na busca por um turismo mais sustentável e os “revolucionários da reutilização” ficaram em segundo plano. Com a covid-19, a prioridade é limpeza, e não redução de plástico descartável na hotelaria. Há propriedades reabrindo com toalhas embaladas em sacos de plástico, assim como controles remoto, talheres, alimentos. Hotéis adicionaram máscaras e luvas descartáveis, em invólucros plásticos, e frascos de álcool gel às amenidades de banheiro. E há os essenciais equipamentos de proteção individual dos funcionários, além de embalagens de produtos de limpeza e desinfetantes usados em quantidades maiores.
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O plástico aumenta a percepção de higiene e passa sensação de segurança sanitária. É barato, leve, fácil de produzir e de limpar. Mas o uso excessivo e o descarte irresponsável poluem os oceanos, matam espécies marinhas, incluindo aves, e fazem mal para a saúde. Reportagens na imprensa europeia anunciaram que conservacionistas franceses recolheram máscaras, luvas descartáveis e frascos de álcool gel no Mediterrâneo. Meio mundo adiante, em Hong Kong, também foram encontradas máscaras no mar. A publicação britânica The Economist destacou que a pandemia de poluição plástica chegou ao Rio Tâmisa, em Londres. Para dar ideia da dimensão do mar de problemas dos plásticos de uso único, as Nações Unidas estimaram, em 2018, que 13 milhões de toneladas de plástico chegam ao mar a cada ano.
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Pandemia x ecologia: as metas de redução de plástico na hotelaria
Como já apontamos aqui, os ajustes por conta da covid-19 na hotelaria de luxo serão menores em várias áreas, inclusive no uso de plástico descartável. Amenidades de banho em embalagens de cerâmica ou de plástico em formatos maiores e não descartáveis, água em garrafas de vidro, sacos de lavanderia em tecido, iogurte em copos individuais de vidro, tudo isso já fazia parte da rotina de vários hotéis. Mas há novos desafios a serem enfrentados. A rede asiática Mandarin Oriental se comprometeu, no final do ano passado, a eliminar o plástico de uso único até 2021. Em maio deste ano, o grupo prestou contas do progresso já levando em conta a covid-19.
Por enquanto, a meta está mantida. Mas o grupo MO admite que novos protocolos de limpeza dos hotéis podem vir a atrasar o processo. O plástico descartável em estoque, como garrafas de água e amenidades de banheiro, vai demorar mais a acabar. A rede também ressalva que está enfrentando dificuldades em convencer fornecedores a mudar procedimentos.
as dificuldades no caminho
O uso de plástico pela cadeia de fornecedores é um obstáculo para qual havia chamado a atenção, antes da pandemia, a reconhecidamente sustentável rede Six Senses. Six Senses, que aboliu as garrafas de plástico na década de 1990, tem o ambicioso objetivo de ser plastic free em 2022.
Para uma propriedade que nasce com a preocupação de ser sustentável, talvez seja mais simples manter distância do plástico. Um hotel inaugurado este mês na Riviera Maya, Palmaïa, The House of Aïa, parte da coleção L.V.X. da Preferred Hotels, anunciou que não terá amenidades de banheiro em embalagens descartáveis nem garrafas de plástico na propriedade.
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O que as redes hoteleiras podem fazer agora
Não há comprovação de que uma garrafa de água de plástico seja mais segura em relação ao novo coronavírus do que uma de vidro. Mas redes hoteleiras comprometidas com o meio ambiente podem se ver obrigadas a aumentar o consumo de plástico de uso único. Na situação excepcional de uma pandemia, ambientalistas dizem que uma das soluções a curto prazo é os hotéis se preocuparem cada vez mais com o descarte correto. EPIs devem ser incinerados. Frascos de álcool podem ser reciclados, ainda que custe mais caro reciclar plástico do que comprar um novo. Consumidores conscientes podem levar a própria garrafa de água e produtos de higiene em embalagens recicladas ou recicláveis. E, na hora de escolher onde gastar o dinheiro, priorizar hotéis que levam a sério a sustentabilidade.
Atualização: Nem tudo é notícia ruim quando o assunto é o excesso de plástico de uso único na hotelaria. Há bons exemplos inclusive no Brasil. Em agosto de 2020, a associação de hotéis e pousadas Roteiros de Charme anunciou que agora faz parte da Global Tourism Plastics Initiative, iniciativa da Organização Mundial do Turismo (UNWTO na sigla em inglês) para reduzir o uso e reciclar o plástico na indústria de viagens.
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