Praia do resort Six Senses Con Dao, no Vietnã

O difícil adeus ao plástico nos hotéis

Somos viciados em plástico no nosso dia a dia. A indústria hoteleira também. É possível um grupo hoteleiro de luxo, com 18 propriedades em 14 países e em expansão, substituir o plástico nos hotéis tanto nas áreas visíveis aos hóspedes quanto nas invisíveis? E trabalhar com fornecedores plastic free? A rede asiática Six Senses pretende provar que sim em 2022. O objetivo é ambicioso. Em uma concorrida apresentação durante a ILTM Cannes (a maior feira de viagens do mercado de luxo, realizada mês passado na França), o CEO do grupo, Neil Jacobs, chamou a atenção para alguns dos obstáculos.

Adeus ao plástico nos hotéis: banheiro de uma suíte do novo Six Senses Kocatas Mansions Istanbul | Foto de divulgação
Banheiro de uma suíte do novo Six Senses Kocatas Mansions Istanbul | Foto de divulgação

Canudos e garrafas descartáveis são apenas a ponta dos icebergs de plástico nos oceanos. Na rede Six Senses, parte do gigante grupo britânico InterContinental (IHG), canudos deixaram de ser usados em 2016. Garrafas de plástico, na década de 1990. Mas como lidar, por exemplo, com fornecedores de alimentos? Reconhecido especialista em sustentabilidade na hotelaria de luxo, Jacobs deixa claro que não há solução fácil.

“A meta de ser plastic free em 2022 é audaciosa. Em alguns países, como no Vietnã, peixes e frutos do mar chegam em caixas plásticas. É assim que funciona a cadeia de fornecedores. Estamos trabalhando com comunidades e autoridades para propor alternativas. Compartilhamos as soluções com outras redes hoteleiras, caso elas se interessem. Sustentabilidade e bem-estar viraram palavras banais. Ativismo é importante. Mas fundamental é como você se comporta. Temos que fazer o que for necessário para tornar o planeta melhor. Você não precisa mudar o mundo, mas faça algo.”

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Adeus ao plástico nos hotéis: uma das 50 villas com piscina e vista para o mar no Six Senses Con Dao | Foto de divulgação
Um das 50 villas com piscina e vista para o mar no Six Senses Con Dao | Foto de divulgação

O Vietnã é um dos grandes responsáveis pela poluição plástica do planeta, o que só aumenta o tamanho do desafio. O Six Senses Con Dao, em uma ilha a 45 minutos de voo de Ho Chi Minh City (a antiga Saigon), completa uma década no final deste ano. É um dos resorts mais sustentáveis do grupo e um dos principais eco-lodges do mundo. O hotel participa de iniciativas para proteção da fauna local e tem 50 pool villas construídas em madeira, com vista para o Mar da China. De lá chega o peixe fresco. Em caixas plásticas.

Ainda na ILTM, Jacobs foi a principal atração de um evento da IHG, no belo InterContinental Carlton, no qual mostrou outros exemplos de que ser plastic free vai muito além de banir canudos e garrafas. Várias amenidades encontradas em banheiros de hotéis de luxo foram apresentadas na versão Six Senses, como escovas de dente em bambu, cotonetes com haste em madeira e embalagens feitas em papel reciclado, tudo com o bom design que se espera de uma rede de eco-luxo.

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Há muito plástico em hotéis, e é difícil se livrar dele. Inclusive para a Six Senses, que tem sustentabilidade no DNA. Plástico é barato, é fácil de limpar, é leve. É conveniente para hoteleiros e para hóspedes. Seria um aliado se não destruísse o meio ambiente (e microplásticos ainda fazem mal para a saúde).

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As dificuldades das grandes redes para acabar com o plástico nos Hotéis

Cada vez mais viajantes de diferentes perfis se preocupam com jornadas sustentáveis. Para a Geração Z, que começa agora a viajar por conta própria, sustentabilidade pode ser inegociável. Semana passada, a publicação americana Skift, voltada para a indústria de viagens, fez uma reportagem sobre várias das dificuldades das redes hoteleiras para se tornarem plastic free. IHG, Accor, Marriott, Hilton, Hyatt, todas já anunciaram prazos, que talvez não sejam alcançados, para acabar pelo menos com os plásticos descartáveis. Em O Problema com as Promessas, as amenidades líquidas são um dos exemplos citados. Se o hotel escolhe uma embalagem maior de plástico, ela irá da mesma maneira parar no aterro sanitário ou, pior, no mar. Se a opção for por vidro, é preciso higienizar e reabastecer, o que demanda logística. É simples? Não. É possível? Sim. É necessário? Sem dúvida. Você pode ler o texto da Skift, em inglês, clicando aqui.

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O longo caminho da hotelaria no Brasil para acabar com o plástico nos hotéis

Se grandes grupos internacionais ainda parecem no começo de um longo percurso, não é diferente no Brasil. Há exceções, claro. Por exemplo, o Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu, tem uma extensa história de ações sustentáveis muito antes de ser administrado pela Belmond. Mas redução de plástico em hotéis brasileiros ainda é algo distante da realidade.

“A venda da água em garrafas plásticas nos minibares nos oferece uma das maiores margens de lucro e não temos planos de mudar”, me disse há apenas alguns meses o gerente geral de um recém-renovado hotel de quatro estrelas na orla da Zona Sul carioca. Mas aqui e ali o cenário brasileiro vai se transformando. Apontamos alguns bons exemplos baianos no nosso texto da semana passada. Ainda que não mude o mundo, é alguma coisa.

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Carla Lencastre

Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Carla Lencastre trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década e conquistou vários prêmios do setor. Em 2020 foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do turismo no Brasil pelo ranking Panrotas+Elo. Desde 2015 escreve para diversas publicações, entre elas O Globo, Panrotas e #Colabora, site de jornalismo independente voltado para o desenvolvimento sustentável, onde assina uma coluna sobre viagens do ponto de vista de diversidade, inclusão, regeneração e sustentabilidade. Ama viajar e anda mundo afora em busca de boas histórias desde sempre. É carioca de mar e bar. Gosta de dias nublados. Está no Instagram e no Twitter em @CarlaLencastre 

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